quarta-feira, 12 de junho de 2019

Apologética Teísta: Argumento Cosmológico de Leibniz Para a Existência de Deus (Part 1)




Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) foi um filósofo alemão, que também era matemático e especialista em lógica alemã. No seu livro "The Principles of Nature and of Grace, Based on Reason" afirmou que a primeira pergunta que deveríamos com razão nos fazer é: "Por que Existe algo em Vez do nada?" Segundo Willian L. Craig "Para Leibniz, essa era a questão mais básica que alguém pode fazer. Assim como eu, Leibniz chegou a conclusão de que a resposta não se encontra no universo das coisas criadas, mas em Deus"[1]. Quando nos perguntamos por que algo sequer existe, a resposta de Leibniz é que Deus existe e é a explicação do por que tudo o mais existe.

O argumento de Leibniz de forma resumida pode ser representado com as seguintes premissas:

1 Tudo o que existe tem uma explicação

2 Se o universo tem uma explicação para existir essa explicação é Deus

3 O universo existe

Da primeira e a terceira premissa, logicamente segue-se que o universo tem uma explicação para a Existir, assim sendo, a explicação da existência do universo é Deus. Equivale dizer que se as três premissas são verdadeiras, a conclusão é inevitável. Contudo convém salientar que a terceira premissa é inegável - O universo existe - conforme salienta Willian L. Craig  "Logo, o ateu terá que negar a primeira ou a segunda premissa". Sabendo disto, estaremos nos dedicando a destrinchar essas duas premissas, abordando cada uma delas separadamente, em duas postagens, com a intenção de preparar o leitor a responder possíveis ataques que possam ser feitos a elas!


 TUDO O QUE EXISTE TEM UMA EXPLICAÇÃO

Para Leibniz, existe duas classes de coisas

1: As que existe necessariamente

As coisas que existem necessariamente existem por uma imposição ou necessidade da sua própria Natureza, ou seja, é impossível não existir.

2: As que são geradas por alguma coisa externa.

As coisas que tem sua existência causada por outra, não existem necessariamente. Elas existem porque algo além delas as gerou.

Para Leibniz, quando o mesmo afirma que  tudo o que existe tem uma explicação para existir, essa explicação pode se encontrar ou em uma necessidade da natureza da própria coisa ou em uma causa externa. Leibniz aplicou este mesmo método para  explicar a existência de Deus, ele não fez de Deus uma exceção a regra da primeira premissa - como alguns ateus fazem com o universo. Se tudo o que existe tem uma explicação para existir, e Deus existe, logo Deus dever ter uma explicação para sua existência! Para Leibniz a explicação para a existência de Deus se encontra na necessidade da própria natureza de Deus, Logo, o mesmo não possui uma causa externa a ele, pois isso necessitaria de uma explicação de um outro ser maior do que Deus - e isso é impossível - portanto, o argumento de Leibniz é na verdade um argumento em favor de Deus como ser necessário não-causado - algo que é afirmado nas Sagradas Escrituras.
Entretanto, de forma contraditória a Ciência[2], alguns Ateus afirmam que a primeira premissa é válida concernente a tudo que esteja no universo, mas não acerca do universo em si. Isso é uma grande falácia, pois, não se poderia dizer que tudo tem uma explicação para existir, e, de repente, tirar o universo fora disso. Como Willian L. Craig afirma: 

"Suponha que você esteja atravessando uma floresta e se depare com uma bola translúcida bem no meio da floresta. Sua reação natural seria se perguntar como aquilo foi parar ali. Se alguém que estivesse com você dissesse, Ora, isso apenas existe,não tem uma explicação. Não se preocupe com isso!”, você pensaria uma dessas duas coisas: que essa pessoa estava maluca ou que só estava querendo seguir em frente. Ninguém levaria a sério a sugestão de que aquela bola existia e estava la sem nenhuma explicação, literalmente. Suponha agora que você aumente o tamanho dessa bola e ela passe a ser do tamanho de um carro, isso não mudaria em nada a exigência de uma explicação para ela. Suponha que ela seja do tamanho de uma casa. Continuará havendo a mesma necessidade de explicação Ou que ela seja do tamanho de um continente ou de um planeta [...] Suponha que ela seja do tamanho do universo inteiro. A necessidade de explicação continua. Meramente aumentar o tamanho da bola não afeta em nada a necessidade de uma explicação"

Outro argumento que é utilizado como tentativa de invalidar a primeira premissa - tudo o que existe tem uma explicação - é afirmar que é impossível que o universo tenha uma explicação para sua existência, porque essa explicação teria que ser um estado de coisas anterior no qual o universo ainda não existia, e de acordo com a maneira de ver de alguns ateus, isso seria o nada, e o nada não pode ser explicação de algo que existe, assim o universo deve existir de forma inexplicável.
Entretanto, segundo Leibniz, esse estado de coisas anterior a existência do universo é Deus e sua vontade, e não o nada. A afirmação de que o nada é o "estado anterior"  é uma grande falácia, pois ela assume que o universo seja tudo o que existe, de modo que se o universo não existe, haveria o nada. Como bem salienta Willian L. Craig  "Em outras palavras, a objeção presume que o ateísmo seja verdade"







Notas
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[1] Todo o Texto é Baseado no Livro "Em Guarda: defenda a fé cristã com razão e precisão" - Willian L Craig
[2] A própria ciência se dedica à busca de uma explicação para a existência do universo. A atitude ateísta mutilaria a Ciência
  

sexta-feira, 26 de abril de 2019

O Cerne do Arminianismo é o Livre-Arbítrio?




O Cerne do Arminianismo

Alguns críticos do sistema soteriológico Arminiano alegam que o âmago de tal sistema é o livre-arbítrio, logo, na visão de tais críticos, o sistema arminiano começa e é controlado pela crença na liberdade da vontade humana. Mesmos estudiosos sérios que deveriam perceber esta falácia acabam caindo em tal espantalho, como por exemplo: Rick Ritchie, Kim Riddlebarger, Robert Peterson e Michael Williams.

O princípio da construção da doutrina Arminiana de hipótese alguma pertence ao liberber arbiterconforme Roger Olson: 
"este alto posto pertence a visão arminiana do caráter de Deus conforme discernido de uma leitura sinótica da Escritura, usando a revelação de Deus em jesus Cristo como o controle hermenêutico [...] O arminianismo inicia com a bondade de Deus e termina ao afirmar o livre-arbítrio"
O Carácter e a Bondade de Deus


O "Livre-arbítrio" faz parte da Teologia Arminiana pois o mesmo é encontrado por toda Bíblia, Como afirma Olson: "O livre-arbítrio é resultado da bondade e a bondade está embasada na revelação divina". Ao contrário do que e dito por alguns pseudos-intelectuais, estudiosos e Teólogos Calvinistas, Armínio na elaboração de sua soteriologia não a iniciou com o livre-arbítrio, mas sim com o compromisso com a bondade de Deus; "Sua teologia é cristocêntrica; Jesus Cristo é a nossa melhor pista para o caráter de Deus, e nele Deus é revelado como compassível, misericordioso, amável e justo". William Witt, erudito em Armínio, está correto ao afirmar:

"A maior preocupação de Armínio era evitar fazer de Deus o autor do pecado" Colocando sem rodeios, para Armínio, Deus não poderia preordenar ou causar direta ou indiretamente o pecado e o mal mesmo que ele quisesse (o que ele não faria), pois isso faria de Deus o autor do pecado. E a natureza boa e justa de Deus exige que ele deseje a salvação de todo ser humano. Tal visão é totalmente consistente com a Escritura (1 Tm 2.4; 2 Pe 3.9).

Armínio Escrevendo a Perkins e a Francisco Gomaro, ele não apelou a liberdade humana para critica-los, sendo eles defensores da Teologia Soteriológica de Calvino, mas apelou ao Carácter de Deus. Discutindo sobre queda do Homem sendo contrário a visão de Perkins - ele atribuía a Queda à deserção de Deus, da parte dos homens, de maneira voluntária, e, entretanto, também defendia que a Queda fora preordenada e tornada certa por Deus, que retirou a graça suficiente de Adão e Eva. - Ele escreveu: 

"eu pergunto se o homem poderia ter desejado não ser abandonado. Se você disser que ele poderia, então ele não pecou necessariamente, mas livremente. Mas se você disser que ele não poderia então a culpa recai sobre Deus. [...] nenhuma criatura racional foi criada por Deus com esta intenção, para que sejam condenados... pois isto seria injusto".

Conforme Roger Olson salienta: 

"Isto é crucial para o argumento de Armínio contra aqueles que dizem que a Queda aconteceu necessariamente por decreto de Deus e que Deus a desejou e a tornou certa. Então, Deus não é como é revelado ser em Jesus Cristo, nem é perfeitamente bom. Então a culpa recai sobre Deus. Há um lado obscuro em Deus".

O cuidado de Armínio em Zelar e proteger o carácter de Deus na formulação da sua Soteriologia o levou a reafirmar que "[se todas as coisas sucedem necessariamente por decretos divinos, incluindo a Queda] nós deduzimos... que Deus, de fato, peca... [qu]e Deus é o único pecador... [qu]e o pecado não é pecado" ele conclui ressaltando: "Esta doutrina é repugnante à natureza de Deus" e injuriosa à glória de Deus".


Conclusão

Levando em consideração consequência Lógicas e últimas, tanto o supralapsarianismo como infralapsarianismo - as duas principais vertentes do "Calvinismo" na época de Armínio - lida com as mesmas objeções ao fazer Deus preordenar a Queda, nos levando a mesma Conclusão: ele - Deus - é o "autor do pecado/mal". Em todos os seus escritos contra o calvinismo e a favor do livre-arbítrio, Armínio apelou à natureza e ao caráter de Deus. Ele tinha consciência que os calvinistas negavam que Deus é o autor do pecado ou que fosse, de alguma maneira, manchado pela culpa do pecado, mas ele insistia que esta é, todavia, uma inferência feita a partir do que eles acreditam. A primazia dada ao carácter de Deus e a sua bondade é o cerne do Arminianismo e sempre faz parte da retórica dos principais teólogos arminianos, como por exemplo: Simão Episcópio, Philip Limborch, João Wesley, Richard Watson, William Burton Pope, John Miley, Clark Pinnock, Fritz Guy, William G. MacDonald etc.






 Bibliografia
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Teologia Arminiana; Mitos e Realidades - Roger Olson



quinta-feira, 25 de abril de 2019

A Cognoscibilidade de Deus



Conceituação:

A palavra cognoscibilidade se origina da palavra em latin: cognoscibĭle "Característica ou particularidade do que é cognoscível; que se pode conhecer". Afirmar a existência de um Deus ou de um ser transcendente necessariamente não implica na possibilidade real de conhecê-lo, como também do quanto de tal "Deus" pode ser conhecido. Na cosmovisão Deísta, por exemplo, a existência de um "Deus" é defendida em detrimento a quaisquer visão contrária, mas intrínseco a tal cosmovisão, a possibilidade de conhecer tal "Deus" de forma pessoal é negada veementemente. 

Podemos Conhecer algo Sobre Deus? Podemos Conhecê-lo?

Dentro da Cosmovisão teológica-Filosófica Cristã a possibilidade de conhecermos a Deus em toda a sua totalidade é negada, entretanto, é afirmada por outro lado, que podemos conhecê-lo verdadeiramente. Tais proposições não são excludentes, e mesmo que sejam entendidas inicialmente como contraditórias, não as são. Neste momento estaremos abordando estes dois Pontos elencados 
  1. Jamais conheceremos Deus plenamente
  2. Entretanto, podemos conhecê-lo verdadeiramente.

 Jamais Conheceremos a Deus plenamente


As Sagradas Escrituras nos revela que Deus ele é infinito e nós somos finitos - em outras palavras, Criaturas.  Em Salmos 145:3 o Salmista ele ressalta  "a grandeza - de Deus - que não tem limites", no Salmos 147:5 ele deixa claro a impossibilidade de medir o seu entendimento "é  impossível medir o seu entendimento". O Apóstolo Paulo escrevendo a igreja de Corintos reafirma essa incompreensibilidade de Deus Escrevendo: 

O Espírito sonda todas as coisas, até mesmo as coisas mais profundas de Deus [...]
ninguém conhece as coisas de Deus, a não ser o Espírito de Deus (1Co 2:10-11).
Escrevendo aos romanos e se utilizando de uma doxologia ele canta:

Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos (Rm 11:33).
Como afirma Wayne Grudem: "Esses versículos nos permitem levar nosso entendimento da incompreensibilidade de Deus um passo adiante. Não somente é verdadeiro que jamais podemos entender Deus plenamente; é também verdadeiro que nunca poderemos entender plenamente qualquer simples coisa a respeito de Deus:
  1. Sua grandeza
  2. Seu entendimento
  3. Seu conhecimento
  4. Suas riquezas
  5. Sua sabedoria
  6. Seus juízos
  7. Seus caminhos"
Ele continua:

"Todos eles estão além de nossa capacidade de entender plenamente [...] Não poderemos nunca conhecer os atributos de Deus de modo completo ou exaustivo"


Podemos Conhecê-lo Verdadeiramente


Embora a compreensão, entendimento e conhecimento exaustivo - Completo - da pessoa/Ser de Deus segundo as escrituras é impossível, podemos sim! conhecer aquilo que corresponde a realidade sobre a pessoa/Ser de Deus. As Escrituras afirmam: 
  1. Que Deus é amor
  2. Que Deus é Luz
  3. Que Deus é Espírito
  4. Que Deus é Justo
      (etc)

Com base nas Escrituras temos o conhecimento verdadeiro sobre Deus, ainda que o conhecimento exaustivo seja inverosímel. Algumas pessoas chegam a afirmar que não podemos dizer que conhecemos Deus propriamente, apenas alguns fatos ou ações, contudo as Sagradas Escrituras nos asseguram que não apenas fatos ou ações de Deus podemos conhecer, entender ou compreender (Parcialmente), mas que o próprio Deus conhecemos e que o mesmo pode ser conhecido (Jr 9:23-24; Jo 17:3; Hb 8:11;Gl 4.9; Fp 3:10; 1 Jo 2.3;; 4:8). Na primeira carta da João está Escrito: 

"E sabemos que já o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para que conheçamos ao Verdadeiro" (1 Jo 5:20) 

Na mesma epístola ele escreve:

"Filhinhos, eu lhes escrevi porque vocês conhecem o pai" (1Jo 2:14)

 Conclusão

Duas verdades podemos extrair sobre a cognoscibilidade de Deus segundo Wayne Grudem:

Em primeiro lugar:

"a doutrina da incompreensibilidade de Deus tem uma aplicação muito positiva para a nossa vida. Ela significa que nunca seremos capazes de conhecer "demais" a respeito de Deus, pois nunca poderemos exaurir as coisas que temos de aprender dele e, dessa forma, nunca - incluindo a eternidade - nos cansaremos de ter prazer na descoberta infindável da sua excelência e da grandeza de suas obras" (Acréscimo Nosso)

 Em Segunda lugar: 

"O fato de que realmente conhecemos Deus é posteriormente demonstrado pela percepção de que a riqueza da vida Cristã inclui o relacionamento pessoal com Deus [...] temos o privilégio muito maior que o de simplesmente conhecer fatos a respeito de Deus. Falamos com Deus em oração, e ele nos fala por meio da sua palavra. Comungamos com ele em sua presença, catamos louvores a ele e estamos conscientes de que ele pessoalmente habita  entre nós e dentro de nós (1Co 3:16) [...]". (Acréscimo Nosso)






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Bibliografia:
Manual de Doutrinas Cristãs - Wayne Grudem

Sites Visitados:



Dedico esta postagem a Lidiane Quérolin 

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Sinergismo e a Depravação Total na Soteriologia Arminiana





Durante os primeiros 400 anos da História do Cristianismo, podemos afirmar com extrema convicção, pelos escritos dos Pais da Igreja, que a posição adotada pelos cristãos acerca da mecânica da Salvação, foi, na maioria dos casos, o que posteriormente seria classificado, no final do século 16, como semi-pelagianismo; e nos demais casos, o que seria chamado posteriormente de arminianismo*;em outras palavras, o entendimento de todos os Pais da Igreja Pré-Agostinho em relação à mecânica da salvação era o que posteriormente seria designado, exageradamente, no final do século 16, como“sinergismo”.[1]

O Sinergismo e a Depravação Total na Soteriologia Arminiana

A expressão “exageradamente” fora aplicada anteriormente porque o termo sinergia, significa um conjunto de ações ou esforços simultâneos associados em prol de um mesmo fim, e que sugere implicitamente uma cooperação de formas mais ou menos equivalentes ou complementares para atingir um objetivo comum. Contudo; uma coisa que nenhum Pai da Igreja, teólogo arminiano ou semipelagiano defenderia – ontem ou hoje – é que a resposta cooperativa do homem ao chamado divino para Salvação é mais ou menos equivalente a de Deus no processo – entretanto, em detrimento a visão semi-pelagianista, os arminianos afirmam de forma mais clara e contundente que a salvação é uma obra totalmente divina. [2] Tomando com base as Sagradas Escrituras, os arminianos assevera que Deus não apenas propiciou a Salvação, mas também capacitou o livre-arbítrio do homem para entender as questões espirituais possibilitando-o a responder ao chamado divino. Por tal motivo nenhum homem pode vangloria-se, pois até mesmo a sua capacidade de responder foi dada por Deus; portanto, sem a ação divina, o homem não poderia ser salvo de forma alguma, pois ele, além de não poder prover a salvação para sim mesmo, não poderia responder de forma alguma ao chamado divino por ela. Logo, a salvação é propiciada por Deus.[3] Assim sendo, o ser humano tem apenas uma pequena participação – possibilitada por Deus – de carácter mais passivo do que ativo no processo inicial de sua Salvação; na fase inicial, só confia, aceita e se submete, e mesmo, depois de salvo, quando precisará se também ativo, “operando” a sua salvação com “temor e tremor” (Fp 2.12), isso só lhe será possível devido a sua nova natureza em Cristo gerada em seu ser pelo Espírito Santo, não se esquecendo do fato de que, ele precisará também continuamente do auxílio da graça divina, caso contrário a sua santificação e perseverança seriam impossíveis (Fp 2.13).[4] Entretanto, o Semi-Pelagiano em detrimento ao arminiano afirmará que Salvação fora propiciada por Deus. O ser humano apenas recebe aquilo que de graça foi feito por Deus em seu favor, e que jamais poderia realizar por si só; contudo, ele recebe tal salvação porque Deus, pela sua misericórdia preservou o seu livre-arbítrio, possuindo capacidade por si só de responder positivamente ao chamado divino.[5] Portanto, a diferença entre os semi-pelagianos e arminianos encontra-se no campo do entendimento da Depravação Total herdada pelo homem. [6]

A depravação total para os semi-pelagianos é Parcial, diferentemente da visão defendida pelos arminianos, que seria uma depravação Total. [7] Para os semi-pelagianos o livre-arbítrio paras as coisas de Deus fora preservado por Ele, possibilitando ao homem responder o chamado divino cooperando com a graça. Para os arminianos o livre-arbítrio fora comprometido após a queda, de maneira que para o homem responder ao chamado divino é necessário que Deus restaure o livre-arbítrio do homem para as coisas espirituais.[8]
Portanto, principalmente na visão arminiana, não há uma cooperação de forças mais ou menos equivalentes ou complementares para atingir o objetivo comum. Portanto, o termo sinergismo fora aplicada incorretamente para designar a Mecânica da Salvação defendida pelos teólogos semipelagianos e arminianos. Tal termo – sinergismo – fora utilizado pelos Luteranos monergistas radicais no final do século 16 para designar pejorativamente os luteranos filipistas [9] com o intuito e propósito claro de exagerar a posição adversária e desacreditá-la.[10] Para piorar, o termo “semi-pelagiano”[11] - igualmente impróprio, além de fortemente pejorativo – foi em tal período, juntamente com o termo “sinergismo”, utilizado para designar a posição dos antigos Cassianistas opositores de agostinho – de hipótese alguma poderiam ser chamados de semipelagianos, pois nem Agostinho os via dessa forma [12] – como também a posição Não-Cassiana dos Luteranos Arminianos.[13] Devido a isto – Termos aplicados pejorativamente a Mecânica Arminiana – grandes Teólogos arminianos como J. Mattew, E.Picirilli, F. Leroy Forline, Jeremy A. Evans, Mark Ellis, William der Boer, Richards Cross, Arthur Skevington Wood – como também o Teólogo Calvinista Gregory Graybill [14] – preferem chamar o “sinergismo” arminano de “Monergismo Condicional ou Monergismo com resistibilidade a Graça”, o qual definem como uma “recepção passiva do mérito ao invés de uma ativa obra cooperativa que ganharia mérito”, pois trata-se de uma “relação na qual a vontade e obra de Deus dentro do homem são bem-vindas numa atitude de confiança e submissão”.[15]

Apesar disso, o Teólogo Arminiano Roger Olson, continua mantendo o termo impróprio “sinergismo” para designar o arminianismo; contudo, o mesmo faz duas distinções sobre o significado e aplicação deste termo, sendo elas:

1. Sinergismo Herético ou Humanista:

Neste sinergismo o pecado original é negando e “as habilidades humanas morais e naturais são elevadas” para que a pessoa possa ter uma vida espiritual completa”. (Pelagianismo) ou então, o pecado original é suavizado para que o homem possa ter a habilidade de, “mesmo em seu estado caído, iniciar a salvação ao exercer uma boa vontade para com Deus. (Semi-Pelagianismo)

2. Sinergismo Evangélico:

Já o sinergismo evangélico “afirma a preveniência da graça para que todo ser humano exerça
uma boa vontade para com Deus (Arminianismo)[16]; Não esqueçamos que todas essas especificação decorrem do fato de que o termo “sinergismo” – se tomado em seu sentido estritamente literal, que sugere implicitamente uma relação “fifty-fifty” (50% a 50%) – se torna extremamente impróprio para designar o Arminianismo, e mesmo se caso for utilizado, o seu sentido precisa ser diferenciado, como faz Olson.[17]



Notas
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* Texto Publicado faz parte de um Resumo realizado do Livro: Arminianismo; A Mecânica da Salvação - Silas Daniel
1 Pag, 17
2 Pag, 17
3 Pag, 18
4 Pag, 18
5 Pag, 18
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7 Pag, 19
8 Pag, 19
9 (Filipistas) tal nome foi aplicado a luteranos seguidores de Felipe Melanchthon. Teólogo   Luterano Arminiano
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11 (Semi-Pelagiano) O termo fora utilizado pelo Calvinista rígido Teodoro de Beza em 1556 para se referir à doutrina católica romana esposada em seus dias. Inicialmente Beza nem pensou em aplicá-lo aos seguidores de Melanchton. Foi os Luteranos anti-arminianos que começaram a usar injustamente esse termo para se referir ao pensamento melanchthoniano, o que depois cairia no gosto Calvinista também.
12 Inúmeros especialistas asseveram o uso equivocado do termo “semi-pelagianismo” para se referir ao cassianismo e ao pessamento da maioria dos Pais da Igreja Pré-Agostinho, pois os chamados semi-pelagianos queriam ser qualquer coisa, menos “meios-pelagianos”. Seria mais correto chamá-los de “semi-agostinianos”, pois os tais se apoiaram na doutrina da graça e do pecado original de Agostinho – rejeitando explicitamente os pensamentos de Pelágio. Cassiano, por exemplo, classificou-o como herético – contudo, não desejaram seguir toda a doutrina pregada por Agostinho devido as suas consequências. (O autor, Silas Daniel, nas página 45-47, cita conteúdos de mais de 18 obras, de diferentes autores, que corrobora com tal afirmação supracitada)
13 Pag, 19
14 O autor, Silas Daniel, estará trazendo informações adicionais sobre cada Teólogo Citado; como por exemplo: formações acadêmicas e ocupações profissionais na areá da Teologia. Para obter tais informações, aconselho humildemente ao leitor
que adquira o respectivo Livro.
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16 Pag, 21
17 Pag, 21