As "Setes" dispensações
é sine qua non ao dispensacionalismo
Por Incrível que se possa imaginar, ou parecer estranho ao leitor, o dispensacionalismo não é primariamente sobre acreditar em dispensações, ou acreditar em “Sete” dispensações. Isso devido a dois fatores:
Em primeiro lugar, a crença em dispensações é comum a todos os cristãos. O termo grego οἰκονομία “oikonomia” significa: “Administração” e “mordomado”. Em relação a Deus se refere à maneira como ele trabalha e atua com sua criação numa determinada era da história (Ef 1:10). A expressão grega diz respeito “a maneira como o responsável pela manutenção de uma casa dirige as pessoas e assuntos sob sua autoridade”. Consequentemente, como realça Michal Vlach, “Quem não reconhece que a era atual é diferente do novo céu e da nova terra por vir?”. Por ser comum aos cristãos, e por diversos teólogos antes do dispensacionalismo terem enfatizado várias dispensações nos planos de Deus, a crença em dispensações não pode ser uma característica distintiva do dispensacionalismo. Obviamente dispensacionalistas se tornaram famosos por apresentar complexos gráficos que mostravam e especificavam em detalhes os “propósitos de Deus na História”, como por exemplo, Clarence Larkin; “Isso ocorreu tantas vezes que a ideia de “gráficos” muitas vezes acompanha o título “dispensacionalismo” na mente de muitos”, não obstante, como Vlach frisa, “os dispensacionalistas não foram os primeiros a inventar os mapas das dispensações. Vários teólogos mapearam as várias atuações de Deus na história”. Isto posto, por conseguinte, o dispensacionalismo não trata do reconhecimento da palavra grega “οἰκονομία”. Vlach escreve:
“Em última análise, qual estudioso erudito que não acredita que “oikonomia” é um termo bíblico? Reconhecer a palavra “oikonomia” não torna uma pessoa dispensacionalista, nem a definição desse termo nos revela a essência do dispensacionalismo” (Dispensacionalismo, Crenças essenciais e mitos comuns; pag, 88).
Por essa razão Feinberg, na sua obra, “Continuidade e Descontinuidade”, salienta que é um grande erro acreditar que o termo “dispensação” e o ensino “sobre as diferentes ordens da administração divina” surgiu apenas no pensamento dispensacionalista; como também é um outro erro acreditar que o termo “aliança” explica a essência da teologia da aliança, pois assim também não ocorre no dispensacionalismo: “definir o termo ‘dispensação’ não define mais a essência do dispensacionalismo”.
Em segundo lugar, tradicionalmente o dispensacionalismo tem sido vinculado à crença em “sete” dispensações; Scofield foi quem popularizou tal crença por meio da sua Bíblia de Estudo Scofield. No entanto, outros, são adeptos de quatro[1], oito dispensações, ou outro número qualquer. Portanto, Vlach comenta: “Eu não acredito que é necessário sustentar sete dispensações para ser um verdadeiro dispensacionalista. Feiberg está correto quando afirma: “o número de dispensações não está no centro do sistema”. Ele conclui ratificando:
"O Estudo das dispensações é um esforço digno, mas eu não acredito que as questões sobre a quantidade de dispensações que existem e como cada uma delas deve ser denominada estão no coração do sistema dispensacionalista".
Curiosamente é
digno de nota que autores como Charles Ryrie, Jhon Feinberg, Craig Blaissing e
Darrell Bock que se preocuparam por meio dos seus escritos em realçar
características definidoras e essenciais ao dispensacionalismo, jamais fizeram
menção a ideia de que a crença em “Sete” dispensações fosse algo que estivesse
no âmago do Dispensacionalismo[2].
Para Michael Vlach, um dos principais proponente do dispensacionalismo, seis crenças básicas estão no centro de tal sistema, sendo elas:
1: O significado primário de qualquer passagem Bíblica é encontrado na própria passagem. O Novo Testamento não reinterpreta ou transcende as passagens do Antigo Testamento de modo a sobrepor ou cancelar a intenção autoral original dos escritores do Antigo Testamento;
2: Os tipos existem, mas Israel não é um tipo inferior que é suplantado pela igreja;
3: Israel e a Igreja são distintos entre si, assim, a Igreja não pode, por direito, ser identificada como novo/verdadeiro Israel;
4: A unidade espiritual na salvação entre Judeus e Gentios é compatível com o futuro papel funcional de Israel Como uma nação;
5: A nação de Israel será tanto salva como restaurada com um papel singular e funcional em um futuro reino milenar sobre a terra
6: Existem vários sentidos para "semente de Abraão", e assim, a identificação da Igreja como "semente de Abraão" não cancela as promessas de Deus para os crentes Judeus "semente de Abraão" (Dispensacionalismo, Crenças essenciais e mitos comuns; pag, 144).
[1] Vlach entende que 4 dispensações são claramente identificáveis, sendo elas: (1) Adão até Moisés; (2) Moisés até Cristo; (3) A primeira vinda de Cristo até a sua Segunda Vinda de Cristo; (4) O Reino de Jesus após a sua segunda vinda. Convém salientar que independentemente de quantas dispensações for defendida por um dispensacionalista, a salvação sempre ocorrerá unicamente pela graça, por meio da fé.
[2] Pretendo escrever uma série de artigos enfatizando as características essenciais do dispensacionalismo. Cf. a seguir.

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