quinta-feira, 30 de julho de 2020

A Importância do Estudo das Doutrinas Bíblicas e as Suas Relações




O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a sua Relação com o Intelecto Humano

O intelecto humano não se contenta com o conhecimento fragmentando ou com uma simples acumulação de fatos, pelo contrário, sempre busca uma unificação e sistematização do seu conhecimento. O ser humano é uma unidade que não pode viver para sempre com desordem mental, “não podemos viver vidas completamente Racionais até que aquele acordo latente entre Nossa e diferentes percepções possa ser compreendido como um princípio que dá unidade a todas as ideias a respeito do mundo”. Logo, “A mente não se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo: ela deseja conhecer as relações entre essas pessoas e coisas e organizações descobertas em forma de um sistema”. A tendência do homem de harmonizar o seu conhecimento aparece a partir do momento que a mente passa a refletir sobre as coisas, como escreve E. Strong: “é apenas na proporção dos dons e cultura que o impulso de sistematizar e formular aumenta”. E Isso se dá em todos os departamentos da busca humana, em especialmente no nosso conhecimento sobre Deus, “porque a verdade relativa a Deus é a mais importante de todas, a teologia vai ao encontro da mais profunda necessidade da natureza racional do homem”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Erro

Assim como a astrologia surgiu contrapondo concepções supersticiosas e fantasiosas da astronomia, o estudo das Doutrinas desmascara e expurga falsos conceitos e ideias acerca de Deus e sobre o que contém e afirma as sagradas Escrituras. Assim como o homem conceberam ideias completamente errôneas acerca dos luminares fazendo surgir assim uma “pseudociência”, da mesma forma o homem, devido ao seu endurecimento a Deus, idealizou Teologias/Doutrinas falsas acerca de Deus, resultando assim no paganismo. Como afirmou D. C. Hodge, "Que ninguém creia que erro doutrinário seja um mal de pouca importância [...] nenhum caminho para a perdição jamais se encheu de tanta gente como o da falsa doutrina. O erro é uma capa da consciência, e uma venda para os olhos”. Se fôssemos perfeitos em natureza poderíamos ler as Sagradas Escrituras e não nos rebelaríamos com as verdades nela contida. Mas devido a nossa natureza caída, “o estudo da Teologia Sistemática/Doutrinas Bíblicas nos ajuda a superar nossas ideias rebeldes”. Não apenas isso, nos ajudar a tomar decisões de concordância ou não no que se refere a novos “entendimentos e interpretações” teológicas que possam surgir.  Além do mais, o estudo doutrinário tem o compromisso com a elaboração e preservação das doutrinas Cristãs, ajudando assim, em tempos obscuros a resgatar a pureza dos ensinamentos bíblicos. Vale salientar que “Na sua caminhada histórica, o cristianismo está sujeito a ataques e contaminações de superstições, imoralidades, pensamentos filosóficos, científicos ou religiosos que lhe são contrários. Uma teologia bem fundamentada na Bíblia é necessária para combater esses ataques e preservar a verdade cristã. O cristão tem o dever de denunciar o falso ensino e defender a verdade (1Tm 1.3,4; 3.15; Hb13.9; 2Jo 9,10)”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com a Verdade

Infelizmente, cada vez mais, o valor e a importância doutrinária tem sido minimizado e negada. Em ambientes universitários, em faculdades e até mesmo em determinados seminários, cosmovisões ateísta, agnóstica, panteísta etc, impera, e ao longo dos seus dias, seus defensores se dedicam a defender falsos conceitos, ideias e estilos de vida que não correspondem com a verdade revelada nas Escrituras. Por isso, “Precisamos mostrar a eles que a bíblia é uma solução melhor para muitos problemas que suas filosofias nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visão plena e consistente do mundo e da vida”. Como ressalta Mayer PearlMan: “Quão grande diferença haveria no comportamento da tripulação de um navio que estivesse ciente de que viajava em direção a um destino determinado, e o comportamento da tripulação dum navio que navegasse à mercê das ondas e sem rumo certo. A vida humana é uma viagem do "tempo" para a eternidade, e é de grande importância a pessoa saber que essa viagem não tem significado ou rumo certo, ou que é uma viagem planejada pelo Criador e dirigida por ele para um destino celestial”. Entender corretamente os ensinamentos doutrinários do cristianismo é a solução para a confusão criada pela miríade de pessoas que afirmam ter a verdade com ele.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e Sua Relação com a Salvação

Gostaria de destacar duas passagens nas escrituras que lida com tal relação. Em João 8.24 lemos “Por isso, eu vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados”; na perícope 9 do Capítulo 1 de Gálatas está escrito: “Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema”. Na primeira passagem, Jesus deixa claro que a salvação “depende”[1] de se ter a doutrina correta sobre a sua pessoa. Isso significar dizer que quem nega a divindade de Cristo, por exemplo, é impossível ser salvo. No segundo trecho que destacamos, Paulos se refere a doutrina da Justificação pela graça por meio da fé. Segundo Franklin Ferreira & Alan Myatt, “Essa doutrina é que define a natureza da salvação em Jesus Cristo. Ela é a linha que divide a fé verdadeira das crenças das seitas e religiões não-cristas. E ela que também estabelece a divisão entre a fé da Reforma e a fé da igreja católica. A importância de se crer corretamente nesta doutrina não pode ser subestimada na pregação e na vida de nossas igrejas. A eternidade das pessoas está em jogo”. É indiscutível a relação dos Estudos da doutrina Bíblica com a salvação, pois ela esclarece o ensino bíblico de suma importância para a nossa fé. Por isso Millard Erikson escreve: “as crenças doutrinárias corretas são essências para relação entre o crente e Deus”
O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação com a Leitura das Escrituras

As Escrituras não é um livro com um mero conteúdo histórico. Nela contém verdades claras e estabelecidas, e essas verdades são doutrinas. Martin Lloyd-Jones escreve: “para ler a minha bíblia muito bem, significa que eu preciso me interessar em doutrina. A Bíblia quer que eu apreenda a sua doutrina. Noutras Palavras, posso conhecer minha Bíblia muito bem, mas, a não ser que compreenda a importância de apropriar-me de suas doutrinas, o meu conhecimento será totalmente inútil para mim”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Desenvolvimento Cristão

Crenças firmes produzem um carácter firme, e convicções definidas; “assim como uma boa espinha dorsal é parte essencial do corpo, assim um sistema definido de crença é uma parte essencial da religião”. Uma definição doutrinária impede com que o Cristão possua uma viver volúvel e corcundo. Obviamente que o viver cristão – a Ortopraxia – é mais importante que o conhecimento teórico doutrinário, não obstante, a experiência Cristã se correlaciona com o conhecimento doutrinário, sem a qual, é impossível vive-la. Cada vez mais que nos labutamos em compreender e conhecer a Deus, mais confiança teremos nele, mais o louvaremos e facilmente o obedeceremos. Waynen Grudem salienta, “A Bíblia frequentemente conecta a sã doutrina com maturidade na vida cristã: Paulo fala de "a doutrina que está em conformidade com a verdadeira religião" (1 Tm 6:3) e diz que seu trabalho como apóstolo é " que, por meio da fé, os eleitos de Deus virão a conhecer a verdadeira religião "(Tt 1:1). Em contraste, indica que todos os tipos de desobediência e imoralidade "é contrário à sã doutrina" (1 Tm 1:10)”. A ideia de que há pouca ou nenhuma relação entre a crença de um homem e o seu carácter é extremamente equivocada, pois o homem age de acordo com aquilo que ele realmente crer, e não de acordo com aquilo que ele simplesmente diz crer; não apenas isso, a ideia de que o estudo das doutrinas tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual também é falsa, pois se não for tratada como mera teoria, esse efeito entorpecedor não existirá de maneira nenhuma “ao invés disso servirá de guia para o pensamento inteligente a respeito de problemas religiosos e um estímulo à uma vida santa”. Como muito bem indaga H. C. Thiessen, “como poderia ideias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de Cristo, da Bíblia, etc., levar a outra coisa?” Assim sendo, claramente os estudos das doutrinas bíblicas  não apenas nos ensina/indica que tipo de vida devemos viver, mas nos inspira completamente  a viver de tal maneira, ou seja, nos fornece motivos para vivermos de acordo com tais normas; “uma boa teologia oferece-nos subsídios para que possamos conhecer mais de Deus, que deve ser o nosso objetivo principal, através de sua revelação especial nas Escrituras”; A moralidade crista é um fruto que cresce só a partir da arvore da doutrina crista. Logo, a dissociação entre teologia e vida é algo estranho a fé cristã e, consequentemente, a igreja de Cristo. Muitos negam a importância do estudo das doutrinas bíblicas ou o ver em segundo plano, pois afirmam que tem se verificado na história da igreja uma ênfase exagerada na doutrina em contraposição ao cuidado com carácter cristão, evangelização e serviço social; outros não enxergam os objetivos de tal estudo como também efeitos na vida do Cristão. Mas como já deve ter sido entendido pelo leitor, o estudo das doutrinas bíblicas não pode ignorar ou substituir a vida prática do cristão. Pelo contrário, “o seu propósito é fundamentar intelectualmente a fé para que o cristão possa desenvolver a sua vida espiritual e ter atuação mais eficaz no mundo, nos diversos contextos culturais”. Além do mais, a fé cristã se baseia em verdades ensinadas nas escrituras – Doutrinas –  logo, conhecer melhor tais verdades é imprescindível para a firmeza e o desenvolvimento da vida com Deus. Zacarias Aguiar frisa: “Pedro saúda seus leitores dizendo: “graça e paz vos sejam multiplicadas pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor” (2Pe 1.2). O crescimento na graça de Deus, ou o desenvolvimento da vida espiritual está atrelado ao pleno conhecimento de Deus”. Dessarte A.H.Strong escreve, “Todo o subsequente desenvolvimento do caráter – Cristão –  está condicionado a evolução do conhecimento. Cl. 1.10 [...] “crescendo através do conhecimento de Deus”; o dativo instrumental representa o conhecimento de Deus como o orvalho ou a chuva que alimenta o desenvolvimento da planta”; Portanto, a verdade doutrinária que integralmente é digerida pelo cristão e pela Igreja é essencial ao desenvolvimento também do carácter cristão. Os mais fortes cristãos são aqueles que possuem uma forte segurança nas grandes doutrinas do cristianismo “as épocas heróicas da igreja são as que têm mais consistentes testemunhos dela”.  Precisamos ter em mente que a ignorância é a mãe da superstição, e não da devoção.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Ensino

Um dos propósitos do estudo sistemático das doutrinas bíblicas é pôr em ordem as verdades doutrinárias contidas nas escrituras. Essa necessidade possui como razão não apenas a compreensão, mas o compartilhamento de tais verdades. Em Mt 28:19-20 observamos claramente a ordenança de Jesus Cristo direcionada aos seus discípulos quanto ao Ensino de tudo o que ele falou. Entretanto, essa ordenança envolve não apenas o conteúdo oral de Cristo, mas também a interpretação e aplicação da sua vida, ensinamentos, as epístolas[2], e por último, mas não menos importante, “quando consideramos que os escritos do Novo Testamento aprovou a confiança absoluta de que Jesus tinha autoridade e confiabilidade das Escrituras do Antigo Testamento como palavras de Deus, e quando percebemos que as Epístolas de Novo Testamento também endossou essa visão do Antigo Testamento como palavras absolutamente autoritária de Deus, torna-se claro que não podemos ensinar "tudo o que Jesus ordenou" excluindo igualmente todo o Antigo Testamento”. Isso significar dizer que cumprir a ordenança de Cristo contida no evangelho de Mateus envolve ensinar todas a Sagradas Escrituras. Portanto, uma das razões e importâncias de se estudar as doutrinas bíblicas, é que podemos ensinar a nós mesmo e aos outros como a bíblia afirma, cumprindo portando a segunda parte da grande comissão e isso demanda estudo, compreensão e exposição da palavra de Deus.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação com a Pregação

Ao nos depararmos com as passagens de Mc 4.2; At 2.42; 2Tm 3:10, percebemos que a pregação de Cristo e dos Apóstolos eram extremamente doutrinárias.  Infelizmente, em muitas igrejas nos dias hodiernos, existe uma grande ou total aversão a este tipo de pregação; pregações “emocionalistas” e que não requeira concentração de pensamento e reflexão, cada vez mais são ministradas nos nossos templos. A questão é que a função do pregador é mais instruir que comover, pois conforme está escrito em 2Tm 4.2; Tt 1.9, somos exortados a pregar a doutrina contida nas Escrituras. H. C. Thiessen escreve: “tem sido frequentemente demostrado que é apenas na medida que as pessoas forem completamente instruídas na palavra de Deus que elas se tornarão cristãos e trabalhadores eficazes por Cristo. Há, assim, uma relação definitiva entre a pregação doutrinária e o serviço Cristão eficaz”. É importante salientarmos que para se propagar o evangelho na sua inteireza é necessário a compreensão do seu conteúdo como também do seu significado, e não apenas isso, também é importante a capacidade de explica-lo de forma Inteligível a outrem, por isso, Zacarias Aguiar afirma: “Sem uma base doutrinária segura e firme, um lastro teológico bem fundado, a igreja perde sua capacidade militante. A teologia é uma arma poderosa no ministério (Tt 1.9). Lloyd Jones ressalta que “não há nada mais importante para um pregador do que ter uma teologia sistemática, conhecê-la e ser bem versado nela”, e que “Cada mensagem que brota de um texto em particular ou de uma afirmativa das Escrituras, deve ser sempre uma parte ou aspecto desse corpo total de verdade””. Portanto, o método da pregação dos Profetas, de Cristo e dos discípulos era o de proclamar doutrinas “Eles tinham uma mensagem, e a apresentavam ao povo; usavam as Escrituras para mostrar qual era a doutrina do texto”. Logo, a pregação consiste em apresentar a verdade a congregação, nada mais anula os esforços de uma pregação que confusão e inconsistência doutrinária contida na pregação, como frisa A. H. Strong, “Mutilar a doutrina ou interpretá-la falsamente não é só um pecado contra o seu Revelador, - pode levar à ruína as almas dos homens. A melhor salvaguarda contra tal mutilação ou falsa interpretação é o estudo diligente das várias doutrinas da fé nas inter-relações e especialmente nas relações com o tema central da teologia, a pessoa e obra de Jesus Cristo”. O pregador necessita conhecer as doutrinas bíblicas, evitando assim se tornar um pregador repetitivo, simplório e cansativo e até mesmo exclusivamente emocionalista; “O falso pregador tem de dizer alguma coisa; o verdadeiro pregador tem alguma coisa para dizer” (John Henry Newman).



Notas
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[1] É claro que a salvação não é apenas questão de doutrina correta, mas a doutrina correta sobre os pontos básicos da fé cristã é essencial.
[2] Sendo Escritas sob a "supervisão do Espírito Santo" elas se constituem, "mandamentos do Senhor" (1 Coríntios 14:37, ver também João 14:26, 16:13; 1 Tessalonicenses 4:15, 2 Pedro 3:2 e Apocalipse 1:1-3)



Bibliografia

Myer PearlMan; Conhecendo as Doutrinas Bíblicas; Editora Vida; 2006, 335 páginas.
Wayne Grudem; Teologia Sistemática; Atual e Exaustiva, Vida Nova, 2009, 2098 páginas
Henry Clarence Thiessen, Palestras introdutórias a Teologia Sistemática, Imprensa Batista Regular ,1989, 391, páginas.
Franklin Ferreira & Alan Myatt; Teologia Sistemática; uma análise Histórica, Bíblica e Apologética para o contexto atual; Vida Nova; 2007; 1218 páginas. 
Zacarias de Aguiar Severa; Manual de Teologia Sistemática; A.D Santos Editora; 2016; 315 páginas.
Millard J. Erickson; Teologia Sistemática; Vida Nova; 2008; 764 Páginas.
D. Martyn Lloyd-Jones; Grandes Doutrinas Bíblicas – Vol 1; 1997; PES; 467 Páginas. 
Augustos Hopkins Strong, Teologia Sistemática – Vol 1; Hagnos; 2003; 680 Páginas. 

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