quinta-feira, 30 de julho de 2020

A Importância do Estudo das Doutrinas Bíblicas e as Suas Relações




O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a sua Relação com o Intelecto Humano

O intelecto humano não se contenta com o conhecimento fragmentando ou com uma simples acumulação de fatos, pelo contrário, sempre busca uma unificação e sistematização do seu conhecimento. O ser humano é uma unidade que não pode viver para sempre com desordem mental, “não podemos viver vidas completamente Racionais até que aquele acordo latente entre Nossa e diferentes percepções possa ser compreendido como um princípio que dá unidade a todas as ideias a respeito do mundo”. Logo, “A mente não se satisfaz apenas em descobrir certos fatos a respeito de Deus, do homem, e do universo: ela deseja conhecer as relações entre essas pessoas e coisas e organizações descobertas em forma de um sistema”. A tendência do homem de harmonizar o seu conhecimento aparece a partir do momento que a mente passa a refletir sobre as coisas, como escreve E. Strong: “é apenas na proporção dos dons e cultura que o impulso de sistematizar e formular aumenta”. E Isso se dá em todos os departamentos da busca humana, em especialmente no nosso conhecimento sobre Deus, “porque a verdade relativa a Deus é a mais importante de todas, a teologia vai ao encontro da mais profunda necessidade da natureza racional do homem”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Erro

Assim como a astrologia surgiu contrapondo concepções supersticiosas e fantasiosas da astronomia, o estudo das Doutrinas desmascara e expurga falsos conceitos e ideias acerca de Deus e sobre o que contém e afirma as sagradas Escrituras. Assim como o homem conceberam ideias completamente errôneas acerca dos luminares fazendo surgir assim uma “pseudociência”, da mesma forma o homem, devido ao seu endurecimento a Deus, idealizou Teologias/Doutrinas falsas acerca de Deus, resultando assim no paganismo. Como afirmou D. C. Hodge, "Que ninguém creia que erro doutrinário seja um mal de pouca importância [...] nenhum caminho para a perdição jamais se encheu de tanta gente como o da falsa doutrina. O erro é uma capa da consciência, e uma venda para os olhos”. Se fôssemos perfeitos em natureza poderíamos ler as Sagradas Escrituras e não nos rebelaríamos com as verdades nela contida. Mas devido a nossa natureza caída, “o estudo da Teologia Sistemática/Doutrinas Bíblicas nos ajuda a superar nossas ideias rebeldes”. Não apenas isso, nos ajudar a tomar decisões de concordância ou não no que se refere a novos “entendimentos e interpretações” teológicas que possam surgir.  Além do mais, o estudo doutrinário tem o compromisso com a elaboração e preservação das doutrinas Cristãs, ajudando assim, em tempos obscuros a resgatar a pureza dos ensinamentos bíblicos. Vale salientar que “Na sua caminhada histórica, o cristianismo está sujeito a ataques e contaminações de superstições, imoralidades, pensamentos filosóficos, científicos ou religiosos que lhe são contrários. Uma teologia bem fundamentada na Bíblia é necessária para combater esses ataques e preservar a verdade cristã. O cristão tem o dever de denunciar o falso ensino e defender a verdade (1Tm 1.3,4; 3.15; Hb13.9; 2Jo 9,10)”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com a Verdade

Infelizmente, cada vez mais, o valor e a importância doutrinária tem sido minimizado e negada. Em ambientes universitários, em faculdades e até mesmo em determinados seminários, cosmovisões ateísta, agnóstica, panteísta etc, impera, e ao longo dos seus dias, seus defensores se dedicam a defender falsos conceitos, ideias e estilos de vida que não correspondem com a verdade revelada nas Escrituras. Por isso, “Precisamos mostrar a eles que a bíblia é uma solução melhor para muitos problemas que suas filosofias nem tentam responder; e que as Escrituras possuem uma visão plena e consistente do mundo e da vida”. Como ressalta Mayer PearlMan: “Quão grande diferença haveria no comportamento da tripulação de um navio que estivesse ciente de que viajava em direção a um destino determinado, e o comportamento da tripulação dum navio que navegasse à mercê das ondas e sem rumo certo. A vida humana é uma viagem do "tempo" para a eternidade, e é de grande importância a pessoa saber que essa viagem não tem significado ou rumo certo, ou que é uma viagem planejada pelo Criador e dirigida por ele para um destino celestial”. Entender corretamente os ensinamentos doutrinários do cristianismo é a solução para a confusão criada pela miríade de pessoas que afirmam ter a verdade com ele.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e Sua Relação com a Salvação

Gostaria de destacar duas passagens nas escrituras que lida com tal relação. Em João 8.24 lemos “Por isso, eu vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis nos vossos pecados”; na perícope 9 do Capítulo 1 de Gálatas está escrito: “Assim, como já dissemos, e agora repito, se alguém vos prega evangelho que vá além daquele que recebestes, seja anátema”. Na primeira passagem, Jesus deixa claro que a salvação “depende”[1] de se ter a doutrina correta sobre a sua pessoa. Isso significar dizer que quem nega a divindade de Cristo, por exemplo, é impossível ser salvo. No segundo trecho que destacamos, Paulos se refere a doutrina da Justificação pela graça por meio da fé. Segundo Franklin Ferreira & Alan Myatt, “Essa doutrina é que define a natureza da salvação em Jesus Cristo. Ela é a linha que divide a fé verdadeira das crenças das seitas e religiões não-cristas. E ela que também estabelece a divisão entre a fé da Reforma e a fé da igreja católica. A importância de se crer corretamente nesta doutrina não pode ser subestimada na pregação e na vida de nossas igrejas. A eternidade das pessoas está em jogo”. É indiscutível a relação dos Estudos da doutrina Bíblica com a salvação, pois ela esclarece o ensino bíblico de suma importância para a nossa fé. Por isso Millard Erikson escreve: “as crenças doutrinárias corretas são essências para relação entre o crente e Deus”
O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação com a Leitura das Escrituras

As Escrituras não é um livro com um mero conteúdo histórico. Nela contém verdades claras e estabelecidas, e essas verdades são doutrinas. Martin Lloyd-Jones escreve: “para ler a minha bíblia muito bem, significa que eu preciso me interessar em doutrina. A Bíblia quer que eu apreenda a sua doutrina. Noutras Palavras, posso conhecer minha Bíblia muito bem, mas, a não ser que compreenda a importância de apropriar-me de suas doutrinas, o meu conhecimento será totalmente inútil para mim”.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Desenvolvimento Cristão

Crenças firmes produzem um carácter firme, e convicções definidas; “assim como uma boa espinha dorsal é parte essencial do corpo, assim um sistema definido de crença é uma parte essencial da religião”. Uma definição doutrinária impede com que o Cristão possua uma viver volúvel e corcundo. Obviamente que o viver cristão – a Ortopraxia – é mais importante que o conhecimento teórico doutrinário, não obstante, a experiência Cristã se correlaciona com o conhecimento doutrinário, sem a qual, é impossível vive-la. Cada vez mais que nos labutamos em compreender e conhecer a Deus, mais confiança teremos nele, mais o louvaremos e facilmente o obedeceremos. Waynen Grudem salienta, “A Bíblia frequentemente conecta a sã doutrina com maturidade na vida cristã: Paulo fala de "a doutrina que está em conformidade com a verdadeira religião" (1 Tm 6:3) e diz que seu trabalho como apóstolo é " que, por meio da fé, os eleitos de Deus virão a conhecer a verdadeira religião "(Tt 1:1). Em contraste, indica que todos os tipos de desobediência e imoralidade "é contrário à sã doutrina" (1 Tm 1:10)”. A ideia de que há pouca ou nenhuma relação entre a crença de um homem e o seu carácter é extremamente equivocada, pois o homem age de acordo com aquilo que ele realmente crer, e não de acordo com aquilo que ele simplesmente diz crer; não apenas isso, a ideia de que o estudo das doutrinas tem um efeito entorpecedor sobre a vida espiritual também é falsa, pois se não for tratada como mera teoria, esse efeito entorpecedor não existirá de maneira nenhuma “ao invés disso servirá de guia para o pensamento inteligente a respeito de problemas religiosos e um estímulo à uma vida santa”. Como muito bem indaga H. C. Thiessen, “como poderia ideias plenas e corretas a respeito de Deus, do homem, do pecado, de Cristo, da Bíblia, etc., levar a outra coisa?” Assim sendo, claramente os estudos das doutrinas bíblicas  não apenas nos ensina/indica que tipo de vida devemos viver, mas nos inspira completamente  a viver de tal maneira, ou seja, nos fornece motivos para vivermos de acordo com tais normas; “uma boa teologia oferece-nos subsídios para que possamos conhecer mais de Deus, que deve ser o nosso objetivo principal, através de sua revelação especial nas Escrituras”; A moralidade crista é um fruto que cresce só a partir da arvore da doutrina crista. Logo, a dissociação entre teologia e vida é algo estranho a fé cristã e, consequentemente, a igreja de Cristo. Muitos negam a importância do estudo das doutrinas bíblicas ou o ver em segundo plano, pois afirmam que tem se verificado na história da igreja uma ênfase exagerada na doutrina em contraposição ao cuidado com carácter cristão, evangelização e serviço social; outros não enxergam os objetivos de tal estudo como também efeitos na vida do Cristão. Mas como já deve ter sido entendido pelo leitor, o estudo das doutrinas bíblicas não pode ignorar ou substituir a vida prática do cristão. Pelo contrário, “o seu propósito é fundamentar intelectualmente a fé para que o cristão possa desenvolver a sua vida espiritual e ter atuação mais eficaz no mundo, nos diversos contextos culturais”. Além do mais, a fé cristã se baseia em verdades ensinadas nas escrituras – Doutrinas –  logo, conhecer melhor tais verdades é imprescindível para a firmeza e o desenvolvimento da vida com Deus. Zacarias Aguiar frisa: “Pedro saúda seus leitores dizendo: “graça e paz vos sejam multiplicadas pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor” (2Pe 1.2). O crescimento na graça de Deus, ou o desenvolvimento da vida espiritual está atrelado ao pleno conhecimento de Deus”. Dessarte A.H.Strong escreve, “Todo o subsequente desenvolvimento do caráter – Cristão –  está condicionado a evolução do conhecimento. Cl. 1.10 [...] “crescendo através do conhecimento de Deus”; o dativo instrumental representa o conhecimento de Deus como o orvalho ou a chuva que alimenta o desenvolvimento da planta”; Portanto, a verdade doutrinária que integralmente é digerida pelo cristão e pela Igreja é essencial ao desenvolvimento também do carácter cristão. Os mais fortes cristãos são aqueles que possuem uma forte segurança nas grandes doutrinas do cristianismo “as épocas heróicas da igreja são as que têm mais consistentes testemunhos dela”.  Precisamos ter em mente que a ignorância é a mãe da superstição, e não da devoção.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação Com o Ensino

Um dos propósitos do estudo sistemático das doutrinas bíblicas é pôr em ordem as verdades doutrinárias contidas nas escrituras. Essa necessidade possui como razão não apenas a compreensão, mas o compartilhamento de tais verdades. Em Mt 28:19-20 observamos claramente a ordenança de Jesus Cristo direcionada aos seus discípulos quanto ao Ensino de tudo o que ele falou. Entretanto, essa ordenança envolve não apenas o conteúdo oral de Cristo, mas também a interpretação e aplicação da sua vida, ensinamentos, as epístolas[2], e por último, mas não menos importante, “quando consideramos que os escritos do Novo Testamento aprovou a confiança absoluta de que Jesus tinha autoridade e confiabilidade das Escrituras do Antigo Testamento como palavras de Deus, e quando percebemos que as Epístolas de Novo Testamento também endossou essa visão do Antigo Testamento como palavras absolutamente autoritária de Deus, torna-se claro que não podemos ensinar "tudo o que Jesus ordenou" excluindo igualmente todo o Antigo Testamento”. Isso significar dizer que cumprir a ordenança de Cristo contida no evangelho de Mateus envolve ensinar todas a Sagradas Escrituras. Portanto, uma das razões e importâncias de se estudar as doutrinas bíblicas, é que podemos ensinar a nós mesmo e aos outros como a bíblia afirma, cumprindo portando a segunda parte da grande comissão e isso demanda estudo, compreensão e exposição da palavra de Deus.

O Estudo das Doutrinas Bíblicas e a Sua Relação com a Pregação

Ao nos depararmos com as passagens de Mc 4.2; At 2.42; 2Tm 3:10, percebemos que a pregação de Cristo e dos Apóstolos eram extremamente doutrinárias.  Infelizmente, em muitas igrejas nos dias hodiernos, existe uma grande ou total aversão a este tipo de pregação; pregações “emocionalistas” e que não requeira concentração de pensamento e reflexão, cada vez mais são ministradas nos nossos templos. A questão é que a função do pregador é mais instruir que comover, pois conforme está escrito em 2Tm 4.2; Tt 1.9, somos exortados a pregar a doutrina contida nas Escrituras. H. C. Thiessen escreve: “tem sido frequentemente demostrado que é apenas na medida que as pessoas forem completamente instruídas na palavra de Deus que elas se tornarão cristãos e trabalhadores eficazes por Cristo. Há, assim, uma relação definitiva entre a pregação doutrinária e o serviço Cristão eficaz”. É importante salientarmos que para se propagar o evangelho na sua inteireza é necessário a compreensão do seu conteúdo como também do seu significado, e não apenas isso, também é importante a capacidade de explica-lo de forma Inteligível a outrem, por isso, Zacarias Aguiar afirma: “Sem uma base doutrinária segura e firme, um lastro teológico bem fundado, a igreja perde sua capacidade militante. A teologia é uma arma poderosa no ministério (Tt 1.9). Lloyd Jones ressalta que “não há nada mais importante para um pregador do que ter uma teologia sistemática, conhecê-la e ser bem versado nela”, e que “Cada mensagem que brota de um texto em particular ou de uma afirmativa das Escrituras, deve ser sempre uma parte ou aspecto desse corpo total de verdade””. Portanto, o método da pregação dos Profetas, de Cristo e dos discípulos era o de proclamar doutrinas “Eles tinham uma mensagem, e a apresentavam ao povo; usavam as Escrituras para mostrar qual era a doutrina do texto”. Logo, a pregação consiste em apresentar a verdade a congregação, nada mais anula os esforços de uma pregação que confusão e inconsistência doutrinária contida na pregação, como frisa A. H. Strong, “Mutilar a doutrina ou interpretá-la falsamente não é só um pecado contra o seu Revelador, - pode levar à ruína as almas dos homens. A melhor salvaguarda contra tal mutilação ou falsa interpretação é o estudo diligente das várias doutrinas da fé nas inter-relações e especialmente nas relações com o tema central da teologia, a pessoa e obra de Jesus Cristo”. O pregador necessita conhecer as doutrinas bíblicas, evitando assim se tornar um pregador repetitivo, simplório e cansativo e até mesmo exclusivamente emocionalista; “O falso pregador tem de dizer alguma coisa; o verdadeiro pregador tem alguma coisa para dizer” (John Henry Newman).



Notas
____________________________________________________
[1] É claro que a salvação não é apenas questão de doutrina correta, mas a doutrina correta sobre os pontos básicos da fé cristã é essencial.
[2] Sendo Escritas sob a "supervisão do Espírito Santo" elas se constituem, "mandamentos do Senhor" (1 Coríntios 14:37, ver também João 14:26, 16:13; 1 Tessalonicenses 4:15, 2 Pedro 3:2 e Apocalipse 1:1-3)



Bibliografia

Myer PearlMan; Conhecendo as Doutrinas Bíblicas; Editora Vida; 2006, 335 páginas.
Wayne Grudem; Teologia Sistemática; Atual e Exaustiva, Vida Nova, 2009, 2098 páginas
Henry Clarence Thiessen, Palestras introdutórias a Teologia Sistemática, Imprensa Batista Regular ,1989, 391, páginas.
Franklin Ferreira & Alan Myatt; Teologia Sistemática; uma análise Histórica, Bíblica e Apologética para o contexto atual; Vida Nova; 2007; 1218 páginas. 
Zacarias de Aguiar Severa; Manual de Teologia Sistemática; A.D Santos Editora; 2016; 315 páginas.
Millard J. Erickson; Teologia Sistemática; Vida Nova; 2008; 764 Páginas.
D. Martyn Lloyd-Jones; Grandes Doutrinas Bíblicas – Vol 1; 1997; PES; 467 Páginas. 
Augustos Hopkins Strong, Teologia Sistemática – Vol 1; Hagnos; 2003; 680 Páginas. 

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Uma Interpretação de Romanos 9 na Cosmovisão Soteriológica Arminiana (Part 6)



Assim como também diz em Oseias: Chamarei povo meu ao que não era povo; e amada, à que não era amada; e no lugar em que se lhes disse: vós não sois meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo (V. 25-26).


Após deixar estabelecido no verso 24 que Deus demonstrou sua misericórdia não apenas aos Judeus, como também aos gentios, o Apóstolo Paulo cita Oseias (2.23; 1.10) e Isaías (10.22-23; 1.9) para demonstrar que esse propósito estava claro nos textos proféticos, como também o fato que os gentios seriam recebidos como povo de Deus, por outro lado, a grande massa dos Israelitas seriam rejeitados por não ter fé em Deus[1]. Mathew Henry ressalta que “Os judeus sem dúvida a atribuíam de boa vontade ao Antigo Testamento, as Escrituras que lhes tinham sido confiadas. Então, ele mostra como isso, que era tão incomodo para eles, foi tratado ali”[2]. Comentado sobre a utilização das respectivas passagens por Paulo, Daniel Gouvêa escreve:

Enquanto os versículos 26-27 falam da inclusão dos gentios, os versículos 27-29 falam da inclusão do remanescente fiel de Israel. Isso é feito através da citação de Isaías 10:22-23. O texto de Isaías 10:23 está no contexto iminente de derrota que Israel estava para experimentar diante dos exércitos assírios, especialmente em virtude da incredulidade do povo em confiar em Deus para prover o livramento da invasão assíria. Assim como no passado, onde a grande maioria de Israel não teve fé somente na providência de Javé para serem salvos, o mesmo estava acontecendo no presente com os leitores de Paulo”[3].

Não houve surpresa da parte de Deus com a rejeição de Israel. A maioria dos Israelitas acreditam ser o único povo de Deus devido a sua linhagem, contudo o plano de Deus nunca foi salvar apenas os Judeus, mas também convocar todas as nações a esta graciosa salvação. As passagens que o Apóstolo cita contida em Oseías ressalta que aqueles que não eram conhecidos como povo de Deus, pela sua misericórdia e graça, por meio de Cristo, estavam se tornando seus filhos (Jo 1:13). Mathey Henry ressalta justamente isso ao afirmar:

“Os gentios não eram o povo de Deus, não o reconheciam, nem eram reconhecidos por Ele nessa relação: “Mas”, diz Ele, “chamarei meu povo ao que não era meu povo, o farei e o reconhecerei como tal, apesar de toda a sua indignidade”. Uma bendita mudança! A maldade anterior não é nenhum obstáculo a presente graça e misericórdia de Deus. “...e amada, a que não era amada”. Aqueles que Deus chama de seu povo, chama também de “amada”: Ele ama aqueles que são dele”[4].

Portanto, como F.F Bruce comenta: “o A.T revela o plano de Deus segundo o qual os gentios se tornariam o seu povo, a sua amada, e seus filhos” (F. F Bruce (Org) ;Comentário Bíblico NVI; Pag, 1850). Russell N. Champlin, após explicar algumas particularidades sobre “as operações da graça divina” que Paulo queria ensinar ao citar a passagem de Oséias 2.3 e comentar sobre algumas interpretações de Oseias 10.22-23 e sua relação com o motivo que levou Paulo citar no contexto de Rm 9, ele escreve:

“Não há que duvidar que, seja como for, Paulo queria enfatizar que todos os homens, judeus ou gentios, na realidade são “estranhos”, até que intervenha a graça de Deus, embora muitos não se considerem como tais. A graça divina, que nos é propiciada através de Cristo, reduz todos os homens ao mesmo nível de degradação e desespero, a fim de que possa eleva-los, juntamente, e sem qualquer distinção, aos lugares celestiais, em Cristo Jesus. O apostolo mostra que essa chamada dos gentios não foi nenhuma questão fortuita, mas antes, um firme propósito da mente divina, que ele havia revelado amplamente por intermédio dos seus profetas; e assim, opondo-se a chamada dos gentios, os judeus na realidade renunciavam aos seus profetas e combatiam contra o próprio Deus [...] Assim sendo, se por um lado a profecia de Oseias originalmente se referia a restauração das dez tribos dispersas de Israel a Palestina, Paulo lhe empresta um significado muito mais profundo. Ele vê nela uma restauração ou redenção humana geral, incluindo, todos os representantes da humanidade”[5].

Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente em breve; como Isaías já disse: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixando descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra (V. 27-29).

Ao citar Isaías, segundo D.A Carson, Paulo levanta três pontos que servem como um resumo do Cap 9 e uma preparação para cap 11, sendo eles:

1: Não é de estranhar que muitos judeus "irmãos" de Paulo são incrédulos, e a própria Escritura tinha previsto que apenas o remanescente será salvo ( Is 10:22.)

2: Alguns judeus são salvos e estão se tornando parte do novo povo de Deus: um remanescente será salvo ( cf. 11: 3-7 ); 

3: Deus é quem efetua a salvação de seu povo: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência ... ( Is 1 :. 9 )[6].

É importante salientarmos que da mesma maneira que o Apóstolo Paulo se encontrava aflito com a situação da nação Israelitas em seus dias (v. 1-3), assim também o profeta Isaías se encontrava; “O profeta se mostrou intensamente angustiado, e, como num grito de dor, clamou por causa de Israel”. O ensino de Isaías acerca de um remanescente sinalizava para época de Paulo, quando uma minoria judaica faria parte da Igreja. Portanto, não era algo que tinha dado errado nos planos de Deus, pelo contrário, o A.T já assegurava isso. Assim sendo, como comenta F. F Bruce, “Os gentios estão na igreja simplesmente porque aceitaram o evangelho. A maioria dos judeus está fora da igreja simplesmente porque o rejeitou[7], não obstante, Craig Kenner salienta: “Muitas vezes no AT, Israel como um todo, estava em apostasia e com apenas um remanescente salvo. Para Paulo, fazia sentido que Israel como um todo não fosse salvo em sua geração (embora uma geração futura de Israel o fosse, 11.26-27)[8]. Tendo o mesmo entendimento, Russell N. Champlin escreve sobre o versículo de número 27: 

“A alusão original da profecia, ou seja, a alusão imediata, mui provavelmente dizia respeito ao retorno de um pequeno remanescente, vindo da Babilônia, após o cativeiro; porém, em seu escopo mais distante, a profecia se prolonga até os dias finais da presente dispensação, antes da volta de Cristo. O original hebraico diz aqui retornará, o que subentende um retorno após o cativeiro, mas, por igual modo, um retorno espiritual para Deus. Paulo, desse modo, apresenta-nos as palavras em seu sentido profético, isto é, “será salvo”, aludindo a salvação eterna, e não meramente a redenção nacional por causa de algum inimigo terreno”[9].

O versículo 28 ressalta justamente todas essas implicações Escatológicas e como afirma Russell N. Champlin: “A ideia dessas palavras, pois, se torna obvia: Haverá grande tribulação e angustia, que agirá, como agente purificador e salvador, não servindo meramente para punir; pelo contrário, será esse o meio que Deus usara para corrigir e redimir, porquanto, mediante a tribulação, surgirá um remanescente purificado, embora os demais provem um amargo castigo e tremenda destruição. Isso envolvera a terra inteira, e não apenas Israel; e os resultados por toda a parte serão idênticos"[10]. Paulo, ao fazer uso das cidades de Sodoma e Gomorra (v.29), sabia muito bem que a destruição dessas tais cidades era entendida pelos Judeus como um juízo de Deus contra o mal e consequentemente o pecado. E, Deus, poderia tratar de igual modo com a nação incrédula de Israel. “Portanto, não seria nenhuma novidade, na maneira de Deus tratar com os homens, se apenas um remanescente do povo de Israel viesse a encontrar favor da parte de Deus, ao passo que a esmagadora maioria desse povo, por causa de sua obstinação, incredulidade e total desconsideração para com as leis morais e espirituais de Deus, viesse a ser julgada, de conformidade com o estilo do juízo que sobreveio a Sodoma e Gomorra”[11]. Apesar do pecado, incredulidade e uma contínua rebeldia do povo Israelita, Deus por meio da sua misericórdia e graça salvaria um remanescente. Como muito bem escreve Russell N. Champlin:

“Os judeus bem poderiam levantar objeções contra a doutrina paulina da eleição, a qual asseverava que somente o remanescente de Israel seria salvo. Mas aqui o apostolo mostra que a rebelião da nação de Israel é tão grande que, a menos que houvesse a intervenção benigna de Deus, na eleição, ninguém de Israel seria salvo. Foi somente a bondade soberana do Senhor que salvou a qualquer dos israelitas, como também só essa bondade pode salvar a qualquer outro indivíduo. Israel se torna neste versículo, um exemplo de toda a raça humana. Podemos entender que, sem o concurso da graça de Deus, sem o proposito divino da eleição, todos os homens, em sua rebelião e pecado inerente, jamais chegariam a atingir o proposito divino da redenção. Isso estabelece a eleição em seu colorido autêntico, ou seja, como um meio beneficente usado por Deus, e não como um agente destruidor e injusto das massas que são deixadas de lado, conforme tantos tem imaginado”[12].

Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço; Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido (V.30-33)

Ao longo dos versículos iniciais e subsequentes de Romanos 9, a Justificação pela fé encontra-se implícito em todo o texto, já que este tema fora tratado em capítulos anteriores, mas nos versículos 30-33, de forma explícita, Paulo ele deixa claro que o motivo dos Judeus estarem sendo rejeitados era devido a busca da justificação pelos méritos e descendência, e não pela fé em Cristo – este é tema principal do capítulo seguinte. Fazendo um paralelo entre os Judeus e os Gentios, Paulo escreve nos versículos 30-31, que diferentemente dos Judeus que perseguiram e buscavam com ardor as obras da lei como o caminho para a justiça ou forma de produzi-la, os gentios que não buscaram ou se empenharam por um justo relacionamento com Deus, pelo contrário, estiveram completamente entregues a suas paixões e desejos (1:18-32), ainda assim o encontrou, ou seja, “Como eles tinham estado alienados da justiça: eles não a seguiram; eles não conheciam a sua própria culpa e miséria e, portanto, não eram de forma alguma solícitos a procurar um remédio. Na conversão deles, a graça preveniente foi altamente exaltada: Deus foi “...achado por aqueles que não o buscavam” (Is 65.1)”[13]. Logo, “os gentios que criam, os quais nunca tinham mostrado interesse em serem justos diante de Deus, agora estavam sendo perdoados e recebidos ela graça de Deus”[14]. O versículo 32 é nítido quanto ao fato que os gentios alcançaram a justiça por meio de fé em Cristo. “Paulo está finalmente demonstrando para os judeus que o único meio de entrar em justo relacionamento com Deus é através da fé. A questão não era ser da linhagem física de Abraão, permanecer na lei ou viver na justiça, a questão era voltar para Deus em fé na base do sacrifício de Jesus Cristo”[15]. Moody ressalta que não por acaso Paulo faz tanto uso da palavra “Justiça”; “Os gentios crentes descobriram a chave do relacionamento do homem com Deus – a Justiça. Eles encontraram a justiça que Deus concede por causa da fé em Cristo”[16]. Assim sendo, há um contraste entre dois tipos de Justiça, sendo elas: A Justiça de Deus, que é disponível exclusivamente pela Fé e a Justiça própria. A exigência justa da lei jamais poderá ser satisfeita por aqueles que seguem o caminho da justiça legal (Rm 7), mas somente por aqueles que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Russell N. Champlin resume esses pontos ao afirmar: 

“Os judeus procuravam a justiça como se tudo estivesse fundamentado sobre as obras da lei, e falharam miseravelmente nessa louca tentativa, conforme também a extensa exposição de Rom. 2:25-3:20 nos descreve. Percebe-se, por conseguinte, que Israel ficou aquém até mesmo da “justiça legal”, quanto mais da verdadeira justiça de Deus, que só é conferida ao homem mediante a fé em Jesus Cristo. (Ver Rom. 3:22). Isso sucedeu porque os judeus não puderam perceber duas impossibilidades, a saber:

1. Ninguém pode guardar a lei em sua inteireza, sobretudo quando a lei é interpretada espiritualmente, incluindo até mesmo os motivos que partem do coração, conforme o Senhor Jesus a interpretava.

2. A justiça de Deus é perfeita, e precisa ser perfeitamente formada no crente; e isso é uma realização que só pode concretizar-se através da comunhão mística com o Espirito Santo, devido ao processo interior da regeneração, e não devido a meras observâncias externas e legalistas, a ritos, cerimonias, etc., sobre o que os judeus tinham depositado uma confiança exagerada (Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 766).

Ao fazer uso da expressão “pois tropeçaram na pedra de tropeço” e fazer citação de duas passagens do profeta Isaias “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido (Is 28:16;8:14)”, o Apostolo alude as passagens do N.T que o termo “pedra” é aplicado a Cristo (ex: Mc 12:10-11; At 4:11, 1Pe 2:6-8), e faz os Judeus lembrarem do contexto por de trás das palavras de Isaías. “A primeira parte do versículo 33 refere-se a Is 8:14. Nessa ocasião Israel estava sob o perigo do Juízo de Deus. Por isso Deus diz que a Pedra será “rocha de tropeço e de ofensa, laço de armadilha para as duas casas de Israel”. A segunda parte do versículo se refere a Is 28:16. Este Texto é uma promessa de que Deus e colocaria em Sião “uma pedra já aprovada, preciosa, angular, e aquele que crer nela não foge”, trazendo assim esperança para Israel”[17]. Jesus Cristo em Mc 12:10-11 declarou ser essa Pedra angular ao afirmar: “[...]A pedra, que os edificadores rejeitaram, esta foi posta por cabeça de esquina”. É importante salientarmos que os Judeus entendiam a passagem de Isaías como sendo uma forte imagem messiânica, e ao rejeitarem Jesus Cristo[18], tornavam-se justamente os construtores/edificadores que rejeitariam aquele que é a Pedra angula; “A combinação das duas passagens como uma profecia de Cristo e Sua salvação é lugar comum na apologética cristã primitiva, e é de fato pré-paulina. Vemo-las combinadas de modo semelhante em 1 Pedro 2:6-8, onde são vinculadas a uma terceira "pedra" testimonium — a pedra rejeitada do Salmo 118:22. (Em Lc 20:17s., a pedra rejeitada do salmo e a pedra de tropeço de Is 8:14 são associadas a outra "pedra" testimonium ainda — a pedra "cortada sem auxílio de mãos" que feriu a imagem do sonho de Nabucodonosor em Dn 2:34s.)”[19]. Portanto, “para aqueles judeus que rejeitaram a justificação pela em fé em detrimento de obras e descendência física, Jesus é uma Pedra de tropeço, escândalo e Juízo[20]. Porém, aqueles Judeus e gentios que crêem em Jesus como o Messias/Cristo não serão envergonhados. Para os da fé, Jesus é a Pedra Angular. Para os descrentes, Jesus é a pedra de Juízo, e Deus é Justo em agir assim”[21]. Comentando as citações de Isaías que Paulo realizou, N.T Wright frisa:

“Ao trazer essas duas passagens juntas, Paulo inteligentemente usou um texto bíblico combinados para dizer que agora, mais uma vez em cumprimento da escritura, e não como uma mudança de planos por parte de Deus, a fundação da nova "construção" de Deus foi descontraído, mas que aqueles que não acreditam nele, no Messias, que é a fundação, vai tropeçar nesta "pedra" e cair de cara no chão. Ele ainda explica como é que a falha substancial de Israel a crer em Jesus como Messias, seja durante a carreira pública de Jesus ou durante o tempo presente do trabalho missionário, não representa uma frustração do plano de Deus ou uma mudança da mente de Deus, mas sim uma satisfação inesperada, embora compreensível apenas em retrospectiva, do que Deus havia planejado o tempo todo”[22].

Não obstante, o versículo 33 nos dá plena certeza que aqueles que confiam em Deus de hipótese alguma precisarão temer ou ficar aflito que a sua confiança nele venha a mostrar-se infundada. “O homem que se firma no alicerce de Deus "mantém a cabeça fria quando todos à sua volta estão perdendo a cabeça e estão pondo a culpa nele"; não fica girando e rondando para cá e para lá, mas confia em Deus, certo de que o Seu propósito se cumprirá no tempo de Deus”[23]. O texto no hebraico passa a ideia de não fugir aterrorizado dentro de contexto militar, quando por exemplo, soldados após serem cercados e dominado pelo exército inimigo apressadamente foge do campo de batalha. Logo, nenhum mal ou desgraça sofrerá aquele que deposita a sua confiança em Cristo, o nosso capitão, 'durante todo o decurso da experiência da vida terrena e celestial'. É importante salientarmos que o Termo “[...] não será confundido/envergonhado” corrobora com o texto no hebraico, que consta o seguinte, “não se apressará/fugirá”, visto que, “aquele que é posto em fuga, e abandona o seu tesouro ou a sua fortaleza, é envergonhado ou confundido”[24]. Russell N. Champlin acrescenta:

1: Do que o crente sincero jamais se envergonhará?

a: Nunca se envergonhara de sua escolha; 
b: nem de sua profissão crista;
c: nem da causa e interesse de Cristo, que ele tomou como seus e defendeu no mundo;
d. nem de qualquer tempo sinceramente dispendido no trabalho e serviço de Cristo; e. nem do opróbrio e sofrimento, tribulações e perseguições, sofridos por causa de Cristo;
f: nem, na eternidade, ele jamais se envergonhara de ter-se envergonhado aqui de Cristo e seu evangelho, de sua obra e serviço, de sua causa e interesse.

2: Quando o crente não se envergonhará?

a: Quando é chamado a dar testemunho sobre Cristo perante o mundo, na hora da morte, ou no dia do juízo; 
b: não importando o espanto daquele dia, nem a majestade do Juiz, a separação que então será feita.

3: Por que o crente nunca se envergonhará? 

a: O pecado, a causa dessa vergonha, terá sido removido;
b: Aquele de quem ele poderia razoavelmente temer a vergonha, jamais se envergonhara dele; 
c: o crente poderá olhar para Deus e Cristo, em sua consciência e no mundo inteiro, face a face, sem qualquer pejo ou sofrimento (Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768-769)

Mediante todos esses fatos é algo irônico constatar o que Wiersbe escreveu: “Eis o paradoxo da história: os judeus tentaram ser justos e foram rejeitados, e os gentios foram recebidos, apesar de não terem os privilégios dos judeus!”[25].


Conclusão


Acredito que ao ler este último capítulo foi percebido por parte do leitor que em nenhum momento cheguei a citar Armínio. Isso é devido a razão de que em sua carta enviada à Gellius Snecanus ele a encerra sem comentar os versículos que são abordados neste último capítulo, por entender que não há debate/disputa sobre tais trechos – Entendo que as maiores disputas existentes se dão na área da escatologia (Ver nota 10). Especificadamente sobre todo o capítulo 9 de Romanos fica claro que em suma, este capitulo diz que a justificação de Deus não está baseada em méritos próprios (de obras ou descendência física), antes é única e exclusivamente pela fé (que é oposto a obras) em Jesus Cristo. E Deus é perfeitamente Justo e soberano em agir dessa maneira”[26]; Conforme Daniel Gouvêa escreve: “O capítulo todo exalta a graça soberana de Deus, mas não minimiza a responsabilidade de homens e de mulheres de tomarem a decisão certa. A palavra do Senhor prevalecerá, apesar da desobediência humana, mas os pecadores desobedientes perderão as bênçãos. Nenhuma mente humana consegue sondar ou explicar a sabedoria de Deus (veja 11:33-36), mas sabemos que não há salvação sem a graça soberana do Senhor[27].













Notas
_________________________________________________________ 
[1] Paulo se utiliza de um argumento progressivo para refutar a objeção primária e principal quanto a rejeição dos descendentes físicos de Abraão à salvação. Ele começa pela narrativa dos patriarcas, passa pelo êxodo, e finalmente chega nos profetas, “onde a rejeição de rebeldes israelitas e a inclusão dos gentios são mencionadas e ampliadas pelo apóstolo”. (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 110). 
[2] Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; pág, 374.
[3] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 110. 
[4] Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; pág, 374. 
[5] Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 762-763.
[6] D.A Carson; Comentário Bíblico Vida Nova; pág, 1391.
[7] F.F Bruce (Org); Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento; pág, 1851 
[8] Craig S. Keener; Comentário de Romanos; pág, 211. 
[9] Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 763. 
[10] Ibid. pág, 763. Para um maior aprofundamento recomendo a obra  de J. Dwight Pentecost - Manual de Escatologia.
[11] Ibid. pág, 764
[12] Ibid. pág, 765
[13] Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; Pág, 369. 
[14] Comentário Bíblico Beacon; Romanos a 1 e 2 Coríntios; Pág, 143.
[15] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 113.
[16] Pfeiffer, Charles F.; Comentário Bíblico Moody; Gênesis à Apocalipse; Pág, 83. 
[17] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 113-114. 
[18] Comentando sobre a rejeição de Jesus Cristo por parte da nação Judaica, Russell N. Champlin escreve: “A pedra de tropeço foi colocada em Sião, o próprio lugar onde ninguém deveria tropeçar por causa de Cristo, porquanto o Messias transparecia na liturgia judaica, em suas orações, e era considerado pelos judeus como a esperança central de Israel. Não obstante, ele apareceu de uma maneira que não agradou aos israelitas, exigindo deles a transformação espiritual, e não defendendo qualquer reforma política, que era a única reforma que anelavam. Por esse motivo e que “se escandalizaram” com ele, rejeitando e crucificando-o, desde então tendo ficado escandalizados ante a cruz (Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768).
[19] F.F Bruce; Romanos; Introdução e Comentário; Pág, 96. 
[20] Tropeçaram não significa “tropeçar por descuido”, mas sim “ficar aborrecido com”, “mostrar irritação com”. Para os judeus, a Cruz do Messias era um escândalo, que os irritava e os aborrecia com indignação. “Assim como nós nos zangamos com algum obstáculo no nosso caminho, em que tropeçamos e machucamos os nossos pés... também se diz que os judeus... proskopsai to litho touproskommatos, ou seja, rejeitaram a Jesus como aquele que deixou de satisfazer os ideais que tinham em relação ao Messias (Comentário Bíblico Beacon; Romanos a 1e 2 Coríntios; Pág, 143).
[21] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 116. 
[22] N.T Wright; Comentário do Novo Testamento; Pág, 1052-1053.
[23] F.F Bruce; Romanos; Introdução e Comentário; Pág, 96. 
[24] Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768
[25] Comentário Bíblico Wiersbe Novo Testamento 426.
[26] Ibid. Pág, 426.
[27] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 116.

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Uma Interpretação de Romanos 9 na Cosmovisão Soteriológica Arminiana (Part 5)



Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade? (V. 19)

Uma outra objeção, que poderia ser lançada ao seu argumento anterior, é antecipada por Paulo “De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade” (V: 19). Essa objeção procuraria enfatizar que se Deus ele endurece a quem quer, não há culpa naqueles que são endurecidos pois isso faz parte da sua vontade; ou seja, Deus não pode justamente encontrar culpa naqueles que são endurecidos por Sua própria vontade onipotente” [1]. Conforme frisa Armínio: Assim, existe uma contínua proposição dessa espécie – Se ninguém pode resistir à vontade de Deus, então Ele não pode justamente encontrar culpa naqueles a quem Ele endurece de acordo com aquela vontade [2]. Armínio procurando estabelecer uma base previa para a resposta de Paulo a essa objeção, ele discorre sobre a elucidação de duas questões extremamente importantes; em primeiro lugar, quem são aqueles que em que Deus pode encontrar culpa com Justiça? E em segundo lugar, Se, e de que maneira, quem são endurecidos pela vontade onipotente de Deus podem ser considerados isentos daqueles que se encontram culpa?.

Procurando esclarecer a primeira questão, Armínio deixa claro que apenas e exclusivamente devido ao pecado Deus poderá encontrar culpa com Justiça, assim ele escreve: “A causa adequada da ira divina, e que, por conta da qual Deus pode censurar com justiça a qualquer um, é o pecado”[3]. Entretanto, o pecado precisa se correlacionar com alguma Lei vigente, e não apenas isso, a Lei precisa ser justa. Se uma lei não é justa de hipótese alguma poderá ser imputado algum pecado a sua violação/transgressão. Segundo Armínio, para uma lei ser justa necessariamente requer dela duas condições; ela precisa ser promulgada por alguém que possua autoridade e, que seja possível a realização e o cumprimento da mesma – incluindo nesse segundo aspecto a inexistência de qualquer decreto impeditivo/interveniente que impossibilite de realiza-la. Isto posto, Armínio deixa estabelecido que o pecado é algo necessariamente voluntário:

“O pecado é uma transgressão voluntária da lei”, que o pecador, uma vez que poderia evitá-lo (eu falo agora do ato), o comete, de sua própria culpa. Por conta de um pecado deste tipo, e a um pecador deste tipo, Deus pode repreender com justiça. Se esta condição for removida, Deus não poderá repreender com justiça um homem por causa do pecado, e, na verdade, o homem [nesta condição] não pode cometer pecado”[4].

Portanto, segundo Armínio, estes são aqueles que nos quais Deus pode encontrar culpa com Justiça. Concernente a segunda questão: “Se, e de que maneira, quem são endurecidos pela vontade onipotente de Deus podem ser considerados isentos daqueles que se encontram culpa?”, Armínio ressalta que a onipotência – de Deus –  “Não acompanha a vontade, considerada em todos os aspectos, pois Deus quer que Sua lei seja obedecida por todos, o que nem sempre é feito; como também, em Deus não há duas vontades mutualmente contraditórias[5] “uma das quais deseja que a sua lei deve ser obedecida por todos, e a outra, que não deve ser obedecida”. Levando em consideração tais pontos Armínio ele afirma que segundo as Escrituras e conforme salientando anteriormente:

“Nada é mais comum na Escritura, do que [o fato de que] os pecadores, ao perseverarem em seus pecados contra a longanimidade de Deus, que os convida ao arrependimento, são aqueles a quem Deus quer endurecer”[6].

Assim sendo, se Deus move a vontade do homem ao endurecimento e o impulsiona a tal estado isso é suficiente para isenta-lo da Justa ira de Deus, ou seja, “se ali existir qualquer força de impulso divino, que seja seguida pela inevitável necessidade de fazer aquilo para o qual ele [o homem] é movido” ao homem não poderá ser atribuída a culpa pela transgressão da Lei. Por outro lado, se ele comente o que conforme a vontade e desígnios de Deus merece o Endurecimento do livre-arbítrio, ele está sujeito a culpa e é digno da ira “mesmo se puder ser endurecido por aquela vontade que não pode ser resistida. Pois, resistindo, e isso livremente, a vontade divina, revelada na palavra, que pode ser resistida, ele é trazido para aquela necessidade do decreto divino, também revelado na palavra, que não pode ser resistido e, assim, a vontade de Deus é feita com relação a ele, por quem a vontade de Deus não é feita”[7].

Para refutar a objeção dos Judeus, Paulo se utiliza de um outro exemplo, para mais uma vez, e de forma inequívoca, estabelecer a Justiça de Deus no que diz respeito a sua rejeição aos descendentes físicos de Abraão. Comentando sobre a refutação de Paulo a objeção supracitada, Armínio enaltece o fato que Paulo não procurou em nenhum momento respostas evasivas, “de modo que ele não pudesse refutar a própria objeção”, muito menos, evolveu o assunto com tamanhas dificuldades “para que ele pudesse coagir e restringir o objetor, aterrorizado pela dificuldade do assunto”, pelo contrário, “mas ele mais apropriadamente e efetivamente refutou toda objeção. Eu me atreveria a afirmar que em toda a Escritura nenhuma objeção é mais suficientemente
Refutada”[8].

Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim? (V. 20)

Neste momento o Apóstolo começar de fato a responder a possível objeção que poderia ser levanta pelo Judeus. Paulo, aparentemente, no versículo de número 20, faz referência a dois trechos de Isaías, sendo eles: Isaias 29:16 “Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e a coisa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe” e Isaias 45:9 “Ai daquele que contende com o seu Criador! E não passa de um caco de barro entre outros cacos. Acaso, dirá o barro ao que lhe dá forma: Que fazes? Ou: A tua obra não tem alça”. Segundo Daniel Gouvêa: “Na passagem de Isaías 45:9, o profeta está demonstrando como tema central do capítulo a “futilidade de qualquer oposição ao plano de Deus” (e isso estava sendo feito pelo “oponente” de Paulo em Rm 9). Isaías 29:16, que é de fato a âncora de Paulo para o versículo 21, fala acerca do Juízo de Deus contra o povo de Israel por não ter confiado em Deus, mas, antes, ter confiado nos recursos políticos e nas riquezas provindas das nações pagãs. Por isso é que o Senhor diz a Isaías 29:16 “Que perversidade a vossa! Como se o oleiro fosse igual ao barro, e a obra dissesse do seu artífice: Ele não me fez; e a coisa feita dissesse do seu oleiro: Ele nada sabe”[9].

Sobre o motivo e aplicação que fez Paulo fazer menção ao A.T Daniel Gouvêa comenta:

“É pertinente Paulo usar essas menções do Antigo Testamento aqui, pois assim como em Isaías os Israelitas estavam dependendo de seus próprios esforços e não dos meios de Deus para salvação, em Romanos 9 o mesmo acontece, pois, os Israelitas estavam dependendo de seus próprios méritos de descendência abraâmica para salvação e não do único meio que Deus escolheu para salvar, isto é: a justificação pela fé em Cristo. Portanto, nessas condições seria fútil aos judeus dos tempos de Paulo, assim como foi aos do tempo de Isaías, se opor ao Juízo de Deus”[10].

Portanto, Segundo Armínio, “A resposta do apóstolo é dupla. Por um lado, reprovando o objetor em razão de sua própria indignidade e aquela da objeção; por outro lado, refutando a objeção”. Armínio esboça que a natureza da reprovação da objeção levantada pelos Judeus é triplice “a reprovação, sua razão e a prova de sua razão”.

A Reprovação: Na forma de pergunta, a reprovação é apresentada com as seguintes palavras: Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?!.

Conforme Daniel Gouvêa, muitos estudiosos entendem que Paulo ao fazer uso da expressão (ó homem), “procurava demonstrar um deliberado contraste entre o homem e Deus. Demonstrando, desta forma, que esse tipo de objeção é baseado na perspectiva humana”[11]. Armínio também compreende assim ao resumir da seguinte maneira a intenção das palavras de Paulo:

“Isto é, considere, ó homem, quem és tu e quem é Deus, e compreenderás que tu és indigno de responder a Deus desta maneira. Difamar tão excelente doutrina de modo tal a acusar a ira de Deus de ser injusta e desculpar inteiramente o homem, foi resistir a Deus em Sua própria face e se opor mais diretamente a Ele”[12].

Notamos claramente a indignação do Apostolo Paulo ao “homem” que levantou tal objeção, ao ponto de severamente repreendê-lo.

A Razão: Da seguinte maneira a razão é emitida pelo Apostolo Paulo: Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?

Paulo faz questão de comparar Deus e o homem. Se por um lado o homem é o objeto formado, Deus é quem formou tal objeto. Devido a essa razão, é leviano, afrontoso e completamente reprovável ao homem responder Deus assim.

“Nesta comparação, o apóstolo dá a razão pela qual não é adequado para o homem, como “a coisa formada”, responder assim a Deus, como para “Aquele que o formou”, como se ele dissesse, “pois não é permitido à coisa formada dizer Àquele que a formou, ‘Por que me fizeste assim?’. Assim também, não é permitido a ti, ó homem, responder a Deus desta forma. Pois tu nada mais és do que um barro e um verme da terra, uma coisa feita por Deus, mas Deus é Aquele que te fez e te formou”[13].

Prova de sua razão:

Portanto, assim como oleiro tem direto e poder sobre sobre o vaso, Deus possui todo direito e poder sobre o que ele formou, nesse caso, sobre aquilo de que ele formou. Não apenas isso, a comparação realizada por Paulo procura estabelecer que Deus tem o direito sobre a sua própria criatura, assim como tem o oleiro. Armínio Resume estes pontos escrevendo assim:

“Se o oleiro tem poder para, da mesma massa, fazer um vaso para honra e outro para desonra, não é para ti, a coisa formada, dizer para Aquele que te formou: Por que me fizeste assim? – Mas o oleiro tem esse poder; – Portanto, etc”. Em segundo lugar: “Se o oleiro tem esse poder sobre o barro, então Deus também tem o mesmo poder sobre os homens, ou melhor, sobre aquilo do qual Ele estava prestes a formar ou fazer os homens; – Mas o primeiro é verdadeiro; – Portanto, o último também é verdadeiro”. Por isso, também “não é para o homem replicar contra Deus: por que me fizeste assim?”, ou fazer esta objeção em razão da qual o apóstolo reprova e repreende o objetor”[14].

Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra? (V. 21)

O versículo de número 20 é uma explicação para a comparação que Paulo usa no seu argumento contrário a objeção dos Judeus. Em primeiro lugar é importante destacarmos que era muito comum dentre os Judeus a figura de vasos para honra – para fins nobres – e vasos para desonra – fim desprezíveis. Em segundo lugar, sem dúvidas o barro representa Israel. Portanto, Paulo ao se utilizar deste exemplo pretendia fazer com que os Judeus compreendessem que ao longo da História Deus sempre possuiu vaso de honra (Crentes) e vasos de desonra (Incrédulos) dentre o povo de Israel, ou seja, entre os Judeus não haviam somente utensílios de honra, mas os de desonra também. A expressão honra (τιμὴν) e desonra (ἀτιμίαν) aplicada a utensílios, fora utilizada por Paulo em 2Tm 2:20: “Ora, numa grande casa não há somente utensílios (Gr: vasos, ferramentas, domesticas, utensílios caseiros) de ouro e de prata; há também de madeira e de barro. Alguns, para honra; outros, porém para desonra”. Entretanto, de acordo com o contexto posterior (V.21): “Assim, pois, se alguém a si mesmo se purificar destes erros, será utensílio para honra, santificado e útil ao seu possuidor, estando preparando para toda boa obra”. Isso significar dizer que os utensílios de desonra que consta no (V.20) poderiam vim a ser utilizados para fins de honra. Paulo fazendo referência aos vasos para honra e para desonra em Rm 9 tinha em mente a mesma ideia expressada nos versículos 20-21 de 2Tm. Além do mais, como destaca muito bem Daniel Gouvêa:

 “Vale lembrar ainda que tanto Paulo como os Judeus certamente estavam familiarizados com o texto de Jeremias 18, em que a figura do oleiro com os vasos é também usada em referência a Israel. Nesta passagem, observamos que na visita de Jeremias a casa do oleiro, o vaso estraga-se em suas mãos (v.4), e o problema obviamente não está no oleiro, mas no barro. O oleiro reutilizou o barro como bem lhe apareceu, não jogando fora e pegando outro (v.4). Assim, o senhor pode remodelar seu povo de acordo com o seu comportamento (vs 7-10). Contudo, seu povo espantosamente rejeitou ser “remodelado” por Deus mantendo uma atitude rebelde (11-16). Consequentemente o povo seria punido por tal rebeldia (v.17)”[15].

Portanto, Paulo usa a metáfora do oleiro e dos vasos para deixar claro que ninguém pode se queixar de Deus, retirar a sua culpa e subsequentemente atribui-la a Deus pelo destino que lhes reserva. “Quando essa metáfora é usada em Jeremias 18, ela se refere à habilidade do oleiro de mudar sua ideia inicial sobre a massa de barro especifica, dependendo de como o barro se comporta. Não se afirma que o modo do barro se comportar depende de Deus, de fazê-lo comporta-se assim (I. Howard Marshall, Teologia do Novo Testamento, p. 292). Armínio entende que na passagem supracitada, três coisas são consideras. Sendo duas delas, de forma explícita e uma de forma implícita, mas que se encontra entre as duas explícitas. Ele escreve:

“Primeiro, é necessário que um homem deva existir e seja um vaso. Segundo, é necessário que antes que ele possa ser um vaso de ira ou de misericórdia, ele deva ser um vaso de pecado, isto é, um pecador. Terceiro, que ele deve ser um vaso de ira ou de misericórdia”[16].

Paulo ao utilizar a expressão vaso, segundo Armínio, expressa a ideia que Deus não apenas criou o homem, mas ele o criou para um determinado fim; este fim seria a glória de Deus, algo que é expressando nas Escrituras; isso significar dizer que “Deus fez o homem para a Sua própria glória, isto é, não que Ele devesse receber glória do homem, mas para que Ele pudesse demonstrar Sua própria glória de uma forma muito mais distinta, pelo homem, do que por Suas outras criaturas”[17]. A demonstração da glória de Deus manifestaria não apenas a bondade de Deus, mas também a sua justiça, sabedoria e poderio. Devido a sua bondade ele comunicaria a si mesmo; a justiça prescreveria a regra para essa comunicação; a sabedoria, como ela poderia e adequadamente possivelmente ser feita; e seu poder, que Ele devesse ser capaz, de fato, de comunicar a si mesmo. Portanto, o homem – e nele o resto da humanidade – seria um vaso – instrumentos adequados – para demonstrar a justa bondade de Deus, ao abençoa-lo se ele vivesse em justiça, como também a sua ira, ao puni-lo se caso transgredisse os seus mandamentos. Armínio resume seu entendimento quando escreve:

“A partir disso, torna-se evidente qual é o verdadeiro sentido daquelas coisas que são aqui propostas pelo apóstolo, a saber, que Deus tem o poder de fazer os homens da matéria não formada e de estabelecer um decreto que lhes diz respeito, de pura escolha e prazer de Sua vontade, sancionada por certas condições, de acordo com as quais Ele faz alguns vasos para desonra e outros vasos para honra; e, portanto, o homem não tem nenhuma razão justa para replicar contra Deus porque Ele tem, por Sua vontade irresistível, feito a ele para ser endurecido, uma vez que a persistência no pecado intervém entre aquela determinação da vontade e o real endurecimento; por conta da qual obstinação, Deus deseja de acordo com o mesmo prazer de Sua vontade, endurecer o homem por sua vontade irresistível. Se alguém disser que Deus tem poder absolutamente ou incondicionalmente para tornar um homem um vaso para desonra e ira, ele fará a maior injustiça à Divindade, e irá contradizer a clara declaração da Escritura”[18].

Armínio faz questão de frisar por diversas vezes que o homem pecou, e fez-se um vaso mau, isto é, um pecador, ademais “com nenhuma concordância da cooperação divina para esse resultado[...]”. Outra coisa que é importante frisarmos, trata-se sobre a execução do decreto, conforme a vontade-livre e irresistível de Deus, que corresponde aos vasos da Ira e endurecidos. Segundo a Armínio a execução desse decreto não toma lugar até depois, que o homem, o tendo-se tornado pecador, tornou a si mesmo digno da ira.

Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição, a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão, os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios? (V. 22-24)

Nenhuma outra explicação poderá ser dada a comparação/exemplo que o apostolo se utilizou, a não ser a que ele declara nos versículos 22-24. Paulo procura enfatizar que os endurecidos são objeto da ira divina – a expressão “esses vasos de ira [...]” encontra-se no genitivo de destino – ou seja, Deus direciona a sua ira aqueles que já são, de fato, vasos de ira. Não é o endurecimento do homem a causa da ira de Deus, mas a ira de Deus é a causa desse endurecimento. Por isso, os judeus não poderiam encontrar injustiça em Deus, nem tão pouco poderiam cogitar a ideia de que nos endurecidos não havia culpa, pois, conforme Armínio salienta: “Ele não pode endurecê-los, a menos que eles já tenham, por sua própria culpa, se tornado vasos da mais justa ira de Deus. A Escritura toda ensina que o endurecimento é o efeito e o sinal da ira divina. Por isso, a pergunta “Deus pode ficar irado com os endurecidos?” – é tola”[19]; A expressão “preparados para destruição” – se interpretada corretamente – ressalta justamente isso [20].


Voz Média ou Passiva?


O verbo ’Preparados’ (Gr: κατηρτισμένα) se interpretado na voz média, expressa a ideia de que os vasos que são objetos da Ira de Deus, prepararam-se a si mesmo para destruição (tendo preparados a si mesmo para destruição), em detrimento na voz passiva, que expressaria a ideia de que Deus os prepara para destruição (tendo sidos preparados por Deus para destruição). Primeiro, é importante ressaltarmos que vários sínodos condenaram como heréticos algumas interpretações “contemporâneas” baseadas na perícope 22 de Romanos 9. Carlos A. Vailatti comenta: (1) A noção de que os perdidos se perdem pela vontade de Deus e de que Deus destina uns à morte e predestina outros à vida foi condenada pelo Sínodo de Arles (473 d.C.); (2) A crença de que algumas pessoas tenham sido predestinadas ao mal foi anatematizada pelo II Sínodo de Orange (529 d.C.); (3) A doutrina da dupla predestinação, defendida por Gottschalk de Orbais (808-867 d.C.), foi repudiada pelos Sínodos de Mainz (848 d.C.) e de Quiercy (849 d.C.); (4) Finalmente, a ideia de que Deus predestinou a malícia (o mal) nos seres humanos foi rechaçada pelo Sínodo de Valença (855 d.C.). Os ensinamentos alistados nos itens 1 a 3, em especial, talvez com algumas ligeiras variações, são muito semelhantes a determinadas doutrinas ensinadas em nossos dias”; Em segundo lugar, no período dos pais da igreja, a interpretação comum era o verbo (katertismena) na voz média, Vailatti escreve: “No período dos pais da igreja, os “vasos de ira” de Romanos 9:22 foram identificados com “os não crentes” que “não quiseram arrepender-se” (Ambrosiastro – 366-384 d.C.?); aqueles que se tornaram tais vasos “por sua própria vontade” (Crisóstomo – 347-407 d.C.); aqueles que receberam “os merecimentos da impiedade anterior e oculta” (Agostinho – 354-430 d.C.); “os que têm a vontade pessoal de viver como vasos de ira” (Constâncio – 405 d.C.?) e, finalmente, aqueles que “abundando em seus próprios pecados, se converteram em vasos dignos de ira, preparados por si mesmos para a sua perdição” (Pelágio – 354-420 d.C.)”. Aparentemente, esse era o mesmo tipo de entendimento de Irineu de Lião (135-202 d.C.) e Basílio de Cesareia (330-379) ao escreverem, respectivamente:

“Ofereça a Ele o seu coração em um estado suave e tratável, e preserve a forma pela qual o Criador te modelou” e “se você, sendo obstinadamente endurecido, rejeitar a operação de Sua habilidade, [...] perdeste, ao mesmo tempo, sua obra e vida”.

“Quando o apóstolo fala de ‘vasos de ira preparados para a destruição’ (Rm 9:22), não imaginemos que exista uma espécie de preparação perversa do faraó, pois então seria mais justo transferir a causalidade para aquele que o preparou. Em vez disso, quando você ouve ‘vaso’, entenda que cada um de nós foi criado para algo útil. É como em uma grande casa, onde alguns vasos são de ouro, alguns de prata, alguns de barro e alguns de madeira (2 Tm 2:20). A livre escolha de cada um fornece a semelhança no material”.

E por fim, mas não menos importante, há um grande número de Autores que defendem o verbo ‘preparados’ na voz média. Vailatti escreve:

Os autores Arndt e Gingrich, em sua famosa obra A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature (uma obra de referência internacional no estudo do grego do NT) dizem que o verbo katertismena de Romanos 9:22 pode estar na voz média, significando, portanto, “tendo preparado a si mesmos para a destruição”. O Dicionário Vine, de modo semelhante, ao comentar a respeito do significado do verbo grego katartizo, em Romanos 9:22, declara que “aqui a voz média significa que eles mesmos ‘se prepararam’ para a destruição”. Wiersbe, em seu comentário sobre o sentido de katertismena, assevera, de modo análogo, que “o verbo está naquilo que os gramáticos chamam de voz média, tornando-o um verbo de ação reflexiva. Então, deve-se ler: ‘prepararam a si mesmos para a destruição’”. Kaiser, após ponderar sobre qual seria a tradução mais adequada de katertismena em Romanos 9:22 (se na voz passiva, se na voz média), conclui que “a ideia reflexiva da voz média é a escolha correta aqui”. Hobbs, entendendo o referido verbo na voz média, comenta que “Deus mostrou muita paciência para com aqueles que, através do pecado e de corações endurecidos, fizeram-se vasos de ira preparados para a destruição”. Ironside, ao aludir aos vasos de ira, de Romanos 9:22, explica que “eles deliberadamente se prepararam para a perdição”. Dunn lembra-nos que “o ‘ser preparado’ para a destruição não foi inteiramente ou unicamente a ação do divino oleiro. Como ele [Paulo] argumentou tão claramente em [Romanos] 1:18-32, a ira de Deus vem sobre a rebelião do homem, sua rebelião precisamente contra o seu papel de criatura”. De acordo com Franzmann, “Paulo [...] não disse que Deus cria os homens para serem vasos de Sua ira, que Ele condena os homens à ira desde a eternidade. [...] A ira de Deus não é um movimento primordial de Sua vontade, em eterno equilíbrio com Seu amor; a ira é a reação de Deus à culpa dos homens”. Hendriksen, admitindo a possibilidade de que katertismena esteja na voz média, declara que “aqui, no versículo 22, as próprias pessoas – em cooperação com Satanás – foram os agentes ativos” de sua preparação para a destruição. Por fim, Stott, ponderando sobre o significado de Romanos 9:22, diz que “ele [Paulo] descreve os objetos ou vasos da ira de Deus simplesmente como preparados para destruição, prontos e maduros para isso, sem indicar, contudo, o agente responsável por tal preparação. Deus certamente nunca ‘preparou’ ninguém para destruição; não seria o caso que estes, em sua própria opção por praticar o mal, tenham preparado a si mesmos para tal?”. Estas obras, entre outras que poderiam ser mencionadas, apontam claramente para a plausibilidade da tradução de katertismena na voz média, perspectiva esta que parece ser condizente com o contexto imediato e amplo de Romanos 9.”[21].

Assim sendo, e conforme Armínio ressalta, o modo de endurecimento é a “paciência e brandura” (Lat. patientiam et mansuetudinem, “paciência e delicadeza”), e não a ação onipotente de Deus que não pode ser resistida. Isso é expressado nas palavras “suportou com longanimidade os vasos de ira”. Isso corrobora com o que já mencionamos anteriormente nas “considerações quanto ao endurecimento de faraó” (pág 30), pois, Deus suportou com grande paciência não apenas Faraó, mas toda a nação do Egito. Da mesma forma Deus suportou pacientemente a nação de Israel se arrepender dos seus pecados ao longo de toda a sua História, mas isso não aconteceu (Lucas 13:34), discorrendo assim vários juízos da parte de Deus e o derramamento de sua ira à nação de Israel, ou seja, Deus o entregou à destruição e ao exílio. Portanto, Paulo, além de se utilizar do termo suportou (Gr: Aturou, tolerou) acrescentou os termos, com muita (Gr: πολλή) longanimidade (Gr: μακροθυμία). Desejando enfatizar a incrível e inacreditável paciência de Deus para com os tais – os vasos de ira). Não obstante, Armínio comenta:

“Não é o decreto, pelo qual Deus determinou endurecer os vasos de ira, pertencente à vontade que não pode ser resistida?”. Isso é realmente verdade. Mas uma coisa é Deus usar o ato onipotente de Sua própria vontade para efetuar o endurecimento, e outra coisa para Ele é determinar por essa vontade que Ele endurecerá os vasos de ira. Pois, nesse caso, o exercício da vontade é atribuído ao decreto de endurecer e não ao ato; entre os quais a diferença é tão grande que é possível que Deus deva, por Sua vontade irresistível, fazer um decreto com relação ao endurecimento dos vasos de ira por Sua paciência e longanimidade”[22].

Assim, Paulo deixa estabelecido que Deus, de fato, decidiu manifestar não apenas a sua ira, mas também o seu poder naqueles que são considerados vasos de ira preparados para a destruição. A expressão “Deus querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder[...]” diz respeito a clara vontade de Deus em demonstrar a sua ira. Esse desejo diz respeito à espontaneidade da santidade divina e a ferocidade do todo poderoso contra o pecado (Rm 2:5; Ap 19:15) e “isso faz sentido com o carácter de Deus, o desejo de executar seu juízo santo. Deus deseja justamente manifestar a sua ira santa contra o pecado e isso pode ser visto em toda a Bíblia, bem como ao longo da carta aos Romanos”[23]. Armínio comenta:

“e, assim, eles são descritos [como aqueles] em quem Deus iria mostrar a Sua ira e poder, de modo que todos eles pudessem abranger juntos, em si mesmos, as justas causas da ira divina. Pois Ele não está irado com eles, a menos que eles já tenham se tornado vasos de ira; nem Ele, quando, por seus próprios méritos, eles foram preparados para a destruição, imediatamente, de acordo com o Seu próprio direito, leva a cabo a Sua ira na sua destruição, mas Ele os suporta, com muita longanimidade e paciência, convidando-os à penitência e esperando por seu arrependimento; mas, quando, com um coração endurecido e não sabendo como se arrepender, eles desprezam a longanimidade e a paciência de Deus, não é de se admirar que mesmo a bondade mais misericordiosa de Deus não fosse capaz de contê-lo no exercício da Sua ira, para que, quando a ira exigisse que a justiça devesse prestar a ela seu próprio e mais alto direito, Ele não parecesse ignorá-la”[24].

É importante frisarmos que a paciência de Deus possui uma finalidade de levar as pessoas ao arrependimento (Rm 2:4; 2Pe 3:9), e levando em consideração o contexto do capítulo 9[25], “os presentes objetos da ira de Deus em Romanos 9 são os mesmos objetos de sua paciência em Romanos 10:1-15; 11:25-32. Dessa forma, a destruição final mencionada em Romanos 9 é resultado da não crença na justiça de Deus revelada em Cristo”[26]. Entretanto, para aqueles que não despreza a paciência como também a longanimidade de Deus, a estes Deus demonstra as riquezas de sua glória (Rm 2:4 e 11:12), tornando-se assim, vasos de misericórdia, e esses vasos não são apenas Judeus crentes em Cristo, mas também os gentios.

Após resumir toda a explicação da comparação de Paulo através de um outro Silogismo de refutação[27], Armínio, encerra a sua carta escrevendo: “Se alguém me mostrar que essas coisas não estão em conformidade com o sentimento de Paulo, eu estarei pronto para dar a questão por vencida; e, se alguém provar que elas são incompatíveis com a analogia da fé, eu estarei pronto para reconhecer a falha e abandonar o erro”[28]. Segundo Vailatti, este último parágrafo com o qual Armínio encerra a sua carta endereçada a Gellius Snecanus é redigido na forma de um poema, que, segundo Nichols, ficaria assim: “Se algum homem me mostrar Que eu com Paulo estou a discordar Com prontidão me absterei De meu próprio sentido, e o seu reterei: Mas se, ainda, alguém mostrar Que na fé um golpe mortal desferi Com profundo pesar meu pecado irei assumir / E buscar meu erro reparar”. (Cf. NICHOLS, William. The Writings of James Arminius. Apud: BANGS, Carl O. Armínio: Um Estudo da Reforma Holandesa. [Trad. Wellington Carvalho Mariano]. São Paulo, Editora Reflexão, 2015, p.231).















Notas
_______________________________________________________________________ 

[1] Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 64.
[2] Ibid. pág, 64.
[3] Ibid. pág, 65-66.
[4] (Lat. duae in Deo [...] voluntates sibi invicem contrariae)
[5] Ibid. pág, 68.
[6] Ibid. pág, 72.
[7] Ibid. pág, 74.
[8] Ibid. pág, 75.
[9] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 99-100.
[10] Ibid. pág, 100.
[11] Ibid. pág, 99.
[12] Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 76-77.
[13] Ibid. pág, 77-78.
[14] Ibid. pág, 79.
[15] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 101.
[16] Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 86.
[17] Ibid. pág, 87.
[18] Ibid. pág, 95-97.
[19] Ibid. pág, 104.
[20] Para Daniel Gouvêa, não há problema em aceitar o verbo na voz passiva (Foram preparados por Deus). Ele escreve: “Encarar o verbo como voz passiva parece ser o mais natural”.  Apesar das implicações que alguns calvinistas interpretam do versículo 22 em favor da dupla predestinação – sendo ela simétrica ou assimétrica – Daniel Gouvêa salienta “[...] outros, como, Harrison, Hodge, Sheed, Morris e Murray, são mais reticentes. Ao referir-se aos vasos preparados Murray, por exemplo, diz: “Não é necessário nem apropriado pensarmos que toda a preparação mencionada no versículo 23 antecedeu a chamada propriamente dita. A chamada divina seria antes o início do processo preparatório”. Ainda Morris menciona: “Paulo está dizendo que Deus criou pessoas, e que essas pessoas se tornaram pecadoras, e que Deus então lida com esses pecadores”. (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 105)
[21] Todas as citações realizadas dos comentários de Vailatti foram retiradas do link: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=1568972153259596&id=891083714381780, (Um  Estudo Sobre o Significado de Romanos 9:22; Em Defesa da Voz Média). A leitura desse estudo e imprescindível, pois, além dos argumentos supracitados, ele também passa a discorre sobre os motivos gramaticas e contextuais que favorece a interpretação na voz média, além de comentar as objeções de Daniel B. Wallace feitas em sua obra: “Gramática Grega: Uma Sintaxe Exegética do Novo Testamento” a essa visão. Não inserir esse conteúdo neste E-book para evitar alongar-me sobre o tema.
[22] Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 105-106.
[23] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 103.
[24] Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 108-109.
[25] Paulo no capítulo 8 de Romanos, após, no capítulo 7, ressaltar o quanto é frustrante a tentativa de observar e viver pela lei, revela o poder da santificação que permite aos crentes em cristo, desfrutarem do ministério do Espírito Santo, que dá segurança de vitória na vida prática cristã. Paulo, de forma introdutória, apresenta isso no capitulo 6. “Diante de tamanho benefício declarado ao cristão no capítulo 8, os capítulos 9-11 tornam-se urgentes, pois como fica o povo judeu nessa questão, uma vez que em sua maioria estavam rejeitando a mensagem do evangelho proclamado por Paulo e se estribando no seus próprios méritos e descendência abrâamica? E se o povo Judeu, que era o povo de Javé, estava sendo rejeitado, por que os cristãos não haveriam de ser também?” (A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 49-50). O fato é, que, para uma melhor compreensão do capítulo 9 de Romanos, é necessário a leitura dos capítulos 10-11, pois estes três capítulos estão unidos e a partir deles, o apostolo Paulo se utiliza para defender que Deus é justo na presente rejeição de Israel. Por isso Daniel Gouvêa escreve: “é de suma importância relacionar o capítulo à luz de toda a epístola, bem como à luz dos capítulos 10 e 11, pois do contrário será obtida uma compreensão inteiramente não paulina do texto” (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 13).
[26] A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 106.
[27] Armínio, por duas vezes, afirma a beleza da retórica argumentativa de Paulo a objeção dos Judeus. E essa beleza poderá ser vista e lida quando Armínio expõe por meio de silogismo todo o argumento de Paulo em sua carta à Gellius Snecanus nas páginas 109-111
[28] Vailatti, Carlos Augusto; Jacó Armínio-Uma Análise de Romanos 9; pag, 112.