sexta-feira, 30 de abril de 2021

A Doutrina da Iminência do Arrebatamento


 Conceituação

É Importante, já de imediato, apresentar ao leitor o significado da palavra Iminência. Em primeiro lugar, a mesma não deve ser confundida com o termo "imanente", pois, dentro de uma linguagem teológica, tal termo se refere a ideia de que "Deus não está apenas transcendente, muito acima de nós, mas que está sempre conosco e ativo em nosso favor"[1]. Em segundo lugar, a mesma palavra não deve ser confundida com "eminente", pois é "reservado normalmente para reis e pessoas de distinção notável"[2]. A palavra eminente é um título de honra. 
O termo "iminência" é usado dentro de um contexto escatológico "para descrever a vinda de Jesus para a igreja, a experiência do arrebatamento e para declarar que esse evento é o próximo no programa profético de Deus"[3]. Gerald B. Stanton acentua que "o pensamento primário expresso pela palavra "iminente" é de algo importante que está prestes a acontecer e poderia acontecer em breve. Embora esse evento não precise ser imediato, nem necessariamente muito em breve, é o próximo evento e pode acontecer a qualquer momento"[4]. Observe que Stanton frisa que iminência não é sinônimo de imediatismo. Iminência é uma coisa, imediatismo é outra completamente distinta. Levando em consideração esta verdade Pentecost argumenta: "há uma distinção a ser observada entre uma volta iminente de Cristo e uma volta imediata de Cristo. Em nenhum lugar as Escrituras ensinam que sua volta seria imediata, mas ensinam com total coerência que tal volta poderia ser esperada a qualquer momento[5].
Se faz necessário realçar a diferença entre o termo impendente e iminência. O primeiro está ligado a um evento potencialmente perigoso ou negativo, "mas se um evento é carregado de esperança e alegre expectativa, nós o expressamos com a ideia de "iminência" e com o adjetivo de "iminente". Entre os crentes, essas palavras normalmente estão relacionadas à possível breve vinda de nosso Senhor Jesus Cristo para levar a igreja no acontecimento alegre e monumental chamado de arrebatamento.

O cerne da Doutrina


A doutrina da Iminência envolve três verdades. Em primeiro lugar, "embora ninguém saiba a hora da volta de Cristo, Ele pode voltar a qualquer momento e é possível que Ele volte hoje; em segundo lugar, "o arrebatamento é um evento sem sinais, não será anunciado e será inesperado para a maioria das pessoas"; por último, "mais nenhum evento claramente profetizado precisa ocorrer antes do arrebatamento, pois isso seria datar a hora da vinda de Cristo".
Quando entendemos todas essas verdades, fica nítido de que é impossível alguém crer na iminência do arrebatamento e ao mesmo tempo viver de estipulações ou marcações de datas de quando este evento irá ocorrer. Este comportamento não faz jus a um entendimento futurista concernente as profecias bíblicas, pois "de acordo com o futurismo pré-tribulacional a data do arrebatamento não é ligada, de qualquer maneira a qualquer evento terreno que possa servir como base para a datação"[6]. Portanto, o arrebatamento é um evento/acontecimento sem sinais. Devido a tal fato, Thomas Ice escreve:

 "Os que são futuristas pré-tribulacionais tem que abandonar o método futurista para especularem sobre uma data para o arrebatamento. O sistema futurista impede a datação. É por isso que futuristas que tentam marcar a data se voltam para algum tipo de historicismo que iguala a presente era à tribulação. Se, porém, o indivíduo está trabalhando debaixo da lógica da abordagem historicista, o historicismo não sustenta a doutrina do arrebatamento pré-tribulacional. Ao operar com base em princípios historicistas, o futurista solapa a base do arrebatamento pré-tribulacional que está tentando datar"[7].

Essa é uma das principais diferenças entre o Arrebatamento da Igreja e a Segunda Vinda de Cristo[8], pois, conforme frisa Rhon Rodes, "O arrebatamento é um acontecimento que não requer sinal de alerta prévio  totalmente contrário da Segunda Vinda de Cristo, a qual será precedida de muitos eventos durante os sete anos da Tribulação (Ver Ap 4-18)[9]. No seu livro "Manual de Escatologia", Pentecost argumenta: 

"Muitos sinais foram dados à nação de Israel, os quais precederiam a segunda vinda, a fim de que a nação vivesse em expectativa quando Sua volta se aproximasse. Apesar de Israel não saber o dia nem a hora em que o Senhor voltaria, saberia que sua redenção se aproximava pelo cumprimento desses sinais. Tais sinais nunca foram dados à igreja. A igreja tem a ordem de viver à luz da vinda iminente do Senhor para transladá-la à Sua presença (Jo 14.2,3; At 1.11; 1 Co 15.51,52; Fp 3.20; Cl 3.4; l Ts 1.10; l Tm 6.14; Tg 5.8; 2 Pe 3.3,4). Passagens como 1 Tessalonicenses 5.6, Tito 2.13 e Apocalipse 3.3 alertam o crente a aguardar o próprio Senhor, não aguardar sinais que antecederiam Seu retorno. É verdade que os acontecimentos da septuagésima semana lançarão um prenúncio antes do arrebatamento, mas a atenção do crente deve ser sempre dirigida para Cristo, nunca aos presságios"[10].


Os eventos Atuais


Ao leitor, muito do que fora discutido e exposto até o prezado momento quanto a doutrina da iminência do arrebatamento pode ser algo "novo". Isso se dá ao fato de que por muitos anos Mateus 24-25 – principalmente  e outras passagens foram interpretadas como tendo um conteúdo profético que necessariamente precederia o arrebatamento da Igreja, entretanto, o "sermão profético" é dirigido aos discípulos de Cristo após os mesmos fazerem três perguntas centradas na Tribulação, logo, conforme Staton, e outros inúmeros teólogos pré-tribulacionistas, "A passagem,[...] é judaica e se relaciona a um contexto muito judaico. Por essa razão, nem a igreja nem o arrebatamento são mencionados [..][11]. Contudo, como ficaria o nosso entendimento concernente ao período presente? Em primeiro lugar, um bom intérprete deve manter o futuro no futuro. Devemos ter o cuidado para jamais misturar o futuro com o presente. Não obstante, obviamente que os eventos atuais possuem uma significância futura e sem dúvidas alguma se relacionam. A grande questão é esta: "qual seria uma visão coerente a respeito deste assunto"?!
De acordo com Thomas Ice, devemos afirmar que todo o cenário está sendo preparado para o grandioso programa escatológico do nosso Deus. A bíblia apresenta inúmeros eventos, atos, e nações que estão/estarão envolvidas com a "grande tribulação", e, com base nisso, podemos perceber claramente a "preparação divina para os setes anos finais das setentas semanas de Daniel". John F. Walvoord comenta:

"Não há base Bíblica para que se marquem datas para a volta do Senhor ou o fim do mundo... À medida que os estudiosos da Bíblia observam princípios corretos de interpretação, estão ficando cada vez mais cônscios de uma notável correspondência entre a tendência obvia dos eventos mundiais e o que a Bíblia predisse há séculos" (Armageddon, oil and the Middle East Crisis).

Portanto, "no cenário mundial contemporâneo há muitas indicações que levam a conclusão de que o fim desta era pode logo vir sobre nós. [...] nunca antes na história do mundo houve tal confluência de evidências significativas da preparação do fim" (John F. Walvoord; Israel in Prophecy). Isto posto, Thomas Ice Conclui: "alguns desdobramentos históricos que serve como preparação do cenário já estão lançando sua sombra sobre nossos dias. Incluem a apostasia religiosa, os preparativos para o Império Romano revivido na Europa, o Retorno de Israel à sua terra, o renascimento de antigos Inimigos de Israel como Iraque (a Babilônia) e o surgimento da Rússia como poder militar (a invasão de Gogue e Magogue)  todos eles como preparativos para eventos da Tribulação. Antes, porém, que a cortina seja erguida, a igreja subirá aos ares no arrebatamento"[12].










Notas
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[1] Ice, Thomas; Danny, Timothy (Org); Quando a Trombeta Soar. pág, 214.
[2] Ibid.
[3] Ibid.
[4] Ibid.
[5] Pentecost, J. Dwight; Manual de Escatologia. pág, 234.
[6] Ice, Thomas; Danny, Timothy (Org); Quando a Trombeta Soar. pág, 18.
[7] Ibid., pág, 19.
[8] Entre os defensores do pré-tribulacionismo existem divergências quanto a relação do arrebatamento da igreja e a segunda vinda de Cristo. Alguns entendem o arrebatamento da Igreja como uma "primeira fase" do retorno de Cristo; outros, entendem como dois eventos completamente distintos. Particularmente, compreendo o arrebatamento como um evento totalmente distinto da segunda vinda de Cristo, assim  sendo, faço coro com o segundo grupo. Em sua obra, Pentecost faz referência à 17 distinções entre o arrebatamento e a segunda vinda de Cristo.  Ele conclui escrevendo: "Essas e outras contraposições que poderiam ser apresentadas apoiam a alegação de que se trata de dois planos diferentes que não podem ser unificados num só." (Pentecost, J. Dwight; Manual de Escatologia. pág, 268).
[9] Rhodes, Ron; A Cronologia do Fim dos Tempos. pág, 64.
[10] Pentecost, J. Dwight; Manual de Escatologia. pág, 261-262.
[11] Ice, Thomas; Danny, Timothy (Org); Quando a Trombeta Soar. pág, 239.
[12] Ibid., 25.





Dedicatória:
Ao meu amigo e irmão, Luiz Antônio. 

sábado, 24 de abril de 2021

Fé e Obras na Teologia de Tiago


O Dilema

O Principal problema que pode surgir aos nos depararmos com a Epístola de Tiago, é pensarmos que o mesmo está de alguma forma contradizendo o Apóstolo Paulo ou até mesmo o corrigindo concernente a sua compreensão quanto a justificação, já que o Ele - Paulo -  repetidamente afirmava que esta se dava por meio da fé e não por obras. Não obstante, Aqueles que afirmam que na compreensão de Tiago a fé é algo secundário, de menor importância, ou até mesmo subserviente as obras, não percebem que para Tiago, a vida Cristã pode ser resumida em termos de fé (Tg 1.3; 2.1,5), não apenas isso, a fé é algo sine qua non para nossa relação contínua com Deus e se manifesta em oração (Tg 1.6; 5.15). Fica evidente que para o autor, "a vida Cristã começa com um novo nascimento, tornando-se então uma vida contínua de fé".  

Em Defesa de uma Fé Verdadeira

Tiago procura ressaltar ao leitor de que existe uma impossibilidade da existência de uma fé verdadeira sem obras, assim como palavras sem ações. Tiago faz uso de dois exemplo para ilustrar o seu entendimento sobre uma genuína fé; "Tiago Constrói um argumento em favor das obras que não é baseado simplesmente na lógica, mas apoiado na invocação dos exemplos Bíblicos de Abraão e Raabe (Ibid.). Ela - a fé - foi expressada em Abraão que estava disposto a oferecer seu filho a Deus (Tg 2.21) e em Raabe que protegeu os espiões e os livrou de serem presos e consequentemente mortos (Tg 2.25)[1]. Tiago ao longo de sua epístola é insistente quanto a necessidade da fé ser expressa em obras (Tg 2.1-4), consequentemente, com a mesma ênfase, Tiago enfatiza a inutilidade de uma fé sem obras (Tg 2.14-26). Portanto, deve ficar evidente ao leitor que o autor defende a ideia de que a fé verdadeira resulta em obras que a expressa. Entretanto, três temas se relacionam com o argumento de Tiago. Sendo eles:

  • Em primeiro lugar, a obediência deve acompanhar, necessariamente, o ouvir a palavra (Tiago 1.22)
  • Em segundo lugar, Palavras de nada servem sem ações em um contexto na qual se faz de suma importância expressar ambas (Tg 2.15-16)
  • Por fim, a fé desacompanhada de obras é morta (Tg 2.14-17)


Uma Resposta Merecida

Tiago ele está se dirigindo não a Paulo, mas a seus "seguidores" e a todo aquele que possuísse uma visão incorreta quanto a fé. Marshall realça justamente isso ao escrever "Tiago está atacando uma falsa visão da fé, que a entende como pouco mais que uma crença ortodoxa que não muda o estilo de vida de uma pessoa"[2]. Se levarmos em consideração o fato de que ser cristão é ser um crente, Tiago corrige a ideia errônea de que a crença é apenas e exclusivamente "uma mera questão intelectual e que não diz respeito ao comportamento"[3]. Se por um lado o Apóstolo Paulo contestava o ensinamento de que a lei judaica, principalmente a circuncisão e todos os seus aspectos ritualísticos era imprescindível para a Justificação, do mesmo modo, Tiago confrontava aqueles que acreditavam que possuindo um fé em Deus, não havia necessidade de ser expressar o amor, curiosamente, a necessidade de tal demonstração é o mesmo entendimento de Paulo: "Pois, quando estamos unidos com Cristo Jesus, não faz diferença nenhuma estar ou não estar circuncidado. O que importa é a fé que age por meio do amor" (Gálatas 5:6 [NTLH]). Algo que se faz necessário pontuar, é que Tiago em nenhum momento prioriza as obras em detrimento a fé, algo que Paulo combateu em Romanos e em Gálatas. As "obras" em Tiago significa algo totalmente diferente, "Tiago está falando do tipo de boas obras que indica a mudança de caráter que deve acompanhar a conversão cristã"[4]. Ao passo que "obras" em Paulo se refere/significa "obras da lei", pois o que ele combatia era o entendimento de que se fazia necessário as "obras" da lei, em vez da fé ou em complemento a ela, para a justificação".

Conclusão

Não precisamos ver Tiago e Paulo como "inimigos Teológicos", como os veem a maioria dos teólogos alemães, pois, conforme defende Marshall, "é bastante provável que alguns dos ouvintes de Paulo tenham tornado isoladamente  sua insistência na fé como uma desculpa para a falta de esforço em fazer boas ações"[5]. Para Tiago, esta compreensão seria uma "tipo defeituoso de fé" na qual ele de hipótese alguma poderia concordar. Portanto, Tiago e Paulo estão mais lado a lado do que se possa imaginar, defendendo o evangelho de falsos ensinamentos, deturpações e compreensões incorretas.







Notas
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[1] "embora a ilustração de Tiago 2:15-16 trate da diferença entre palavras e obras de amor como um paralelo à diferença entre fé sem obras e fé com obras, ela é sem dúvida uma ilustração altamente apropriada, uma vez que Tiago via as obras de amor como opostas às exigências rituais e como uma das expressões necessárias da verdadeira fé" (Marshall, I Howard; Teologia do Novo Testamento; Ed. Vida Nova; P. 548".
[2] Ibid.
[3] Ibid., p. 591.
[4] Ibid., p. 593.
[5] Ibid.

quarta-feira, 31 de março de 2021

Uma Justificação Cristã da Filosofia (Part 2)



A Filosofia e sua relação com a disciplina do Estudo

 Aqueles que experimentam a disciplina do estudo, vivem experiências que desenvolvem algumas habilidades decorrentes desse hábito, como por exemplo:

  • Enquadrar um tema
  • Resolver problemas
  • Aprender a pesar evidências e eliminar os fatores irrelevantes
  • Aperfeiçoar a capacidade de observar as distinções importantes em vez de confundi-las

Além disso, a disciplina do Estudo também auxilia no desenvolvimento de certas virtudes e valores: 

  • O desejo pela verdade
  • A honestidade com os dados
  • A abertura à crítica
  • A auto reflexão
  • A habilidade para se relacionar não defensivamente com aqueles que são de opinião contrária.

Levando em consideração tudo o que fora dito, o estudo em si mesmo é uma disciplina espiritual, e o simples ato de estudar pode mudar o eu. Obviamente que a disciplina do estudo não é exclusividade da Filosofia, contudo, conforme escreve Willian L. Craig, “ A filosofia está entre os mais dos rigorosos Campos do conhecimento, e a sua abordagem e conteúdo são tão centrais a vida, tão próximos a religião e fundamentalmente a outros Campos de investigação, que a disciplina do estudo filosófico pode ajudar o indivíduo que busca a verdade em qualquer outra área da vida ou da pesquisa Universitária”, portanto, a filosofia poderá facilitar a disciplina espiritual do estudo.


A filosofia e a Integração

 

Conforme conceitua Willian L Craig, integrar significa “misturar ou formar um todo”. A disciplina da filosofia é absolutamente essencial para a tarefa da integração. É importante frisarmos que a integração ocorre justamente “quando as convicções teológicas do indivíduo, principalmente baseadas nas Escrituras, estão misturadas e unidas a proposições julgadas como racionais por outras fontes, dentro de uma cosmovisão coerente e intelectualmente adequada”. Atualmente, entre muitos cristãos, a filosofia é vista com desdém e preconceito, fora o fato de muitos a terem como intrinsicamente hostil a fé cristã; entretanto, grandes homens na história da Igreja a tinha por primazia, como por exemplo: Justino Mártir, Agostinho, Anselmo, Tomás de Aquino, Calvino, Armínio, Jonathan Edwards, John Wesley, Francis Schaeffer, Carl Henry etc. Curioso é notar que William Wilberforce, homem de profunda devoção a Deus e de extrema Paixão pelo ministério prático, considerava o valor da filosofia e da apologética até mesmo para o ensino das Crianças na Igreja: “Numa idade em que sobra infidelidade, observamos os crentes instruindo suas crianças cuidadosamente nos princípios da fé que eles professam? Ou suprimindo suas crianças de argumentos para a defesa daquela fé?”. De acordo com Willian L. Craig, a necessidade da integração ocorre ao menos de três modos:

“Em primeiro lugar, a comunidade cristã precisa ir a todas as áreas do conhecimento para formar uma cosmovisão Cristã integrada e consistente com as escrituras. Segundo, uma pessoa atinge a maturidade à medida que se torna um ser integrado, não fragmentado, e uma das maneiras de se tornar uma pessoa integrada é possuir os vários aspectos da vida intelectual harmonizado[...]. Por fim, quando o Evangelho se confronta com uma nova cultura, a teologia Cristã deve se relacionar com ela de tal maneira que seja, ao mesmo tempo, sensível à cultura e fiel as Escrituras. Essa tarefa incluirá questões de valor, conhecimento e formas de pensar, e tais matérias envolvem essencialmente o esclarecimento e o comentário filosóficos” 

Essas são algumas das razões pelas quais a Igreja sempre considerou a filosofia necessária; C.S Lewis argumentou que não estar apto para encontrar o inimigo no terreno dele era “ser ignorante e ingênuo”, e tal deficiência geraria problemas práticos, pois, segundo ele, “seria jogar ao chão nossas armas e atrair nossos irmãos iletrados que não tem, abaixo de Deus, qualquer defesa contra os ataques intelectuais do pagão, exceto nós. A boa filosofia deve existir, se não por outra razão, porque a filosofia ruim precisa ser contestada”.

 

A filosofia e a Comunidade Cristã

 

Na obra, Kingdom and Community: The Social World of Early, John G. Gager afirmou que a presença dos Filósofos e Apologistas dentro da Igreja teve uma grande parcela na elevação da autoconfiança da comunidade cristã, pois a Igreja primitiva sofreu com o preconceito intelectual e cultural por parte dos Romanos e Gregos. Tal preconceito gerou alguns problemas quanto a coesão interna da Igreja e por incrível que se possa parecer, a coragem para evangelizar os incrédulos. E foram justamente estes homens que mostraram que a comunidade cristã era tão intelectual e culturalmente rica quanto a cultura pagã[1]. Logo, a disciplina da filosofia pode elevar a ousadia e a auto-imagem da comunidade cristã. Willian L. Craig salienta:

“É sabido que um grupo, especialmente um grupo minoritário, será vigoroso e ativo somente se estiver de bem consigo mesmo quando se comparar os de Fora. Além disso, haverá mais tolerância em vista das Diferenças internas do grupo e, assim, mais Harmonia, sempre que a comunidade se sentir confortável em relação aos outros [...] Devido a própria natureza da filosofia – suas áreas de estudo, sua importância em Responder questões fundamentais, as quais ela levanta e responde, e sua relação com a teologia –, o potencial dessa disciplina para aumentar a auto-estima da comunidade crente é enorme”.

Portanto, é nítido que historicamente a filosofia tem sido a principal disciplina a auxiliar a igreja na sua relação intelectual e cultural com os incrédulos, não necessariamente para mudar a imagem dos últimos em relação aos primeiros, mas que essa imagem não seja interiorizada por eles. 

"Se os apologistas persuadiram ou não os críticos pagãos a rever sua visão a respeito dos crentes como tolos analfabetos, o certo é que eles tiveram sucesso em fazer incidir sobre o grupo como um todo uma imagem favorável de si mesmo como a corporificação da verdadeira sabedoria e devoção - John G. Gager"

 

 





 Nota
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[1] A obra, “Patrística; Padres Apologistas, Paulos.”, evidencia esse fato.

 




Dedicatória

Dedico esta série a alguns amigos meus - preservarei seus nomes por puro constrangimento pessoal - que sendo ignaros desprezam a filosofia. 

 

 

 

 

segunda-feira, 29 de março de 2021

Dispensacionalismo; Origem, Propagação e Variações


 

O Dispensacionalismo é um sistema teológico pós-Reforma, embora muitas de suas ideias estejam ligadas com a igreja primitiva, o Dispensacionalismo é uma teologia relativamente nova, começando a ser sistematizada em meados do século 19. Por incrível que se possa imaginar, a teologia da Aliança se assemelha em tal aspecto, já que a mesma começou a tomar forma no século 16. Não obstante, Sabendo que o Dispensacionalismo é um sistema teológico que oferece explicações detalhadas sobre Eclesiologia e Escatologia[1], “Algumas ideias Chaves associadas ao dispensacionalismo, tais como pré-milenismo, a esperança para uma restauração nacional para Israel e mesmo o pré-tribulacionismo, também foram mantidas em séculos anteriores. O surgimento do dispensacionalismo está inserido em um contexto de histórico-Teológico de grande expectativa em relação à nação de Israel, que até mesmo teólogos estavam promovendo". William C Watson, na sua obra, “Dispensacionalism before Darby”, conforme escreve Vlach: “Documenta de maneira conclusiva uma forte esperança Apocalíptica, similar ao dispensacionalismo, que existia entre importantes teólogos Ingleses no século 17 e 18”.


 J.N.Darby e o Surgimento do Dispensacionalismo


Mesmo não sendo o primeiro a defender muitas das ideias que ele promoveu, Darby, um dos ministros do Irmãos de Plymouth, é considerado o “Pai do Dispensacionalismo”. Enquanto esteve no Trinity College, em Dublin (1819), baseado em seu estudo de Isaías 32, Darby começou a crer numa futura salvação e restauração da nação de Israel; “Darby concluiu que Israel, numa futura dispensação, usufruiria de bençãos terrenas que seriam diferentes das bençãos celestiais que a igreja experimentaria.  Ele observou uma clara diferença entre Israel e a igreja. Darby também passou a crer em um arrebatamento da igreja "a qualquer momento", que seria seguido pela 70ª semana de Daniel, quando Israel novamente estaria no estágio central do plano de Deus. Darby cria que após esse período haveria o reino milenar, quando Deus cumprirá suas promessas incondicionais com Israel". Darby, em seu próprio testemunho, afirmou que a sua teologia dispensacionalista fora totalmente formada em 1833. Contudo, Paul Enns, em sua obra, “The moody Handbook of theology”, escreveu que “Darby não adiantou o esquema do dispensacionalismo em nada mais do que cada dispensação faz, colocando o homem sob algumas condições; o homem tem alguma responsabilidade diante de Deus. Darby Também observou que cada dispensação combina em fracasso”; e, portanto, essas seriam as verdadeiras contribuições de Darby ao “sistema dispensacionalista” sem contar o fato dele identificar sete destas dispensações.


 A Propagação do Dispensacionalismo como um Sistema Teológico 


O Dispensacionalismo se popularizou devido a no mínimo quatro razões, sendo elas:

  1.  A influência exercida pelos irmãos de Plymouth
  2.  As conferências Bíblicas nos Estados Unidos
  3.  Bíblia de Estudo Scofield
  4.  Aberturas de Seminários 

A influência exercida pelos irmãos de Plymouth

Após Darby, sendo um ministro dos Irmãos de Plymouth, sistematizar o dispensacionalismo, tal teologia tomou forma nos Irmãos no início do século 19, na Grã-Bretanha. E a todo historiador do Cristianismo, é inegável o fato que os Irmãos exerceram uma grande influência no protestantismo evangélico, sobretudo, em vários ministros nos E.U.A, como por exemplo: D. L. Moody, James Brookes, J.R Graves, A. J. Gordon e C. I. Scofield. 

As conferências Bíblicas nos Estados Unidos

No ano de 1870 se deu várias conferências Bíblicas nos E.U.A e tais conferências, mesmo não sendo realizadas para promover o dispensacionalismo, ajudaram em sua propagação. As conferências do Niágara (1870 - início de 1900) é um grande exemplo disso, pois, devido ao fato do dispensacionalismo ter sido por várias vezes discutido ali, muitos dos participantes passaram a ter contado com a Teologia dispensacionalista pela primeira vez. Por outro lado, as Conferências Bíblicas e proféticas americanas (1978-1914), promoveram a teologia do dispensacionalismo. As conferências resultaram na criação de vários institutos que ensinavam a teologia dispensacionalista, sendo alguns deles: The Nyack Bible Institue (1882), The Boston Missionary Training School (1889) e o The Moody Biblie Institute (1889).

Bíblia de Estudo Scofield 

Scofield, conforme supracitado, teve influências dos Irmãos Plymouth, e além disso, ele foi um dos participantes da conferência do Niágara. E após tal conferência, o mesmo produziu a Bíblia de Estudo de Scofield em 1909. Comentando sobre, Vlach Escreve: “Essa Bíblia de referência tornou-se um significativo distribuidor da teologia dispensacionalista e colocou uma Bíblia com notas de especialistas nas mãos de muitos. Até mesmo os críticos do dispensacionalismo ainda se referem a Bíblia de Estudo Scofield como o portador padrão das crenças dispensacionalistas”. Curioso é notar que após 35 anos do seu lançamento, a Bíblia de Estudo Scofield já tinha ultrapassado a marca de duas milhões de cópias vendidas.

Aberturas de Seminários

Logo Após o término da Primeira Guerra Mundial, várias escolas Bíblicas dispensacionalistas foram fundadas, sendo lideradas por um dos seminários teológicos mais conhecido no mundo atualmente, o Dallas Theological Seminary (1924). E neste período o dispensacionalismo foi promovido em moldes mais acadêmicos e formais.


 O Dispensacionalismo Hoje

 

Algo que torna o dispensacionalismo tão distinto, é a razão de tal sistema não possuir um credo ou confissão que congele o seu desenvolvimento ao longo da história. Em sua Obra, “Dispensacionalismo Progressivo”, acertadamente Blaising realçou que “o dispensacionalismo não tem sido uma tradição estática”. Através de autoanálise e exames, o dispensacionalismo muitas vezes revisou a si mesmo, e assim como ocorreu com outros sistemas teológicos, o dispensacionalismo viu mudanças e desenvolvimentos. Dessarte, atualmente podemos destacar quatro corretes/variações dentro do Dispensacionalismo, sendo elas:

Dispensacionalismo Clássico/Tradicional: J. N. Darby, Scofield, Lewis Sperry Chaffer 

Dispensacionalismo Revisado/Modificado: John Walvoord, Dwight Pentecost, Charles Ryrie, Charles Feinberg 

Dispensacionalimo Integrativo: Michael Vlach

Dispensacionalismo Progressivo: Craig Blaising, Darrel Bock, Robert L. Saucy





 

Notas
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[1] “A preocupação primária do Dispensacionalismo é com a eclesiologia e escatologia, enfatizando a aplicação da hermenêutica histórico-gramatical a todas as passagens da Escritura contidas tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Faz necessário afirmar que é intrínseco ao Dispensacionalismo uma distinção entre Israel e a Igreja como também uma futura salvação e restauração da nação de Israel num futuro reino terreno sob o governo de Jesus Cristo; sendo, portanto, o Messias, a base para um reino mundial que trará bênçãos a todas as nações” https://lucasamaciel.blogspot.com/2020/08/mitos-sobre-o-dispensacionalismo-part-1.html



Dedicatória:

Dedico todo o conteúdo deste "Artigo" ao meu caro amigo e irmão em Cristo, Melk Damaceno. Ao me perguntar sobre a origem do dispensacionalismo, criou-se em mim o desejo de esvrever sobre o assunto.