segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O Sinergismo e a Depravação Total na Soteriologia Arminiana





Durante os primeiros 400 anos da História do Cristianismo, podemos afirmar com extrema convicção, pelos escritos dos Pais da Igreja, que a posição adotada pelos cristãos acerca da mecânica da Salvação, foi, na maioria dos casos, o que posteriormente seria classificado, no final do século 16, como semi-pelagianismo; e nos demais casos, o que seria chamado posteriormente de arminianismo*;em outras palavras, o entendimento de todos os Pais da Igreja Pré-Agostinho em relação à mecânica da salvação era o que posteriormente seria designado, exageradamente, no final do século 16, como“sinergismo”.[1]

O Sinergismo e a Depravação Total na Soteriologia Arminiana

A expressão “exageradamente” fora aplicada anteriormente porque o termo sinergia, significa um conjunto de ações ou esforços simultâneos associados em prol de um mesmo fim, e que sugere implicitamente uma cooperação de formas mais ou menos equivalentes ou complementares para atingir um objetivo comum. Contudo; uma coisa que nenhum Pai da Igreja, teólogo arminiano ou semipelagiano defenderia – ontem ou hoje – é que a resposta cooperativa do homem ao chamado divino para Salvação é mais ou menos equivalente a de Deus no processo – entretanto, em detrimento a visão semi-pelagianista, os arminianos afirmam de forma mais clara e contundente que a salvação é uma obra totalmente divina. [2] Tomando com base as Sagradas Escrituras, os arminianos assevera que Deus não apenas propiciou a Salvação, mas também capacitou o livre-arbítrio do homem para entender as questões espirituais possibilitando-o a responder ao chamado divino. Por tal motivo nenhum homem pode vangloria-se, pois até mesmo a sua capacidade de responder foi dada por Deus; portanto, sem a ação divina, o homem não poderia ser salvo de forma alguma, pois ele, além de não poder prover a salvação para sim mesmo, não poderia responder de forma alguma ao chamado divino por ela. Logo, a salvação é propiciada por Deus.[3] Assim sendo, o ser humano tem apenas uma pequena participação – possibilitada por Deus – de carácter mais passivo do que ativo no processo inicial de sua Salvação; na fase inicial, só confia, aceita e se submete, e mesmo, depois de salvo, quando precisará se também ativo, “operando” a sua salvação com “temor e tremor” (Fp 2.12), isso só lhe será possível devido a sua nova natureza em Cristo gerada em seu ser pelo Espírito Santo, não se esquecendo do fato de que, ele precisará também continuamente do auxílio da graça divina, caso contrário a sua santificação e perseverança seriam impossíveis (Fp 2.13).[4] Entretanto, o Semi-Pelagiano em detrimento ao arminiano afirmará que Salvação fora propiciada por Deus. O ser humano apenas recebe aquilo que de graça foi feito por Deus em seu favor, e que jamais poderia realizar por si só; contudo, ele recebe tal salvação porque Deus, pela sua misericórdia preservou o seu livre-arbítrio, possuindo capacidade por si só de responder positivamente ao chamado divino.[5] Portanto, a diferença entre os semi-pelagianos e arminianos encontra-se no campo do entendimento da Depravação Total herdada pelo homem. [6]

A depravação total para os semi-pelagianos é Parcial, diferentemente da visão defendida pelos arminianos, que seria uma depravação Total. [7] Para os semi-pelagianos o livre-arbítrio paras as coisas de Deus fora preservado por Ele, possibilitando ao homem responder o chamado divino cooperando com a graça. Para os arminianos o livre-arbítrio fora comprometido após a queda, de maneira que para o homem responder ao chamado divino é necessário que Deus restaure o livre-arbítrio do homem para as coisas espirituais.[8]
Portanto, principalmente na visão arminiana, não há uma cooperação de forças mais ou menos equivalentes ou complementares para atingir o objetivo comum. Portanto, o termo sinergismo fora aplicada incorretamente para designar a Mecânica da Salvação defendida pelos teólogos semipelagianos e arminianos. Tal termo – sinergismo – fora utilizado pelos Luteranos monergistas radicais no final do século 16 para designar pejorativamente os luteranos filipistas [9] com o intuito e propósito claro de exagerar a posição adversária e desacreditá-la.[10] Para piorar, o termo “semi-pelagiano”[11] - igualmente impróprio, além de fortemente pejorativo – foi em tal período, juntamente com o termo “sinergismo”, utilizado para designar a posição dos antigos Cassianistas opositores de agostinho – de hipótese alguma poderiam ser chamados de semipelagianos, pois nem Agostinho os via dessa forma [12] – como também a posição Não-Cassiana dos Luteranos Arminianos.[13] Devido a isto – Termos aplicados pejorativamente a Mecânica Arminiana – grandes Teólogos arminianos como J. Mattew, E.Picirilli, F. Leroy Forline, Jeremy A. Evans, Mark Ellis, William der Boer, Richards Cross, Arthur Skevington Wood – como também o Teólogo Calvinista Gregory Graybill [14] – preferem chamar o “sinergismo” arminano de “Monergismo Condicional ou Monergismo com resistibilidade a Graça”, o qual definem como uma “recepção passiva do mérito ao invés de uma ativa obra cooperativa que ganharia mérito”, pois trata-se de uma “relação na qual a vontade e obra de Deus dentro do homem são bem-vindas numa atitude de confiança e submissão”.[15]

Apesar disso, o Teólogo Arminiano Roger Olson, continua mantendo o termo impróprio “sinergismo” para designar o arminianismo; contudo, o mesmo faz duas distinções sobre o significado e aplicação deste termo, sendo elas:

1. Sinergismo Herético ou Humanista:

Neste sinergismo o pecado original é negando e “as habilidades humanas morais e naturais são elevadas” para que a pessoa possa ter uma vida espiritual completa”. (Pelagianismo) ou então, o pecado original é suavizado para que o homem possa ter a habilidade de, “mesmo em seu estado caído, iniciar a salvação ao exercer uma boa vontade para com Deus. (Semi-Pelagianismo)

2. Sinergismo Evangélico:

Já o sinergismo evangélico “afirma a preveniência da graça para que todo ser humano exerça
uma boa vontade para com Deus (Arminianismo)[16]; Não esqueçamos que todas essas especificação decorrem do fato de que o termo “sinergismo” – se tomado em seu sentido estritamente literal, que sugere implicitamente uma relação “fifty-fifty” (50% a 50%) – se torna extremamente impróprio para designar o Arminianismo, e mesmo se caso for utilizado, o seu sentido precisa ser diferenciado, como faz Olson.[17]



Notas
________________________________________________________
* Texto Publicado faz parte de um Resumo realizado do Livro: Arminianismo; A Mecânica da Salvação - Silas Daniel
1 Pag, 17
2 Pag, 17
3 Pag, 18
4 Pag, 18
5 Pag, 18
6 Pag, 19
7 Pag, 19
8 Pag, 19
9 (Filipistas) tal nome foi aplicado a luteranos seguidores de Felipe Melanchthon. Teólogo   Luterano Arminiano
10 Pag, 19
11 (Semi-Pelagiano) O termo fora utilizado pelo Calvinista rígido Teodoro de Beza em 1556 para se referir à doutrina católica romana esposada em seus dias. Inicialmente Beza nem pensou em aplicá-lo aos seguidores de Melanchton. Foi os Luteranos anti-arminianos que começaram a usar injustamente esse termo para se referir ao pensamento melanchthoniano, o que depois cairia no gosto Calvinista também.
12 Inúmeros especialistas asseveram o uso equivocado do termo “semi-pelagianismo” para se referir ao cassianismo e ao pessamento da maioria dos Pais da Igreja Pré-Agostinho, pois os chamados semi-pelagianos queriam ser qualquer coisa, menos “meios-pelagianos”. Seria mais correto chamá-los de “semi-agostinianos”, pois os tais se apoiaram na doutrina da graça e do pecado original de Agostinho – rejeitando explicitamente os pensamentos de Pelágio. Cassiano, por exemplo, classificou-o como herético – contudo, não desejaram seguir toda a doutrina pregada por Agostinho devido as suas consequências. (O autor, Silas Daniel, nas página 45-47, cita conteúdos de mais de 18 obras, de diferentes autores, que corrobora com tal afirmação supracitada)
13 Pag, 19
14 O autor, Silas Daniel, estará trazendo informações adicionais sobre cada Teólogo Citado; como por exemplo: formações acadêmicas e ocupações profissionais na areá da Teologia. Para obter tais informações, aconselho humildemente ao leitor
que adquira o respectivo Livro.
15 Pag, 20
16 Pag, 21
17 Pag, 21

Nenhum comentário:

Postar um comentário