quarta-feira, 3 de março de 2021

Uma Justificação Cristã da Filosofia (Part 1)


A Filosofia, desde os primórdios da Igreja primitiva, sempre exerceu um papel crucial na educação dos crentes e na proclamação de uma cosmovisão cristã em geral e do evangelho em particular. O Estudo da Filosofia foi considerado de fundamental importância à saúde, a vida cristã e a vitalidade das primeiras universidades na Europa, que eram, é claro, cristãs. E nos dias de hoje a filosofia continua - e deve continuar - a ocupar posição de proeminência na vida Cristã. Levando em consideração tais fatos, Willian Lane Craig, na sua obra ‘Filosofia e Cosmovisão Cristã’, lista sete razões “para que a filosofia seja crucial à estrutura, currículos e missão da universidade cristã e para o desenvolvimento de uma vida religiosa consistente”


A Filosofia e a sua relação com a apologética 


O objetivo da apologética é “estabelecer uma defesa plausível do teísmo cristão em face das objeções que lhe são apresentadas, oferecendo evidências positivas a seu favor”. Em 1Pe 3.15, consta o seguinte: “[...] estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”. Tal passagem é uma ordenança para que nos ocupemos da apologética (v. Jd 3). E a Filosofia auxilia justamente a principal tarefa da apologética. No Antigo Testamento, os profetas se utilizaram constantemente de vários argumentos sobre a natureza do mundo para justificar a religião de Israel. Por exemplo:

  1.  Eles Ridicularizavam os ídolos pagãos por conta de sua fragilidade e insignificância
  2.  Os profetas frequentemente recorriam aos princípios gerais do raciocínio moral para a criticar a imoralidade das nações pagas 

No primeiro exemplo, os profetas procuravam realçar que o mundo era muito grande para ter sido feito por algo tão pequeno. Conforme Willian Lane Craig Comenta: “Argumentos como esse admitem uma posição filosófica sobre a natureza da causalidade; por exemplo, que um efeito (o mundo) não pode advir de algo menos poderoso do que ele próprio (o ídolo). No segundo exemplo, “argumentos como esse utilizam a lei moral natural e os princípios filosóficos gerais do raciocínio moral. 

Da mesma forma, no Novo Testamento, os apóstolos fizeram uso da argumentação e raciocínio filosófico para proclamar Cristo aos incrédulos (Ex: At 17.2-4, 17-31; 18.4; 19.8). Fica evidente, portanto, que tal prática se assemelhava aos profetas do Antigo Testamento. Willian Lane Craig conclui escrevendo: "A filosofia ajuda o indivíduo expondo argumentos sobre a existência de Deus, esclarecendo e defendendo uma concepção abrangente do que é a existência de algo, até mesmo de entidades não-físicas excluídas da dimensão espaço-temporal como, por exemplo, Deus, anjos e, talvez, almas desencarnadas”. Ele também observa que mesmo “Quando uma objeção contra o cristianismo parte de alguma disciplina de estudo, tal objeção quase sempre envolve o uso da filosofia”.


A filosofia e a Contestação 


Se por um lado a apologética envolve a defesa do teísmo cristão, a contestação tem como objetivo criticar e refutar as cosmovisões alternativas de mundo. A filosofia auxilia a igreja na atividade polemista (Contestação); Craig Comenta:

"Por exemplo, no campo da inteligência artificial e da psicologia cognitiva há uma tendência em ver o ser humano em termos fisicalistas, quer dizer, como um sistema físico complexo. Apesar de alguns pensadores cristãos discordarem, o dualismo - A concepção que somos compostos tanto de uma entidade física quanto de uma entidade mental - é o princípio ensinado nas escrituras (2Co 5.1-8; Fp 1. 21-24). Parte da tarefa de um crente trabalhando nas áreas de Inteligência Artificial ou da psicologia cognitiva é desenvolver a crítica sobre a concepção puramente fisicalista do ser humano, e essa tarefa inclui questões relacionadas à filosofia da mente"[1].


A Filosofia e a Imagem de Deus 


O nosso Deus é um ser Racional, e o ser humano possui a mesma característica. Algo que é entendido por parte da maioria dos teólogos é que a imagem de Deus inclui a habilidade em se ocupar do raciocínio abstrato, especialmente nas áreas relacionadas às questões éticas, religiosas e filosóficas[2]. E, Pelo fato do homem ser racional, lhe é ordenado amar a Deus de todo o seu entendimento (Mt 22.37). Sabendo que a Filosofia assim como a religião, são disciplinas que abordam questões essenciais acerca do âmago da existência, “então a reflexão filosófica a respeito de Deus, de sua revelação especial e geral faria parte do nosso modo de amá-lo e de refletir os seus pensamentos”. Por isso, “a filosofia é uma manifestação central da imagem de Deus em nós”.


A Filosofia e a sua relação com a Teologia Sistemática


A filosofia permeia toda a teologia sistemática e atua como sua serva, ajudando no esclarecimento e definição dos seus conceitos. Ressaltando este ponto, Craig escreve: “Os filósofos cooperam na explicação dos diferentes atributos de Deus, ao demonstrar que as doutrinas da trindade e da Encarnação não são contraditórias; ao esclarecer, também, a natureza da Liberdade humana e assim por diante”. Não apenas isso, a filosofia pode auxiliar a entender o que a bíblia nos ensina em várias áreas na qual não é explícita. O filosofo poderá ajudar e expor a luz bíblica sobre temas e questões não mencionadas de maneiras diretas e claras nas escrituras, “fornecendo categorias e análises conceituais que se ajustem à situação e preserve o teor e a substância do ensino bíblico”. O filosofo tem condições de adequadamente converter a linguagem e as doutrinas da bíblia para temas, como por exemplo: ética médica, eutanásia ativa/passiva, seleção genética, inseminação artificial etc.









Notas
_______________________________________________________
[1] Para uma introdução ao assunto recomendo a obra: "Ensaios Apologéticos; Um Estudo Para uma Cosmovisão Cristã". Ver, Cap 13.
[2] Apesar das dificuldades existentes relativo a definição exata do que significa e seria a expressão "Imagem de Deus" comum a todos os Teólogos. 


2 comentários: