Assim como também diz em Oseias: Chamarei povo meu ao que não era povo; e amada, à que não era amada; e no lugar em que se lhes disse: vós não sois meu povo, ali mesmo serão chamados filhos do Deus vivo (V. 25-26).
Após deixar estabelecido no verso 24 que Deus demonstrou sua misericórdia não apenas aos Judeus, como também aos gentios, o Apóstolo Paulo cita Oseias (2.23; 1.10) e Isaías (10.22-23; 1.9) para demonstrar que esse propósito estava claro nos textos proféticos, como também o fato que os gentios seriam recebidos como povo de Deus, por outro lado, a grande massa dos Israelitas seriam rejeitados por não ter fé em Deus[1]. Mathew Henry ressalta que “Os judeus sem dúvida a atribuíam de boa vontade ao Antigo Testamento, as Escrituras que lhes tinham sido confiadas. Então, ele mostra como isso, que era tão incomodo para eles, foi tratado ali”[2]. Comentado sobre a utilização das respectivas passagens por Paulo, Daniel Gouvêa escreve:
Enquanto os versículos 26-27 falam da inclusão dos gentios, os versículos 27-29 falam da inclusão do remanescente fiel de Israel. Isso é feito através da citação de Isaías 10:22-23. O texto de Isaías 10:23 está no contexto iminente de derrota que Israel estava para experimentar diante dos exércitos assírios, especialmente em virtude da incredulidade do povo em confiar em Deus para prover o livramento da invasão assíria. Assim como no passado, onde a grande maioria de Israel não teve fé somente na providência de Javé para serem salvos, o mesmo estava acontecendo no presente com os leitores de Paulo”[3].
Não houve surpresa da parte de Deus com a rejeição de Israel. A maioria dos Israelitas acreditam ser o único povo de Deus devido a sua linhagem, contudo o plano de Deus nunca foi salvar apenas os Judeus, mas também convocar todas as nações a esta graciosa salvação. As passagens que o Apóstolo cita contida em Oseías ressalta que aqueles que não eram conhecidos como povo de Deus, pela sua misericórdia e graça, por meio de Cristo, estavam se tornando seus filhos (Jo 1:13). Mathey Henry ressalta justamente isso ao afirmar:
“Os gentios não eram o povo de Deus, não o reconheciam, nem eram reconhecidos por Ele nessa relação: “Mas”, diz Ele, “chamarei meu povo ao que não era meu povo, o farei e o reconhecerei como tal, apesar de toda a sua indignidade”. Uma bendita mudança! A maldade anterior não é nenhum obstáculo a presente graça e misericórdia de Deus. “...e amada, a que não era amada”. Aqueles que Deus chama de seu povo, chama também de “amada”: Ele ama aqueles que são dele”[4].
Portanto, como F.F Bruce comenta: “o A.T revela o plano de Deus segundo o qual os gentios se tornariam o seu povo, a sua amada, e seus filhos” (F. F Bruce (Org) ;Comentário Bíblico NVI; Pag, 1850). Russell N. Champlin, após explicar algumas particularidades sobre “as operações da graça divina” que Paulo queria ensinar ao citar a passagem de Oséias 2.3 e comentar sobre algumas interpretações de Oseias 10.22-23 e sua relação com o motivo que levou Paulo citar no contexto de Rm 9, ele escreve:
“Não há que duvidar que, seja como for, Paulo queria enfatizar que todos os homens, judeus ou gentios, na realidade são “estranhos”, até que intervenha a graça de Deus, embora muitos não se considerem como tais. A graça divina, que nos é propiciada através de Cristo, reduz todos os homens ao mesmo nível de degradação e desespero, a fim de que possa eleva-los, juntamente, e sem qualquer distinção, aos lugares celestiais, em Cristo Jesus. O apostolo mostra que essa chamada dos gentios não foi nenhuma questão fortuita, mas antes, um firme propósito da mente divina, que ele havia revelado amplamente por intermédio dos seus profetas; e assim, opondo-se a chamada dos gentios, os judeus na realidade renunciavam aos seus profetas e combatiam contra o próprio Deus [...] Assim sendo, se por um lado a profecia de Oseias originalmente se referia a restauração das dez tribos dispersas de Israel a Palestina, Paulo lhe empresta um significado muito mais profundo. Ele vê nela uma restauração ou redenção humana geral, incluindo, todos os representantes da humanidade”[5].
Mas, relativamente a Israel, dele clama Isaías: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo. Porque o Senhor cumprirá a sua palavra sobre a terra, cabalmente em breve; como Isaías já disse: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixando descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra (V. 27-29).
Ao citar Isaías, segundo D.A Carson, Paulo levanta três pontos que servem como um resumo do Cap 9 e uma preparação para cap 11, sendo eles:
1: Não é de estranhar que muitos judeus "irmãos" de Paulo são incrédulos, e a própria Escritura tinha previsto que apenas o remanescente será salvo ( Is 10:22.)
2: Alguns judeus são salvos e estão se tornando parte do novo povo de Deus: um remanescente será salvo ( cf. 11: 3-7 );
3: Deus é quem efetua a salvação de seu povo: Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência ... ( Is 1 :. 9 )[6].
É importante salientarmos que da mesma maneira que o Apóstolo Paulo se encontrava aflito com a situação da nação Israelitas em seus dias (v. 1-3), assim também o profeta Isaías se encontrava; “O profeta se mostrou intensamente angustiado, e, como num grito de dor, clamou por causa de Israel”. O ensino de Isaías acerca de um remanescente sinalizava para época de Paulo, quando uma minoria judaica faria parte da Igreja. Portanto, não era algo que tinha dado errado nos planos de Deus, pelo contrário, o A.T já assegurava isso. Assim sendo, como comenta F. F Bruce, “Os gentios estão na igreja simplesmente porque aceitaram o evangelho. A maioria dos judeus está fora da igreja simplesmente porque o rejeitou[7], não obstante, Craig Kenner salienta: “Muitas vezes no AT, Israel como um todo, estava em apostasia e com apenas um remanescente salvo. Para Paulo, fazia sentido que Israel como um todo não fosse salvo em sua geração (embora uma geração futura de Israel o fosse, 11.26-27)[8]. Tendo o mesmo entendimento, Russell N. Champlin escreve sobre o versículo de número 27:
“A alusão original da profecia, ou seja, a alusão imediata, mui provavelmente dizia respeito ao retorno de um pequeno remanescente, vindo da Babilônia, após o cativeiro; porém, em seu escopo mais distante, a profecia se prolonga até os dias finais da presente dispensação, antes da volta de Cristo. O original hebraico diz aqui retornará, o que subentende um retorno após o cativeiro, mas, por igual modo, um retorno espiritual para Deus. Paulo, desse modo, apresenta-nos as palavras em seu sentido profético, isto é, “será salvo”, aludindo a salvação eterna, e não meramente a redenção nacional por causa de algum inimigo terreno”[9].
O versículo 28 ressalta justamente todas essas implicações Escatológicas e como afirma Russell N. Champlin: “A ideia dessas palavras, pois, se torna obvia: Haverá grande tribulação e angustia, que agirá, como agente purificador e salvador, não servindo meramente para punir; pelo contrário, será esse o meio que Deus usara para corrigir e redimir, porquanto, mediante a tribulação, surgirá um remanescente purificado, embora os demais provem um amargo castigo e tremenda destruição. Isso envolvera a terra inteira, e não apenas Israel; e os resultados por toda a parte serão idênticos"[10]. Paulo, ao fazer uso das cidades de Sodoma e Gomorra (v.29), sabia muito bem que a destruição dessas tais cidades era entendida pelos Judeus como um juízo de Deus contra o mal e consequentemente o pecado. E, Deus, poderia tratar de igual modo com a nação incrédula de Israel. “Portanto, não seria nenhuma novidade, na maneira de Deus tratar com os homens, se apenas um remanescente do povo de Israel viesse a encontrar favor da parte de Deus, ao passo que a esmagadora maioria desse povo, por causa de sua obstinação, incredulidade e total desconsideração para com as leis morais e espirituais de Deus, viesse a ser julgada, de conformidade com o estilo do juízo que sobreveio a Sodoma e Gomorra”[11]. Apesar do pecado, incredulidade e uma contínua rebeldia do povo Israelita, Deus por meio da sua misericórdia e graça salvaria um remanescente. Como muito bem escreve Russell N. Champlin:
“Os judeus bem poderiam levantar objeções contra a doutrina paulina da eleição, a qual asseverava que somente o remanescente de Israel seria salvo. Mas aqui o apostolo mostra que a rebelião da nação de Israel é tão grande que, a menos que houvesse a intervenção benigna de Deus, na eleição, ninguém de Israel seria salvo. Foi somente a bondade soberana do Senhor que salvou a qualquer dos israelitas, como também só essa bondade pode salvar a qualquer outro indivíduo. Israel se torna neste versículo, um exemplo de toda a raça humana. Podemos entender que, sem o concurso da graça de Deus, sem o proposito divino da eleição, todos os homens, em sua rebelião e pecado inerente, jamais chegariam a atingir o proposito divino da redenção. Isso estabelece a eleição em seu colorido autêntico, ou seja, como um meio beneficente usado por Deus, e não como um agente destruidor e injusto das massas que são deixadas de lado, conforme tantos tem imaginado”[12].
Que diremos pois? Que os gentios, que não buscavam a justiça, alcançaram a justiça? Sim, mas a justiça que é pela fé. Mas Israel, que buscava a lei da justiça, não chegou à lei da justiça. Por quê? Porque não foi pela fé, mas como que pelas obras da lei; pois tropeçaram na pedra de tropeço; Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido (V.30-33)
Ao longo dos versículos iniciais e subsequentes de Romanos 9, a Justificação pela fé encontra-se implícito em todo o texto, já que este tema fora tratado em capítulos anteriores, mas nos versículos 30-33, de forma explícita, Paulo ele deixa claro que o motivo dos Judeus estarem sendo rejeitados era devido a busca da justificação pelos méritos e descendência, e não pela fé em Cristo – este é tema principal do capítulo seguinte. Fazendo um paralelo entre os Judeus e os Gentios, Paulo escreve nos versículos 30-31, que diferentemente dos Judeus que perseguiram e buscavam com ardor as obras da lei como o caminho para a justiça ou forma de produzi-la, os gentios que não buscaram ou se empenharam por um justo relacionamento com Deus, pelo contrário, estiveram completamente entregues a suas paixões e desejos (1:18-32), ainda assim o encontrou, ou seja, “Como eles tinham estado alienados da justiça: eles não a seguiram; eles não conheciam a sua própria culpa e miséria e, portanto, não eram de forma alguma solícitos a procurar um remédio. Na conversão deles, a graça preveniente foi altamente exaltada: Deus foi “...achado por aqueles que não o buscavam” (Is 65.1)”[13]. Logo, “os gentios que criam, os quais nunca tinham mostrado interesse em serem justos diante de Deus, agora estavam sendo perdoados e recebidos ela graça de Deus”[14]. O versículo 32 é nítido quanto ao fato que os gentios alcançaram a justiça por meio de fé em Cristo. “Paulo está finalmente demonstrando para os judeus que o único meio de entrar em justo relacionamento com Deus é através da fé. A questão não era ser da linhagem física de Abraão, permanecer na lei ou viver na justiça, a questão era voltar para Deus em fé na base do sacrifício de Jesus Cristo”[15]. Moody ressalta que não por acaso Paulo faz tanto uso da palavra “Justiça”; “Os gentios crentes descobriram a chave do relacionamento do homem com Deus – a Justiça. Eles encontraram a justiça que Deus concede por causa da fé em Cristo”[16]. Assim sendo, há um contraste entre dois tipos de Justiça, sendo elas: A Justiça de Deus, que é disponível exclusivamente pela Fé e a Justiça própria. A exigência justa da lei jamais poderá ser satisfeita por aqueles que seguem o caminho da justiça legal (Rm 7), mas somente por aqueles que não andam segundo a carne, mas segundo o Espírito. Russell N. Champlin resume esses pontos ao afirmar:
“Os judeus procuravam a justiça como se tudo estivesse fundamentado sobre as obras da lei, e falharam miseravelmente nessa louca tentativa, conforme também a extensa exposição de Rom. 2:25-3:20 nos descreve. Percebe-se, por conseguinte, que Israel ficou aquém até mesmo da “justiça legal”, quanto mais da verdadeira justiça de Deus, que só é conferida ao homem mediante a fé em Jesus Cristo. (Ver Rom. 3:22). Isso sucedeu porque os judeus não puderam perceber duas impossibilidades, a saber:
1. Ninguém pode guardar a lei em sua inteireza, sobretudo quando a lei é interpretada espiritualmente, incluindo até mesmo os motivos que partem do coração, conforme o Senhor Jesus a interpretava.
2. A justiça de Deus é perfeita, e precisa ser perfeitamente formada no crente; e isso é uma realização que só pode concretizar-se através da comunhão mística com o Espirito Santo, devido ao processo interior da regeneração, e não devido a meras observâncias externas e legalistas, a ritos, cerimonias, etc., sobre o que os judeus tinham depositado uma confiança exagerada (Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 766).
Ao fazer uso da expressão “pois tropeçaram na pedra de tropeço” e fazer citação de duas passagens do profeta Isaias “Como está escrito: Eis que eu ponho em Sião uma pedra de tropeço, e uma rocha de escândalo; E todo aquele que crer nela não será confundido (Is 28:16;8:14)”, o Apostolo alude as passagens do N.T que o termo “pedra” é aplicado a Cristo (ex: Mc 12:10-11; At 4:11, 1Pe 2:6-8), e faz os Judeus lembrarem do contexto por de trás das palavras de Isaías. “A primeira parte do versículo 33 refere-se a Is 8:14. Nessa ocasião Israel estava sob o perigo do Juízo de Deus. Por isso Deus diz que a Pedra será “rocha de tropeço e de ofensa, laço de armadilha para as duas casas de Israel”. A segunda parte do versículo se refere a Is 28:16. Este Texto é uma promessa de que Deus e colocaria em Sião “uma pedra já aprovada, preciosa, angular, e aquele que crer nela não foge”, trazendo assim esperança para Israel”[17]. Jesus Cristo em Mc 12:10-11 declarou ser essa Pedra angular ao afirmar: “[...]A pedra, que os edificadores rejeitaram, esta foi posta por cabeça de esquina”. É importante salientarmos que os Judeus entendiam a passagem de Isaías como sendo uma forte imagem messiânica, e ao rejeitarem Jesus Cristo[18], tornavam-se justamente os construtores/edificadores que rejeitariam aquele que é a Pedra angula; “A combinação das duas passagens como uma profecia de Cristo e Sua salvação é lugar comum na apologética cristã primitiva, e é de fato pré-paulina. Vemo-las combinadas de modo semelhante em 1 Pedro 2:6-8, onde são vinculadas a uma terceira "pedra" testimonium — a pedra rejeitada do Salmo 118:22. (Em Lc 20:17s., a pedra rejeitada do salmo e a pedra de tropeço de Is 8:14 são associadas a outra "pedra" testimonium ainda — a pedra "cortada sem auxílio de mãos" que feriu a imagem do sonho de Nabucodonosor em Dn 2:34s.)”[19]. Portanto, “para aqueles judeus que rejeitaram a justificação pela em fé em detrimento de obras e descendência física, Jesus é uma Pedra de tropeço, escândalo e Juízo[20]. Porém, aqueles Judeus e gentios que crêem em Jesus como o Messias/Cristo não serão envergonhados. Para os da fé, Jesus é a Pedra Angular. Para os descrentes, Jesus é a pedra de Juízo, e Deus é Justo em agir assim”[21]. Comentando as citações de Isaías que Paulo realizou, N.T Wright frisa:
“Ao trazer essas duas passagens juntas, Paulo inteligentemente usou um texto bíblico combinados para dizer que agora, mais uma vez em cumprimento da escritura, e não como uma mudança de planos por parte de Deus, a fundação da nova "construção" de Deus foi descontraído, mas que aqueles que não acreditam nele, no Messias, que é a fundação, vai tropeçar nesta "pedra" e cair de cara no chão. Ele ainda explica como é que a falha substancial de Israel a crer em Jesus como Messias, seja durante a carreira pública de Jesus ou durante o tempo presente do trabalho missionário, não representa uma frustração do plano de Deus ou uma mudança da mente de Deus, mas sim uma satisfação inesperada, embora compreensível apenas em retrospectiva, do que Deus havia planejado o tempo todo”[22].
Não obstante, o versículo 33 nos dá plena certeza que aqueles que confiam em Deus de hipótese alguma precisarão temer ou ficar aflito que a sua confiança nele venha a mostrar-se infundada. “O homem que se firma no alicerce de Deus "mantém a cabeça fria quando todos à sua volta estão perdendo a cabeça e estão pondo a culpa nele"; não fica girando e rondando para cá e para lá, mas confia em Deus, certo de que o Seu propósito se cumprirá no tempo de Deus”[23]. O texto no hebraico passa a ideia de não fugir aterrorizado dentro de contexto militar, quando por exemplo, soldados após serem cercados e dominado pelo exército inimigo apressadamente foge do campo de batalha. Logo, nenhum mal ou desgraça sofrerá aquele que deposita a sua confiança em Cristo, o nosso capitão, 'durante todo o decurso da experiência da vida terrena e celestial'. É importante salientarmos que o Termo “[...] não será confundido/envergonhado” corrobora com o texto no hebraico, que consta o seguinte, “não se apressará/fugirá”, visto que, “aquele que é posto em fuga, e abandona o seu tesouro ou a sua fortaleza, é envergonhado ou confundido”[24]. Russell N. Champlin acrescenta:
1: Do que o crente sincero jamais se envergonhará?
a: Nunca se envergonhara de sua escolha;
b: nem de sua profissão crista;
c: nem da causa e interesse de Cristo, que ele tomou como seus e defendeu no mundo;
d. nem de qualquer tempo sinceramente dispendido no trabalho e serviço de Cristo; e. nem do opróbrio e sofrimento, tribulações e perseguições, sofridos por causa de Cristo;
f: nem, na eternidade, ele jamais se envergonhara de ter-se envergonhado aqui de Cristo e seu evangelho, de sua obra e serviço, de sua causa e interesse.
2: Quando o crente não se envergonhará?
a: Quando é chamado a dar testemunho sobre Cristo perante o mundo, na hora da morte, ou no dia do juízo;
b: não importando o espanto daquele dia, nem a majestade do Juiz, a separação que então será feita.
3: Por que o crente nunca se envergonhará?
a: O pecado, a causa dessa vergonha, terá sido removido;
b: Aquele de quem ele poderia razoavelmente temer a vergonha, jamais se envergonhara dele;
c: o crente poderá olhar para Deus e Cristo, em sua consciência e no mundo inteiro, face a face, sem qualquer pejo ou sofrimento (Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768-769)
Mediante todos esses fatos é algo irônico constatar o que Wiersbe escreveu: “Eis o paradoxo da história: os judeus tentaram ser justos e foram rejeitados, e os gentios foram recebidos, apesar de não terem os privilégios dos judeus!”[25].
Conclusão
Acredito que ao ler este último capítulo foi percebido por parte do leitor que em nenhum momento cheguei a citar Armínio. Isso é devido a razão de que em sua carta enviada à Gellius Snecanus ele a encerra sem comentar os versículos que são abordados neste último capítulo, por entender que não há debate/disputa sobre tais trechos – Entendo que as maiores disputas existentes se dão na área da escatologia (Ver nota 10). Especificadamente sobre todo o capítulo 9 de Romanos fica claro que em suma, este capitulo diz que a justificação de Deus não está baseada em méritos próprios (de obras ou descendência física), antes é única e exclusivamente pela fé (que é oposto a obras) em Jesus Cristo. E Deus é perfeitamente Justo e soberano em agir dessa maneira”[26]; Conforme Daniel Gouvêa escreve: “O capítulo todo exalta a graça soberana de Deus, mas não minimiza a responsabilidade de homens e de mulheres de tomarem a decisão certa. A palavra do Senhor prevalecerá, apesar da desobediência humana, mas os pecadores desobedientes perderão as bênçãos. Nenhuma mente humana consegue sondar ou explicar a sabedoria de Deus (veja 11:33-36), mas sabemos que não há salvação sem a graça soberana do Senhor[27].
Notas
_________________________________________________________
[1] Paulo se utiliza de um argumento progressivo para refutar a objeção primária e principal quanto a rejeição dos descendentes físicos de Abraão à salvação. Ele começa pela narrativa dos patriarcas, passa pelo êxodo, e finalmente chega nos profetas, “onde a rejeição de rebeldes israelitas e a inclusão dos gentios são mencionadas e ampliadas pelo apóstolo”. (Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 110).
[2] Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; pág, 374.
[3] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; pág, 110.
[4] Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; pág, 374.
[5] Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 762-763.
[6] D.A Carson; Comentário Bíblico Vida Nova; pág, 1391.
[7] F.F Bruce (Org); Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento; pág, 1851
[8] Craig S. Keener; Comentário de Romanos; pág, 211.
[9] Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 763.
[10] Ibid. pág, 763. Para um maior aprofundamento recomendo a obra de J. Dwight Pentecost - Manual de Escatologia.
[11] Ibid. pág, 764
[12] Ibid. pág, 765
[13] Matthew Henry; Comentário Bíblico - Novo Testamento; Atos a Apocalipse; Pág, 369.
[14] Comentário Bíblico Beacon; Romanos a 1 e 2 Coríntios; Pág, 143.
[15] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 113.
[16] Pfeiffer, Charles F.; Comentário Bíblico Moody; Gênesis à Apocalipse; Pág, 83.
[17] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 113-114.
[18] Comentando sobre a rejeição de Jesus Cristo por parte da nação Judaica, Russell N. Champlin escreve: “A pedra de tropeço foi colocada em Sião, o próprio lugar onde ninguém deveria tropeçar por causa de Cristo, porquanto o Messias transparecia na liturgia judaica, em suas orações, e era considerado pelos judeus como a esperança central de Israel. Não obstante, ele apareceu de uma maneira que não agradou aos israelitas, exigindo deles a transformação espiritual, e não defendendo qualquer reforma política, que era a única reforma que anelavam. Por esse motivo e que “se escandalizaram” com ele, rejeitando e crucificando-o, desde então tendo ficado escandalizados ante a cruz (Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768).
[19] F.F Bruce; Romanos; Introdução e Comentário; Pág, 96.
[20] Tropeçaram não significa “tropeçar por descuido”, mas sim “ficar aborrecido com”, “mostrar irritação com”. Para os judeus, a Cruz do Messias era um escândalo, que os irritava e os aborrecia com indignação. “Assim como nós nos zangamos com algum obstáculo no nosso caminho, em que tropeçamos e machucamos os nossos pés... também se diz que os judeus... proskopsai to litho touproskommatos, ou seja, rejeitaram a Jesus como aquele que deixou de satisfazer os ideais que tinham em relação ao Messias (Comentário Bíblico Beacon; Romanos a 1e 2 Coríntios; Pág, 143).
[21] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 116.
[22] N.T Wright; Comentário do Novo Testamento; Pág, 1052-1053.
[23] F.F Bruce; Romanos; Introdução e Comentário; Pág, 96.
[24] Norman, Russell Champlin; O Novo Testamente Interpretado versículo por versículo – Vol. III: Atos-Romanos; Pág, 768
[25] Comentário Bíblico Wiersbe Novo Testamento 426.
[26] Ibid. Pág, 426.
[27] Gouvêa, Daniel; A Soberania de Deus na Justificação: Uma abordagem Bíblica, Exegética e Teológica de Romanos 9; Pág, 116.