sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Mitos Sobre o Dispensacionalismo (Part 3)


 

As "Setes" dispensações é sine qua non ao dispensacionalismo

 

Por Incrível que se possa imaginar, ou parecer estranho ao leitor, o dispensacionalismo não é primariamente sobre acreditar em dispensações, ou acreditar em “Sete” dispensações. Isso devido a dois fatores:

Em primeiro lugar, a crença em dispensações é comum a todos os cristãos. O termo grego οἰκονομία “oikonomia” significa: “Administração” e “mordomado”. Em relação a Deus se refere à maneira como ele trabalha e atua com sua criação numa determinada era da história (Ef 1:10). A expressão grega diz respeito “a maneira como o responsável pela manutenção de uma casa dirige as pessoas e assuntos sob sua autoridade”. Consequentemente, como realça Michal Vlach, “Quem não reconhece que a era atual é diferente do novo céu e da nova terra por vir?”. Por ser comum aos cristãos, e por diversos teólogos antes do dispensacionalismo terem enfatizado várias dispensações nos planos de Deus, a crença em dispensações não pode ser uma característica distintiva do dispensacionalismo. Obviamente dispensacionalistas se tornaram famosos por apresentar complexos gráficos que mostravam e especificavam em detalhes os “propósitos de Deus na História”, como por exemplo, Clarence Larkin; “Isso ocorreu tantas vezes que a ideia de “gráficos” muitas vezes acompanha o título “dispensacionalismo” na mente de muitos”, não obstante, como Vlach frisa, “os dispensacionalistas não foram os primeiros a inventar os mapas das dispensações. Vários teólogos mapearam as várias atuações de Deus na história”. Isto posto, por conseguinte, o dispensacionalismo não trata do reconhecimento da palavra grega “οἰκονομία”. Vlach escreve:

“Em última análise, qual estudioso erudito que não acredita que “oikonomia” é um termo bíblico? Reconhecer a palavra “oikonomia” não torna uma pessoa dispensacionalista, nem a definição desse termo nos revela a essência do dispensacionalismo” (Dispensacionalismo, Crenças essenciais e mitos comuns; pag, 88).

Por essa razão Feinberg, na sua obra, “Continuidade e Descontinuidade”, salienta que é um grande erro acreditar que o termo “dispensação” e o ensino “sobre as diferentes ordens da administração divina” surgiu apenas no pensamento dispensacionalista; como também é um outro erro acreditar que o termo “aliança” explica a essência da teologia da aliança, pois assim também não ocorre no dispensacionalismo: “definir o termo ‘dispensação’ não define mais a essência do dispensacionalismo”. 

Em segundo lugar, tradicionalmente o dispensacionalismo tem sido vinculado à crença em “sete” dispensações; Scofield foi quem popularizou tal crença por meio da sua Bíblia de Estudo Scofield. No entanto, outros, são adeptos de quatro[1], oito dispensações, ou outro número qualquer. Portanto, Vlach comenta: “Eu não acredito que é necessário sustentar sete dispensações para ser um verdadeiro dispensacionalista.  Feiberg está correto quando afirma: “o número de dispensações não está no centro do sistema”. Ele conclui ratificando:

"O Estudo das dispensações é um esforço digno, mas eu não acredito que as questões sobre a quantidade de dispensações que existem e como cada uma delas deve ser denominada estão no coração do sistema dispensacionalista".

Curiosamente é digno de nota que autores como Charles Ryrie, Jhon Feinberg, Craig Blaissing e Darrell Bock que se preocuparam por meio dos seus escritos em realçar características definidoras e essenciais ao dispensacionalismo, jamais fizeram menção a ideia de que a crença em “Sete” dispensações fosse algo que estivesse no âmago do Dispensacionalismo[2].

 

As Crenças Básicas que estão no centro do Sistema Dispensacionalista 


Para Michael Vlach, um dos principais proponente do dispensacionalismo, seis crenças básicas estão  no centro de tal sistema, sendo elas:

1: O significado primário de qualquer passagem Bíblica é encontrado na própria passagem. O Novo Testamento não reinterpreta ou transcende as passagens do Antigo Testamento de modo a sobrepor ou cancelar a intenção autoral original dos escritores do Antigo Testamento;

2: Os tipos existem, mas Israel não é um tipo inferior que é suplantado pela igreja;

3: Israel e a Igreja são distintos entre si, assim, a Igreja não pode, por direito, ser identificada como novo/verdadeiro Israel;

4: A unidade espiritual na salvação entre Judeus e Gentios é compatível com o futuro papel funcional de Israel Como uma nação;

5: A nação de Israel será tanto salva como restaurada com um papel singular e funcional em um futuro reino milenar sobre a terra

6: Existem vários sentidos para "semente de Abraão", e assim, a identificação da Igreja como "semente de Abraão" não cancela as promessas de Deus para os crentes Judeus "semente de Abraão" (Dispensacionalismo, Crenças essenciais e mitos comuns; pag, 144).

 




  

Notas

___________________________________________

[1] Vlach entende que 4 dispensações são claramente identificáveis, sendo elas: (1) Adão até Moisés; (2) Moisés até Cristo; (3) A primeira vinda de Cristo até a sua Segunda Vinda de Cristo; (4) O Reino de Jesus após a sua segunda vinda. Convém salientar que independentemente de quantas dispensações for defendida por um dispensacionalista, a salvação sempre ocorrerá unicamente pela graça, por meio da fé.

[2] Pretendo escrever uma série de artigos enfatizando as características essenciais do dispensacionalismo. Cf. a seguir.

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Mitos Sobre o Dispensacionalismo (Part 2)




A Salvação sem Senhorio é algo intrínseco ao Sistema Dispensacionalista

A Teologia do não senhorio pode assumir diferentes formas, mas geralmente é caracterizada pela tese de que o arrependimento e a submissão da vida da pessoa a Cristo, não são necessárias para que haja a salvação. Na obra "A Layman's Guide To The Lordship Controversy", Belcher enumera 6 principais características da teologia do não senhorio, sendo elas:

  1. O Chamado para a salvação e o chamado para o discipulado são distintos;
  2. O crente pode escolher entre produzir ou não produzir frutos espirituais em sua vida;
  3. A falta de frutos espirituais não é sinal de que a pessoa está perdida;
  4. O arrependimento não é uma condição para a salvação;
  5. O conceito de senhorio não é uma condição para salvação mas deveria seguir a experiência de salvação pela fé;
  6. Aqueles que possuem uma verdadeira fé Salvadora podem viver habitualmente em pecado ou mesmo apostatar da Fé.
Gerstner, afirma que o Dispensacionalismo é a causa direta do surgimento da Teologia do não senhorio, não apenas isso, ele também assevera que o Dispensacionalismo declara e aceita que: "[...] uma pessoa pode ter Cristo como Salvador, mas recusa aceitá-lo como Senhor em sua vida". Não obstante, a teologia do não senhorio além de forma alguma ser algo inerente ao dispensacionalismo, a mesma não é resultante dela. Vlach se utiliza de dois argumentos para provar tais fatos ao explicar, em primeiro lugar, que o dispensacionalismo por se tratar primeiramente sobre eclesiologia e escatologia não permite necessariamente quaisquer tipo de conexão entre o tema do senhorio, pois o mesmo faz parte e é um assunto soteriológico. Realmente alguns dispensacionalistas defendem ou possuem claras tendências ao nao senhorio, contudo Vlach ressalta que dispensacionalistas, como por exemplo Saucy, questionam quaisquer tipo de ligação histórica entre a teologia do nao senhorio e o dispensacionalismo ao escrever: "A posição radical do não senhorio de alguns dispensacionalistas contemporâneos, negando a necessidade na salvação de uma 'fé que opera' baseada em Tiago 2. 14-26, nunca fez parte do dispensacionalismo tradicional ou clássico" (The Case for Progressive Dispensationalism). Em segundo lugar, vários Teólogos dispensacionalistas de liderança - incluindo o próprio Vlach - rejeitam explicitamente a visão de não senhorio. Juntamente com Saucy e MacArthur, Vlach tece críticas as obras de Zanes Hodges "The Gospel Under Siege" e Absolutely Free", as quais são, "promoções explícitas da teologia do não senhorio". Estranhamente Gerstner chega a citar Jhon MacArthur contra dispensacionalistas que aderem a teologia do nao senhorio, "No entanto a lógica nesse caso é estranha. Gerstner  menciona o dispensacionalista Jhon MacArthur para mostrar que a visão do não senhorio alegada pelo dispensacionalismo é errada. Porém, em vez de provar o ponto de Gerstner , seu uso de Jhon MacArthur mostra que há diversidade dentro do dispensacionalismo nessa questão e que não há conexão inerente entre o despensacionalismo e a teologia do não senhorio" (Michal J. Vlach). Portanto, uma coisa é você discutir o que tem levado alguns dispensacionalistas aderir tal visão, outra coisa é afirmar e defender que tal teologia é resultado do dispensacionalismo ou é algo inerente a ele.

O Dispensacionalismo está essencialmente ligado ao Antinomismo 

Uma das principais acusações lançadas por vários críticos, como por exemplo: Gerstner, Curtis Crenshaw e Grover Gunn, é a de que o dispensacionalismo está inerentemente ligado ao antinomismo [1]. R.C Sproul, prefaciando a obra de Gerstner "Wrongly Divinding The Word of Truth", escreveu: "Uma das acusações mais sérias que Gerstner faz ao dispensacionalismo é a de que o seu sistema é inerentemente antinomista". O termo antinomismo vem da junção de duas palavras gregas αντί (Contra) e νόμος (Lei). Robert D. Linder conceitua o Antinomismo da seguinte maneira: "A doutrina de que para o cristão não é necessário pregar e/ou obedecer a lei moral do AT". O Antinomismo Teologico é "frequentemente associado ao endosso de um comportamento sem lei" (Robert A. Pyne). Michael Vlach, fazendo referência a obra de Gerstner, apresenta o cerne do argumento a favor da premissa de que o dispensacionalismo é antinomista: "Gerstner acredita que o dispensacionalismo é antinomista por causa de sua afirmação de que o cristão não está sob a lei mosaica, e por sua alegada falta de "compressão das doutrinas de justificação e de santificação da Reforma"". Ou seja, No entendimento de Gerstner o dispensacionalismo como sistema ressalta que "as pessoas podem ser justificadas sem se tornarem santificadas. E isso claramente induz o crente a serem "carnais"". Devido a isso, ele escreve: "todos os dispensacionalistas tradicionais ensinam que pessoas cristãs convertidas podem de fato (não apenas tem permissão) viver em pecado durante sua vida após conversão, sem qualquer risco para o destino eterno delas"; portanto o dispensacionalismo está "comprometido com a doutrina inegociável do antinomismo". Entretanto, Vlach esclarece que "ao contrário do que Gerstner afirma, muitos dispensacionalistas consideram uma conexão inseparável entre justificação e santificação. E muitos não aceitam que uma pessoa possa ser justificada sem também ser santificada. Não só não existe nada dentro do dispensacionalismo que faça com que um dispensacionalista separe justificação de santificação, mas muitos dispensacionalistas vem à justificação e a Santificação como inseparáveis" (Dispensacionalismo, Crenças essenciais e mitos comuns; pag, 88). MacArthur, Donald G. Barnhouse e Alva J. McClain são muitos autores dispensacionalistas proeminentes que fazem coro com Michael J. Vlach nesse entendimento. Em segundo lugar, é correto afirmar que os cristãos hoje não estão sob a lei mosaica, todavia eles não estão sem lei! Os não dispensacionalistas caem em tal erro ao sustentar que os dispensacionalistas rejeitam a "lei moral". Curtis Crensshaw e Grover Gunn na obra "Dispensacionalismo Today, Yersterday, and Tomorrow" escreve: "há um antinomismo inerente ao dispensacionalismo [...] Rejeitar a lei moral, especialmente a lei moral do AT, resulta em um número de consequências. Eles tendem a rejeitar a ideia de que Cristo agora governa pela sua lei (ou, Aliás, qualquer lei) como rei dos reis, alegando isso para um futuro Milênio. Isso, por sua vez, os leva a rejeitar o seu senhorio sobre a salvação e sustentar que se pode ter fé sem obras (a ideia do Cristão carnal). Ou seja, como muito bem resume Vlach "Para eles, os dispensacionalistas rejeitam a lei moral de Deus e consideram que os cristão estão livres para agirem carnalmente". Sobre isso Feiberg comenta: "Alguns argumentam que o dispensacionalismo impõe o antinomismo, visto que os dispensacionalistas alegam que a lei foi abolida, porque Cristo é o fim da lei (Rm 10:4). Embora alguns possam sustentar esse ponto de vista, dificilmente ele é a norma ou os dispensacionalistas precisem dele". (Feinberg, Sistemas de descontinuidade). Logo, como frisa MacArthur, dizer que o Antinomismo está no cerne da doutrina dispensacionalista é um tremendo mal-entendo e consequentemente um erro. É importante salientar o que Vlach tece: "Não estamos negando que certos dispensacionalistas tenham tendências antinomistas (mesmo que não saibamos de algum dispensacionalistas que esteja defendendo uma vida sem lei). Negamos porém, que o próprio dispensacionalismo seja inerentemente antinomista. Um sistema primariamente voltado para a eclesiologia escatologia não pode necessariamente conduzir ao antinomismo". Assim sendo, Vlach conclui: "A afirmação de Curtis Crensshaw e Grover Gunn de que o dispensacionalistas rejeitam a "lei moral" é uma deturpação daquilo que os dispensacionalistas creem". A questão é que estamos sobre uma nova Lei - A Lei de Cristo, através da qual são comunicadas as lei morais de Deus. Strickland e Blaising elucida que a lei de Cristo é normativa nos dias de hoje para o cristão, assim como a lei mosaica era para o judeu. A lei mosaica foi substituída pela lei da nova aliança, ou seja, a lei de Cristo é a contraparte da nova aliança para a lei mosaica. Portanto, O dispensacionalismo de hipótese alguma possui o antinomismo como algo inerente/sine qua non/ ao seu sistema. Acertadamente Millard Erickson discorrendo sobre o dispensacionalismo reforça que a: "lei moral está em pleno vigor[...] embora seu conteúdo exato possa variar". Logo, Feiberg observa que: "Os dispensacionalistas afirmam que o crente está sob a lei de Cristo como descrita no N.T. Como no caso do código mosaico, a lei de Cristo personifica os princípios Morais de Deus eternamente verdadeiros, os quais são exemplificados Em ambos os códigos. Mas, como um código separado, a lei de Cristo exclui os aspectos cerimoniais e civis do código mosaico. O dispensacionalismo não é nem antinomista nem obriga"(Sistemas de descontinuidade). destarte, três pontos precisam ser elencados: 

Em primeiro lugar, a lei moral do A.T tem o seu paralelo na lei de Cristo; 
em segundo lugar, levando em consideração o primeiro ponto, o crente pode conhecer e deve - a lei de cristo é obrigatória para o cristão - viver a vontade moral de Deus. 
em terceiro lugar, mas não menos importante, conforme realçado por Blaising, um dos maiores especialistas na história do dispensacionalismo, a conexão entre o dispensacionalismo e o antinomismo é extremamente exagerada. " Não estou convencido por Gerstner que o antinomismo foi tradicionalmente compreendido como representante do dispensacionalismo".(Dispensationalism: The Search For Definition).





NOTA
_____________________________________________________________

[1] Há alguns que acreditam que existe algum tipo de "Antinomismo Dispensacionalista". Esse termo encontrei recentemente em uma publicação no Facebook.

domingo, 30 de agosto de 2020

Mitos Sobre o Dispensacionalismo (Part 1)



Os Motivos das Falsas Apresentações

No decorrer da História o Dispensacionalismo tem sido associado a determinadas visões que não faz parte ou não são fundamentais para essa Teologia. Autores como Jhon Gerstner, Hank Hanegraaff, Wick Bowman, Wick Bowman, Robert Reymond, Chad O. Brand, Tom Pratt Jr, Keith A. Mathison, J. I. Packer, Robert D. Linder, Curtis Crenshaw, Grover Gunn, Stephen Sizer, etc, apresentaram o Dispensacionalismo de uma maneira que não é verdadeira ou está seriamente fora de moda. Como ressalta Michael J. Vlach:

“Infelizmente, as discussões envolvendo o Dispensacionalismo são frequentemente acompanhadas por dois erros. O primeiro é o Dispensacionalismo vinculados com assuntos que realmente não estão relacionados ao Dispensacionalismo [...] O segundo erro envolve o tratamento de crenças secundárias do Dispensacionalismo como se fossem fundamentais e de considerar a validade do Dispensacionalismo com base nessas crenças”

Algo que Vlach também entende como sendo uma das razões de muitos não-dispensacionalistas errarem ao avaliar o Dispensacionalismo, é o fato de que a maioria dos críticos não lidam adequadamente com os estudiosos dispensacionalistas mais recentes, enfatizando por outro lado o dispensacionalismo do século XX. Ele frisa: “Um bom Princípio acadêmico é estar ciente tanto de pesquisas antigas quanto de recentes sobre um tópico”. Portanto, quando muitos dos Críticos agem assim acabam caindo no erro de acreditarem que o dispensacionalismo encontra-se congelado desde 1950.


O Cerne do Dispensacionalismo


Como outros sistemas teológicos, o Dispensacionalismo não possui uma relação inerente a todas as áreas da Teologia. A preocupação primária do Dispensacionalismo é com a eclesiologia e escatologia, enfatizando a aplicação da hermenêutica histórico-gramatical a todas as passagens da Escritura contidas tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Faz necessário afirmar que é intrínseco ao Dispensacionalismo uma distinção entre Israel e a Igreja como também uma futura salvação e restauração da nação de Israel num futuro reino terreno sob o governo de Jesus Cristo; sendo, portanto, o Messias, a base para um reino mundial que trará bênçãos a todas as nações. Isto posto, passaremos a apresentar os Mitos e falácias que foram e continuam sendo entendidos por muitos como aquilo que realmente encontra-se inerente ao sistema dispensacionalista.


O Dispensacionalismo Ensina Múltiplos caminhos de Salvação. 


Essa afirmação pode ser encontrada nas obras de Wick Bowman, Clarense Bass, John Gerstner, Robert Reymond, Chad O. Brand e Tom Pratt Jr. Contudo, é uma afirmação completamente falsa! Ryrie, em sua obra “Dispensationalism Today”, salienta que os dispensacionalistas anteriores a ele, incluindo o próprio Scofield, nunca pregou múltiplas maneiras de salvação. Ele ressalta que muitos autores dispensacionalistas fizeram afirmações descuidadas, mas que à luz dos debates do seu tempo, com certeza seriam mais cuidadosos em suas formulações. Saucy, acompanhando Ryrie, argumentou na obra “The case for Progressive Dispensationalism”, que muitas declarações de dispensacionalistas anteriores resultaram em tensões não resolvidas, contudo, os dispensacionalistas, a partir de então, tem sido claros em frisar que a progressão das dispensações de hipótese alguma  envolve algum tipo de mudança nos princípios fundamentais da salvação pela graça. John Feinberg junta-se aos autores anteriores e acrescenta que ao contrário do que muitos afirmaram e continuam afirmando, não existe absolutamente nada inerente ao sistema dispensacionalista que leve os seus adeptos a concluírem que as Sagradas Escrituras ensinam Múltiplos caminhos de Salvação, ou até mesmo um único caminho, pelo simples fato de que a Soteriologia não é uma área determinante para o dispensacionalismo; por isso, torna-se algo irrelevante ao sistema dispensacionalista (Tradition and Testament). Além do mais, as distinções entre Israel e Igreja não conduzem naturalmente a tal entendimento. Ele também declara que não existe evidência alguma que qualquer dispensacionalista tenha ensinado que tal distinção necessariamente incluísse ideias de diferentes métodos de salvação para os dois grupos. 


O Arminianismo é algo inerente ao Dispensacionalismo


Antes de tudo é necessário afirmarmos que a Soteriologia arminiana é completamente distinta da Soteriologia pelagiana e semi-agostiniana/semi-pelagianismo[1]. Tal preocupação de evidenciar essa distinção se dá pelo fato de autores não-dispensacionalista erroneamente incluir o arminianismo como algo sine qua non ao sistema dispensacionalista, não apenas isso, associá-lo com os sistemas soteriológicos citados anteriormente como se fossem idênticos ou até mesmo sinônimos.

Autores como Keith A. Mathison, Gerstner, e J. I Packer concordam com o “fato” de que o dispensacionalismo andam de mãos dadas com o Arminianismo. Gerstner vai além ao afirma que o dispensacionalismo é inerentemente anti-calvinista pois nega todos os cincos pontos do calvinismo. Como se não bastasse, teve a ousadia de afirmar que o dispensacionalismo é uma variação do sistema arminiano.

Em primeiro lugar, o sistema dispensacionalista, como já relatamos anteriormente, é preocupado primordialmente com as doutrinas da Eclesiologia e da Escatologia. É importante enfatizarmos que  “Isso não quer dizer que os dispensacionalistas não se preocupam com a salvação. Os dispensacionalistas afirmam que a salvação está baseada somente na graça, somente pela fé e somente em Cristo”(Michael J. Vlach). A questão é que o dispensacionalismo não promove ou prega quaisquer visão soteriológica específica; como Feinberg frisa, a ênfase do dispensacionalismo está em outra parte. Consequentemente,  o dispensacionalismo não faz nenhuma contribuição relevante a doutrina da salvação – Soteriologia; não apenas isso, MacArthur ressalta que “o dispensacionalismo puro não tem ramificações para as doutrinas sobre Deus, o homem, o pecado, ou a santificação”. A prova disto é que Autores dispensacionalistas, como por exemplo: Ryrie, Robert L. Saucy, Blaising, bock, Paul Enns e vários outros, escreveram ou participaram de obras sobre o dispensacionalismo, mas jamais afirmaram em tais obras uma “soteriologia dispensacionalista”; muitos deles dedicaram-se a discorrer sobre o tema da salvação, entretanto, curiosamente, não estabeleceram ou discutiram quaisquer “soteriologia dispensacionalista”. Levando em consideração esse fato, Vlach esclarece que “estas obras de líderes dispensacionalistas são importantes porque elas revelam o que está no coração do dispensacionalismo. É significativo que nenhuma destas obras vincula o dispensacionalismo a alguma perspectiva soteriológica”. Isto posto, Vlach enfatiza que é necessário para aqueles que não são dispensacionalistas realizarem uma distinção entre o que encontra-se no âmago do dispensacionalismo e o que autores dispensacionalistas consideram individualmente; ele conclui destacando: “O erro fundamental daqueles que vinculam o dispensacionalismo com certas visões soteriológicas é o de não prestar atenção a essa distinção”. Feinberg concorda com Vlach quanto ao fato de que muitos dos críticos atacam o dispensacionalismo deixando de realizar tal distinção, mas ele também realça que comumente os não-dispensacionalistas atacam o que eles pensam representar o dispensacionalismo ou algo que é defendido por alguns dispensacionalistas do que à lógica do próprio sistema. Portanto, “[...] nem o calvinismo nem o arminianismo está na essência do dispensacionalismo. [...] Esse assunto não está na essência do dispensacionalismo, porque o calvinismo ou arminianismo são muito importantes com referência aos conceitos de Deus, do homem, do pecado e da salvação. O dispensacionalismo torna-se muito importante no que se refere à eclesiologia e a escatologia, mas realmente não sobre aquelas outras áreas” (Feinberg, “Sistemas de Descontinuidade”, p. 79”).

Em segundo lugar, muitos autores não-dispensacionalistas esquecem do fato de que embora seja significante a presença de teólogos arminianos adeptos ao sistema dispensacionalista, ao longo da história[2] e até nos dias de hoje, há inúmeros teólogos calvinistas de cinco pontos que aderiram ao dispensacionalismo, como por exemplo: David L. Tuner, S. Lewis Johnson, Jeffrey Khoon, John MacArthur, James Oliver Buswell – segundo Vlach, “talvez o erudito reformado mais proeminente a assumir a visão dispensacionalista”, etc. Richard Mayhue destaca: “Alguém pode ser calvinista de cinco pontos e ainda assim ser um dispensacionalista consistente”. Ademais, autores não dispensacionalistas como Vern Poythress, George M. Marsden, C. Norman Kraus e até mesmo Wayne Grudem, destacam a estreita conexão histórica entre o calvinismo e o dispensacionalismo. George M. Marsden afirma: O dispensacionalismo era essencialmente reformado em sua origem no século dezenove e, tardiamente no mesmo século, espalhou-se mais entre os calvinistas de orientação reavivada, na América”. C. Norman Kraus escreve: “as afinidades teológicas básicas do dispensacionalismo são calvinistas”.





Notas

______________________________________________

[1] https://lucasamaciel.blogspot.com/2018/12/o-sinergismo-e-depravacao-total-na.html

[2] https://www.chamada.com.br/mensagens/calvinismo_dispensacionalismo.html



Dedicatória:

Dedicado a Sitri Silas e ao Grupo do WhatsApp: Dispensacionalismo Hoje.

quinta-feira, 30 de julho de 2020

A Importância do Estudo das Doutrinas Bíblicas e as Suas Relações




O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a sua Relação com o Intelecto Humano

O intelecto humano não se contenta com o conhecimento fragmentando ou com uma simples acumulação de fatos, pelo contrário, sempre busca uma unificação e sistematização do seu conhecimento. O ser humano é uma unidade que não pode viver para sempre com desordem mental, “não podemos viver vidas completamente Racionais até que aquele acordo latente entre Nossa e diferentes percepções possa ser compreendido como um princípio que dá unidade a todas as ideias a respeito do mundo”. Logo, “A mente não se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo: ela deseja conhecer as relações entre essas pessoas e coisas e organizações descobertas em forma de um sistema”. A tendência do homem de harmonizar o seu conhecimento aparece a partir do momento que a mente passa a refletir sobre as coisas, como escreve E. Strong: “é apenas na proporção dos dons e cultura que o impulso de sistematizar e formular aumenta”. E Isso se dá em todos os departamentos da busca humana, em especialmente no nosso conhecimento sobre Deus, “porque a verdade relativa a Deus é a mais importante de todas, a teologia vai ao encontro da mais profunda necessidade da natureza racional do homem”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Erro

Assim como a astrologia surgiu contrapondo concepções supersticiosas e fantasiosas da astronomia, o estudo das Doutrinas desmascara e expurga falsos conceitos e ideias acerca de Deus e sobre o que contém e afirma as sagradas Escrituras. Assim como o homem conceberam ideias completamente errôneas acerca dos luminares fazendo surgir assim uma “pseudociência”, da mesma forma o homem, devido ao seu endurecimento a Deus, idealizou Teologias/Doutrinas falsas acerca de Deus, resultando assim no paganismo. Como afirmou D. C. Hodge, "Que ninguém creia que erro doutrinário seja um mal de pouca importância [...] nenhum caminho para a perdição jamais se encheu de tanta gente como o da falsa doutrina. O erro é uma capa da consciência, e uma venda para os olhos”. Se fôssemos perfeitos em natureza poderíamos ler as Sagradas Escrituras e não nos rebelaríamos com as verdades nela contida. Mas devido a nossa natureza caída, “o estudo da Teologia Sistemática/Doutrinas Bíblicas nos ajuda a superar nossas ideias rebeldes”. Não apenas isso, nos ajudar a tomar decisões de concordância ou não no que se refere a novos “entendimentos e interpretações” teológicas que possam surgir.  Além do mais, o estudo doutrinário tem o compromisso com a elaboração e preservação das doutrinas Cristãs, ajudando assim, em tempos obscuros a resgatar a pureza dos ensinamentos bíblicos. Vale salientar que “Na sua caminhada histórica, o cristianismo está sujeito a ataques e contaminações de superstições, imoralidades, pensamentos filosóficos, científicos ou religiosos que lhe são contrários. Uma teologia bem fundamentada na Bíblia é necessária para combater esses ataques e preservar a verdade cristã. O cristão tem o dever de denunciar o falso ensino e defender a verdade (1Tm 1.3,4; 3.15; Hb13.9; 2Jo 9,10)”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com a Verdade

Infelizmente, cada vez mais, o valor e a importância doutrinária tem sido minimizado e negada. Em ambientes universitários, em faculdades e até mesmo em determinados seminários, cosmovisões ateísta, agnóstica, panteísta etc, impera, e ao longo dos seus dias, seus defensores se dedicam a defender falsos conceitos, ideias e estilos de vida que não correspondem com a verdade revelada nas Escrituras. Por isso, “Precisamos mostrar a eles que a bíblia é uma solução melhor para muitos problemas que suas filosofias nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visão plena e consistente do mundo e da vida”. Como ressalta Mayer PearlMan: “Quão grande diferença haveria no comportamento da tripulação de um navio que estivesse ciente de que viajava em direção a um destino determinado, e o comportamento da tripulação dum navio que navegasse à mercê das ondas e sem rumo certo. A vida humana é uma viagem do "tempo" para a eternidade, e é de grande importância a pessoa saber que essa viagem não tem significado ou rumo certo, ou que é uma viagem planejada pelo Criador e dirigida por ele para um destino celestial”. Entender corretamente os ensinamentos doutrinários do cristianismo é a solução para a confusão criada pela miríade de pessoas que afirmam ter a verdade com ele.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e Sua Relação com a Salvação

Gostaria de destacar duas passagens nas escrituras que lida com tal relação. Em João 8.24 lemos “Por isso, eu vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados”; na perícope 9 do Capítulo 1 de Gálatas está escrito: “Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema”. Na primeira passagem, Jesus deixa claro que a salvação “depende”[1] de se ter a doutrina correta sobre a sua pessoa. Isso significar dizer que quem nega a divindade de Cristo, por exemplo, é impossível ser salvo. No segundo trecho que destacamos, Paulos se refere a doutrina da Justificação pela graça por meio da fé. Segundo Franklin Ferreira & Alan Myatt, “Essa doutrina é que define a natureza da salvação em Jesus Cristo. Ela é a linha que divide a fé verdadeira das crenças das seitas e religiões não-cristas. E ela que também estabelece a divisão entre a fé da Reforma e a fé da igreja católica. A importância de se crer corretamente nesta doutrina não pode ser subestimada na pregação e na vida de nossas igrejas. A eternidade das pessoas está em jogo”. É indiscutível a relação dos Estudos da doutrina Bíblica com a salvação, pois ela esclarece o ensino bíblico de suma importância para a nossa fé. Por isso Millard Erikson escreve: “as crenças doutrinárias corretas são essências para relação entre o crente e Deus”
O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação com a Leitura das Escrituras

As Escrituras não é um livro com um mero conteúdo histórico. Nela contém verdades claras e estabelecidas, e essas verdades são doutrinas. Martin Lloyd-Jones escreve: “para ler a minha bíblia muito bem, significa que eu preciso me interessar em doutrina. A Bíblia quer que eu apreenda a sua doutrina. Noutras Palavras, posso conhecer minha Bíblia muito bem, mas, a não ser que compreenda a importância de apropriar-me de suas doutrinas, o meu conhecimento será totalmente inútil para mim”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Desenvolvimento Cristão

Crenças firmes produzem um carácter firme, e convicções definidas; “assim como uma boa espinha dorsal é parte essencial do corpo, assim um sistema definido de crença é uma parte essencial da religião”. Uma definição doutrinária impede com que o Cristão possua uma viver volúvel e corcundo. Obviamente que o viver cristão – a Ortopraxia – é mais importante que o conhecimento teórico doutrinário, não obstante, a experiência Cristã se correlaciona com o conhecimento doutrinário, sem a qual, é impossível vive-la. Cada vez mais que nos labutamos em compreender e conhecer a Deus, mais confiança teremos nele, mais o louvaremos e facilmente o obedeceremos. Waynen Grudem salienta, “A Bíblia frequentemente conecta a sã doutrina com maturidade na vida cristã: Paulo fala de "a doutrina que está em conformidade com a verdadeira religião" (1 Tm 6:3) e diz que seu trabalho como apóstolo é " que, por meio da fé, os eleitos de Deus virão a conhecer a verdadeira religião "(Tt 1:1). Em contraste, indica que todos os tipos de desobediência e imoralidade "é contrário à sã doutrina" (1 Tm 1:10)”. A ideia de que há pouca ou nenhuma relação entre a crença de um homem e o seu carácter é extremamente equivocada, pois o homem age de acordo com aquilo que ele realmente crer, e não de acordo com aquilo que ele simplesmente diz crer; não apenas isso, a ideia de que o estudo das doutrinas tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual também é falsa, pois se não for tratada como mera teoria, esse efeito entorpecedor não existirá de maneira nenhuma “ao invés disso servirá de guia para o pensamento inteligente a respeito de problemas religiosos e um estímulo à uma vida santa”. Como muito bem indaga H. C. Thiessen, “como poderia ideias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de Cristo, da Bíblia, etc., levar a outra coisa?” Assim sendo, claramente os estudos das doutrinas bíblicas  não apenas nos ensina/indica que tipo de vida devemos viver, mas nos inspira completamente  a viver de tal maneira, ou seja, nos fornece motivos para vivermos de acordo com tais normas; “uma boa teologia oferece-nos subsídios para que possamos conhecer mais de Deus, que deve ser o nosso objetivo principal, através de sua revelação especial nas Escrituras”; A moralidade crista é um fruto que cresce só a partir da arvore da doutrina crista. Logo, a dissociação entre teologia e vida é algo estranho a fé cristã e, consequentemente, a igreja de Cristo. Muitos negam a importância do estudo das doutrinas bíblicas ou o ver em segundo plano, pois afirmam que tem se verificado na história da igreja uma ênfase exagerada na doutrina em contraposição ao cuidado com carácter cristão, evangelização e serviço social; outros não enxergam os objetivos de tal estudo como também efeitos na vida do Cristão. Mas como já deve ter sido entendido pelo leitor, o estudo das doutrinas bíblicas não pode ignorar ou substituir a vida prática do cristão. Pelo contrário, “o seu propósito é fundamentar intelectualmente a fé para que o cristão possa desenvolver a sua vida espiritual e ter atuação mais eficaz no mundo, nos diversos contextos culturais”. Além do mais, a fé cristã se baseia em verdades ensinadas nas escrituras – Doutrinas –  logo, conhecer melhor tais verdades é imprescindível para a firmeza e o desenvolvimento da vida com Deus. Zacarias Aguiar frisa: “Pedro saúda seus leitores dizendo: “graça e paz vos sejam multiplicadas pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor” (2Pe 1.2). O crescimento na graça de Deus, ou o desenvolvimento da vida espiritual está atrelado ao pleno conhecimento de Deus”. Dessarte A.H.Strong escreve, “Todo o subsequente desenvolvimento do caráter – Cristão –  está condicionado a evolução do conhecimento. Cl. 1.10 [...] “crescendo através do conhecimento de Deus”; o dativo instrumental representa o conhecimento de Deus como o orvalho ou a chuva que alimenta o desenvolvimento da planta”; Portanto, a verdade doutrinária que integralmente é digerida pelo cristão e pela Igreja é essencial ao desenvolvimento também do carácter cristão. Os mais fortes cristãos são aqueles que possuem uma forte segurança nas grandes doutrinas do cristianismo “as épocas heróicas da igreja são as que têm mais consistentes testemunhos dela”.  Precisamos ter em mente que a ignorância é a mãe da superstição, e não da devoção.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Ensino

Um dos propósitos do estudo sistemático das doutrinas bíblicas é pôr em ordem as verdades doutrinárias contidas nas escrituras. Essa necessidade possui como razão não apenas a compreensão, mas o compartilhamento de tais verdades. Em Mt 28:19-20 observamos claramente a ordenança de Jesus Cristo direcionada aos seus discípulos quanto ao Ensino de tudo o que ele falou. Entretanto, essa ordenança envolve não apenas o conteúdo oral de Cristo, mas também a interpretação e aplicação da sua vida, ensinamentos, as epístolas[2], e por último, mas não menos importante, “quando consideramos que os escritos do Novo Testamento aprovou a confiança absoluta de que Jesus tinha autoridade e confiabilidade das Escrituras do Antigo Testamento como palavras de Deus, e quando percebemos que as Epístolas de Novo Testamento também endossou essa visão do Antigo Testamento como palavras absolutamente autoritária de Deus, torna-se claro que não podemos ensinar "tudo o que Jesus ordenou" excluindo igualmente todo o Antigo Testamento”. Isso significar dizer que cumprir a ordenança de Cristo contida no evangelho de Mateus envolve ensinar todas a Sagradas Escrituras. Portanto, uma das razões e importâncias de se estudar as doutrinas bíblicas, é que podemos ensinar a nós mesmo e aos outros como a bíblia afirma, cumprindo portando a segunda parte da grande comissão e isso demanda estudo, compreensão e exposição da palavra de Deus.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação com a Pregação

Ao nos depararmos com as passagens de Mc 4.2; At 2.42; 2Tm 3:10, percebemos que a pregação de Cristo e dos Apóstolos eram extremamente doutrinárias.  Infelizmente, em muitas igrejas nos dias hodiernos, existe uma grande ou total aversão a este tipo de pregação; pregações “emocionalistas” e que não requeira concentração de pensamento e reflexão, cada vez mais são ministradas nos nossos templos. A questão é que a função do pregador é mais instruir que comover, pois conforme está escrito em 2Tm 4.2; Tt 1.9, somos exortados a pregar a doutrina contida nas Escrituras. H. C. Thiessen escreve: “tem sido frequentemente demostrado que é apenas na medida que as pessoas forem completamente instruídas na palavra de Deus que elas se tornarão cristãos e trabalhadores eficazes por Cristo. Há, assim, uma relação definitiva entre a pregação doutrinária e o serviço Cristão eficaz”. É importante salientarmos que para se propagar o evangelho na sua inteireza é necessário a compreensão do seu conteúdo como também do seu significado, e não apenas isso, também é importante a capacidade de explica-lo de forma Inteligível a outrem, por isso, Zacarias Aguiar afirma: “Sem uma base doutrinária segura e firme, um lastro teológico bem fundado, a igreja perde sua capacidade militante. A teologia é uma arma poderosa no ministério (Tt 1.9). Lloyd Jones ressalta que “não há nada mais importante para um pregador do que ter uma teologia sistemática, conhecê-la e ser bem versado nela”, e que “Cada mensagem que brota de um texto em particular ou de uma afirmativa das Escrituras, deve ser sempre uma parte ou aspecto desse corpo total de verdade””. Portanto, o método da pregação dos Profetas, de Cristo e dos discípulos era o de proclamar doutrinas “Eles tinham uma mensagem, e a apresentavam ao povo; usavam as Escrituras para mostrar qual era a doutrina do texto”. Logo, a pregação consiste em apresentar a verdade a congregação, nada mais anula os esforços de uma pregação que confusão e inconsistência doutrinária contida na pregação, como frisa A. H. Strong, “Mutilar a doutrina ou interpretá-la falsamente não é só um pecado contra o seu Revelador, - pode levar à ruína as almas dos homens. A melhor salvaguarda contra tal mutilação ou falsa interpretação é o estudo diligente das várias doutrinas da fé nas inter-relações e especialmente nas relações com o tema central da teologia, a pessoa e obra de Jesus Cristo”. O pregador necessita conhecer as doutrinas bíblicas, evitando assim se tornar um pregador repetitivo, simplório e cansativo e até mesmo exclusivamente emocionalista; “O falso pregador tem de dizer alguma coisa; o verdadeiro pregador tem alguma coisa para dizer” (John Henry Newman).



Notas
____________________________________________________
[1] É claro que a salvação não é apenas questão de doutrina correta, mas a doutrina correta sobre os pontos básicos da fé cristã é essencial.
[2] Sendo Escritas sob a "supervisão do Espírito Santo" elas se constituem, "mandamentos do Senhor" (1 Coríntios 14:37, ver também João 14:26, 16:13; 1 Tessalonicenses 4:15, 2 Pedro 3:2 e Apocalipse 1:1-3)



Bibliografia

Myer PearlMan; Conhecendo as Doutrinas Bíblicas; Editora Vida; 2006, 335 páginas.
Wayne Grudem; Teologia Sistemática; Atual e Exaustiva, Vida Nova, 2009, 2098 páginas
Henry Clarence Thiessen, Palestras introdutórias a Teologia Sistemática, Imprensa Batista Regular ,1989, 391, páginas.
Franklin Ferreira & Alan Myatt; Teologia Sistemática; uma análise Histórica, Bíblica e Apologética para o contexto atual; Vida Nova; 2007; 1218 páginas. 
Zacarias de Aguiar Severa; Manual de Teologia Sistemática; A.D Santos Editora; 2016; 315 páginas.
Millard J. Erickson; Teologia Sistemática; Vida Nova; 2008; 764 Páginas.
D. Martyn Lloyd-Jones; Grandes Doutrinas Bíblicas – Vol 1; 1997; PES; 467 Páginas. 
Augustos Hopkins Strong, Teologia Sistemática – Vol 1; Hagnos; 2003; 680 Páginas.