domingo, 30 de agosto de 2020

Mitos Sobre o Dispensacionalismo (Part 1)



Os Motivos das Falsas Apresentações

No decorrer da História o Dispensacionalismo tem sido associado a determinadas visões que não faz parte ou não são fundamentais para essa Teologia. Autores como Jhon Gerstner, Hank Hanegraaff, Wick Bowman, Wick Bowman, Robert Reymond, Chad O. Brand, Tom Pratt Jr, Keith A. Mathison, J. I. Packer, Robert D. Linder, Curtis Crenshaw, Grover Gunn, Stephen Sizer, etc, apresentaram o Dispensacionalismo de uma maneira que não é verdadeira ou está seriamente fora de moda. Como ressalta Michael J. Vlach:

“Infelizmente, as discussões envolvendo o Dispensacionalismo são frequentemente acompanhadas por dois erros. O primeiro é o Dispensacionalismo vinculados com assuntos que realmente não estão relacionados ao Dispensacionalismo [...] O segundo erro envolve o tratamento de crenças secundárias do Dispensacionalismo como se fossem fundamentais e de considerar a validade do Dispensacionalismo com base nessas crenças”

Algo que Vlach também entende como sendo uma das razões de muitos não-dispensacionalistas errarem ao avaliar o Dispensacionalismo, é o fato de que a maioria dos críticos não lidam adequadamente com os estudiosos dispensacionalistas mais recentes, enfatizando por outro lado o dispensacionalismo do século XX. Ele frisa: “Um bom Princípio acadêmico é estar ciente tanto de pesquisas antigas quanto de recentes sobre um tópico”. Portanto, quando muitos dos Críticos agem assim acabam caindo no erro de acreditarem que o dispensacionalismo encontra-se congelado desde 1950.


O Cerne do Dispensacionalismo


Como outros sistemas teológicos, o Dispensacionalismo não possui uma relação inerente a todas as áreas da Teologia. A preocupação primária do Dispensacionalismo é com a eclesiologia e escatologia, enfatizando a aplicação da hermenêutica histórico-gramatical a todas as passagens da Escritura contidas tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Faz necessário afirmar que é intrínseco ao Dispensacionalismo uma distinção entre Israel e a Igreja como também uma futura salvação e restauração da nação de Israel num futuro reino terreno sob o governo de Jesus Cristo; sendo, portanto, o Messias, a base para um reino mundial que trará bênçãos a todas as nações. Isto posto, passaremos a apresentar os Mitos e falácias que foram e continuam sendo entendidos por muitos como aquilo que realmente encontra-se inerente ao sistema dispensacionalista.


O Dispensacionalismo Ensina Múltiplos caminhos de Salvação. 


Essa afirmação pode ser encontrada nas obras de Wick Bowman, Clarense Bass, John Gerstner, Robert Reymond, Chad O. Brand e Tom Pratt Jr. Contudo, é uma afirmação completamente falsa! Ryrie, em sua obra “Dispensationalism Today”, salienta que os dispensacionalistas anteriores a ele, incluindo o próprio Scofield, nunca pregou múltiplas maneiras de salvação. Ele ressalta que muitos autores dispensacionalistas fizeram afirmações descuidadas, mas que à luz dos debates do seu tempo, com certeza seriam mais cuidadosos em suas formulações. Saucy, acompanhando Ryrie, argumentou na obra “The case for Progressive Dispensationalism”, que muitas declarações de dispensacionalistas anteriores resultaram em tensões não resolvidas, contudo, os dispensacionalistas, a partir de então, tem sido claros em frisar que a progressão das dispensações de hipótese alguma  envolve algum tipo de mudança nos princípios fundamentais da salvação pela graça. John Feinberg junta-se aos autores anteriores e acrescenta que ao contrário do que muitos afirmaram e continuam afirmando, não existe absolutamente nada inerente ao sistema dispensacionalista que leve os seus adeptos a concluírem que as Sagradas Escrituras ensinam Múltiplos caminhos de Salvação, ou até mesmo um único caminho, pelo simples fato de que a Soteriologia não é uma área determinante para o dispensacionalismo; por isso, torna-se algo irrelevante ao sistema dispensacionalista (Tradition and Testament). Além do mais, as distinções entre Israel e Igreja não conduzem naturalmente a tal entendimento. Ele também declara que não existe evidência alguma que qualquer dispensacionalista tenha ensinado que tal distinção necessariamente incluísse ideias de diferentes métodos de salvação para os dois grupos. 


O Arminianismo é algo inerente ao Dispensacionalismo


Antes de tudo é necessário afirmarmos que a Soteriologia arminiana é completamente distinta da Soteriologia pelagiana e semi-agostiniana/semi-pelagianismo[1]. Tal preocupação de evidenciar essa distinção se dá pelo fato de autores não-dispensacionalista erroneamente incluir o arminianismo como algo sine qua non ao sistema dispensacionalista, não apenas isso, associá-lo com os sistemas soteriológicos citados anteriormente como se fossem idênticos ou até mesmo sinônimos.

Autores como Keith A. Mathison, Gerstner, e J. I Packer concordam com o “fato” de que o dispensacionalismo andam de mãos dadas com o Arminianismo. Gerstner vai além ao afirma que o dispensacionalismo é inerentemente anti-calvinista pois nega todos os cincos pontos do calvinismo. Como se não bastasse, teve a ousadia de afirmar que o dispensacionalismo é uma variação do sistema arminiano.

Em primeiro lugar, o sistema dispensacionalista, como já relatamos anteriormente, é preocupado primordialmente com as doutrinas da Eclesiologia e da Escatologia. É importante enfatizarmos que  “Isso não quer dizer que os dispensacionalistas não se preocupam com a salvação. Os dispensacionalistas afirmam que a salvação está baseada somente na graça, somente pela fé e somente em Cristo”(Michael J. Vlach). A questão é que o dispensacionalismo não promove ou prega quaisquer visão soteriológica específica; como Feinberg frisa, a ênfase do dispensacionalismo está em outra parte. Consequentemente,  o dispensacionalismo não faz nenhuma contribuição relevante a doutrina da salvação – Soteriologia; não apenas isso, MacArthur ressalta que “o dispensacionalismo puro não tem ramificações para as doutrinas sobre Deus, o homem, o pecado, ou a santificação”. A prova disto é que Autores dispensacionalistas, como por exemplo: Ryrie, Robert L. Saucy, Blaising, bock, Paul Enns e vários outros, escreveram ou participaram de obras sobre o dispensacionalismo, mas jamais afirmaram em tais obras uma “soteriologia dispensacionalista”; muitos deles dedicaram-se a discorrer sobre o tema da salvação, entretanto, curiosamente, não estabeleceram ou discutiram quaisquer “soteriologia dispensacionalista”. Levando em consideração esse fato, Vlach esclarece que “estas obras de líderes dispensacionalistas são importantes porque elas revelam o que está no coração do dispensacionalismo. É significativo que nenhuma destas obras vincula o dispensacionalismo a alguma perspectiva soteriológica”. Isto posto, Vlach enfatiza que é necessário para aqueles que não são dispensacionalistas realizarem uma distinção entre o que encontra-se no âmago do dispensacionalismo e o que autores dispensacionalistas consideram individualmente; ele conclui destacando: “O erro fundamental daqueles que vinculam o dispensacionalismo com certas visões soteriológicas é o de não prestar atenção a essa distinção”. Feinberg concorda com Vlach quanto ao fato de que muitos dos críticos atacam o dispensacionalismo deixando de realizar tal distinção, mas ele também realça que comumente os não-dispensacionalistas atacam o que eles pensam representar o dispensacionalismo ou algo que é defendido por alguns dispensacionalistas do que à lógica do próprio sistema. Portanto, “[...] nem o calvinismo nem o arminianismo está na essência do dispensacionalismo. [...] Esse assunto não está na essência do dispensacionalismo, porque o calvinismo ou arminianismo são muito importantes com referência aos conceitos de Deus, do homem, do pecado e da salvação. O dispensacionalismo torna-se muito importante no que se refere à eclesiologia e a escatologia, mas realmente não sobre aquelas outras áreas” (Feinberg, “Sistemas de Descontinuidade”, p. 79”).

Em segundo lugar, muitos autores não-dispensacionalistas esquecem do fato de que embora seja significante a presença de teólogos arminianos adeptos ao sistema dispensacionalista, ao longo da história[2] e até nos dias de hoje, há inúmeros teólogos calvinistas de cinco pontos que aderiram ao dispensacionalismo, como por exemplo: David L. Tuner, S. Lewis Johnson, Jeffrey Khoon, John MacArthur, James Oliver Buswell – segundo Vlach, “talvez o erudito reformado mais proeminente a assumir a visão dispensacionalista”, etc. Richard Mayhue destaca: “Alguém pode ser calvinista de cinco pontos e ainda assim ser um dispensacionalista consistente”. Ademais, autores não dispensacionalistas como Vern Poythress, George M. Marsden, C. Norman Kraus e até mesmo Wayne Grudem, destacam a estreita conexão histórica entre o calvinismo e o dispensacionalismo. George M. Marsden afirma: O dispensacionalismo era essencialmente reformado em sua origem no século dezenove e, tardiamente no mesmo século, espalhou-se mais entre os calvinistas de orientação reavivada, na América”. C. Norman Kraus escreve: “as afinidades teológicas básicas do dispensacionalismo são calvinistas”.





Notas

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[1] https://lucasamaciel.blogspot.com/2018/12/o-sinergismo-e-depravacao-total-na.html

[2] https://www.chamada.com.br/mensagens/calvinismo_dispensacionalismo.html



Dedicatória:

Dedicado a Sitri Silas e ao Grupo do WhatsApp: Dispensacionalismo Hoje.